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Certamente ainda haverá muita gente que não sabe quem foi Francisco Lázaro. Mas hoje a minha esperança vai no sentido que, depois das homenagens deste fim de semana, muitos tenham passado a conhecer a sua história. Espero que, mesmo aqueles que "só tinham ouvido falar", já conheçam agora com maior detalhe um bocadinho mais da história deste país que, apesar das suas crises, "troikas" e gerais faltas de incentivo com que se depara actualmente, luta para não deixar esmorecer a sua memória, os seus feitos e as suas conquistas, mesmo que, na tentativa de as alcançar, os seus protagonistas tenham pago o preço mais alto (e mais honroso?) que há a pagar: a sua própria vida. Francisco Lázaro foi um deles.
Graças à iniciativa do meu amigo Paulo do site KMEPALAVRAS, à qual aderi sem reservas, foi-me permitido aprofundar bastante mais o pouco conhecimento que tinha sobre o atleta Francisco Lázaro, isto após ter escrito aqui um post sobre quem foi esta pessoa que deu o nome à rua onde moro.
Francisco Lázaro treinava como muitos de nós não se dão ao trabalho de treinar hoje em dia, aproveitando o percurso que fazia diariamente entre a sua casa - uma vila operária outrora existente em Benfica - e o seu local de trabalho - uma modesta carpintaria na Tv. dos Fiéis de Deus, no Bairro Alto. Em São Sebastião da Pedreira, aumentava a intensidade do treino correndo contra os eléctricos "americanos". Sempre que chegava ao destino era premiado pelos gritos do povo que o admiravam: “Força Lázaro!”. Assim nascia o herói do povo lisboeta. Visado com a maior expectativa por parte de quem via nele um potencial vencedor da maratona olímpica, o atleta desde cedo se destacou no atletismo nacional, ao vencer provas e ao estabelecer recordes em distâncias menores, mas que em tudo deixavam antever um grande talento para vingar naquela que é considerada a distância rainha do atletismo.
Tendo entrado na história pela porta da tragédia, representa um tipo de atleta que já não existe: sonhador, resistente e ingénuo. Pagou com a sua própria vida os erros cometidos, que na época eram considerados práticas comuns entre os atletas e que ditaram o fim antecipado na sua participação na Maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, fez este fim de semana 100 anos.
Este fim de semana tivemos a oportunidade de relembrar Francisco Lázaro. Em vários formatos e para todos os gostos. Primeiro com um pouco de cultura geral (que nunca é demais), através de uma homenagem em que cerca de 50 participantes recriaram o percurso de treinos do atleta, correndo entre Benfica e o Bairro Alto, terminando depois na Rua Francisco Lázaro, nos Anjos, em Lisboa. Este percurso foi feito em simultâneo com a cerimónia oficial que decorreu em Estocolmo e onde foi inaugurada uma placa em memória do atleta. Depois, já no domingo, em formato de competição mais à séria, tive o prazer de me juntar aos restantes membros da equipa do Clube Futebol Benfica e participar na corrida Memorial a Francisco Lázaro.
Digo mais à séria porque, para mim em particular, que não participava numa corrida de estrada há alguns tempos, deu-me um enorme prazer poder correr por puro prazer de correr, o mais rápido que me era possível, tal como o malogrado atleta fazia. O resultado foi, para mim - pessoalmente - interessante, pois no final fiquei a saber do que sou capaz de fazer aos 10km de corrida. Por outro lado, o troféu de 2ª Equipa que o Clube Futebol Benfica conquistou foi uma forma bonita de concluir o nosso contributo destes últimos dias.
A questão central, contudo, não está só na homenagem que se fez, nas cerimónias e nas corridas organizadas. O ponto mais importante está, antes de mais, no facto de se reavivar a memória acerca de um marco histórico para a história nacional, aquele que foi um dos primeiros atletas portugueses a participar nuns Jogos Olímpicos e que, apesar de tudo, fê-lo com boas probabilidades de vencer. Recordar um atleta mas também um homem que, vencendo contrariedades, treinava para ser o que era, para atingir o seu objectivo.
A questão central está também em, uma vez reacendida a chama, não a deixarmos apagar. Para este e para todos os exemplos de luta e de trabalho árduo que vemos (e os que não vemos) irem acontecendo, há que incentivar e ajudar no seu trabalho para serem cada vez melhores naquilo que fazem. Este fim de semana já passou, mas é preciso aplicá-lo durante todos os restantes dias das nossas vidas.