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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

30.07.12

UltraMaratona Pro Runner: correr em família


José Guimarães
Muito se escreve sobre os prós e contras de correr. Esta actividade física - aparentemente tão simples - tem incontestavelmente alguma coisa que a todos atrai. Quanto mais não seja a curiosidade daqueles que, do lado de quem não corre, ficam boquiabertos e riem (mas creio que nunca com desdém) com as notícias sobre quem corre rápido como o vento, ou percorre ultramaratonas em distâncias de dezenas ou centenas de quilómetros. Mas correr é, muitas vezes, algo mais do que o acto de calçar uns ténis e fazermo-nos à estrada em passo acelerado. Correr também é trabalhar, lutar, passar por sucessos e fracassos, por muita força vontade e pela completa falta dela. Tal como no nosso dia-a-dia, correr passa muitas vezes por sabermos o que queremos fazer da vida e trabalharmos com esse objectivo na cabeça e no coração. E quando ainda não sabemos o que queremos fazer, nada melhor do que experimentar até descobrir. ultra-maratona-pro-runner-tshirt A maior parte dos artigos que aqui tenho escrito até hoje tem sido inspirada ora em blogs e histórias de pessoas conhecidas, ora em artigos que vejo noutras publicações e que decido partilhar com quem segue este website, normalmente contextualizados em qualquer tema que diga respeito ao desporto, por forma a que sirva de ferramenta com alguma utilidade para uma determinada situação. Também os acontecimentos do dia-a-dia, seja em treinos ou em provas servem de inspiração para escrever algumas linhas sempre que posso. É por isso provável que, depois deste fim de semana, alguma coisa vá mudar. Não que vá deixar de escrever, ou que vá fazê-lo com algum intuito que não seja o que sempre me levou a escrever desde a criação deste site: a partilha com vista à motivação dos outros, ou o meu encontrado "sentido da vida". Mas os acontecimentos das últimas duas semanas e que levaram à minha participação na I Ultra Maratona de Portugal PRO RUNNER, em tudo contribuíram para que eu fosse capaz de definir ainda mais aquele ponto de focagem que referi no primeiro parágrafo deste artigo. Quero com isto dizer que, os próximos posts cujo conteúdo esteja directamente relacionado com a minha actividade enquanto praticante de desporto, talvez (e assim espero que seja) comecem a seguir uma linha cada vez mais definida. E talvez os seguidores mais atentos comecem a perceber - quem sabe até melhor do que eu - onde é que isto tudo irá dar no futuro.

Os treinos e o ginásio

Antes do grande amigo Daniel Júnior regressar a Curutiba, já se falava entre nós do nome do Antônio Nascimento. Visto por muitos como um super-atleta, este nome não passou despercebido aos mais atentos às notícias do mundo do desporto, já que não é todos os dias que temos em Portugal um atleta convidado para participar no Ultraman, uma "ultra prova" que irá decorrer em Setembro no País de Gales e que se assemelha a um triatlo, mas com distâncias aumentadas para: 10 km de natação, 421 km de ciclismo e 84 km de corrida (por esta ordem). O meu interesse em conhecer o Antônio residia no facto que, mais tarde ou mais cedo, se queremos ter algum tipo de evolução, precisarmos de ser acompanhados/treinados por quem perceba a sério da modalidade onde nos inserimos, correndo o risco de, se não o fizermos, não conseguirmos atingir tão cedo e em boas condições a tão desejada evolução. Recordo o exemplo do último caso de satisfação que pude acompanhar (mesmo que só online), do amigo Nelson Barreiros que, depois de ter saído do Trail do Almonda com aquele sentimento de "eu podia ter feito melhor" decidiu regressar ao centro de treinos do Mundo da Corrida, sendo agora um atleta satisfeito, treinando não só adequadamente mas com um sentimento de satisfação pleno (corrige-me Nelson se estiver errado). É portanto muito importante termos não só quem nos treine adequadamente, como nos entenda e seja capaz de nos motivar. E foi na companhia do amigo e companheiro de corridas Luís Trindade que aderi ao treino do Antônio Nascimento, percebendo na pele que tanto a sua "ultra personalidade" como toda a equipa da Hand 2 Hand me poderiam trazer o benefício que eu necessitava para chegar mais longe. O resto dependerá "só" do que eu quiser fazer e do trabalho que eu estou disposto a fazer.

Uma UltraMaratona de 600 km em Portugal?

As duas semanas de treino que tive com o Antônio e a Meire na Academia já serviram para duas coisas que considero essenciais: primeiro serviram para treinar, sentir nos músculos as minhas principais virtudes e fraquezas. Depois serviram também para me sentir "em casa", fazendo aquilo que gosto de fazer e num ambiente onde me integrei totalmente e sem qualquer dificuldade. E duas semanas depois de ter começado a treinar no clube, tive o prazer de fazer parte da equipa que participou no projecto da I Ultra Maratona de Portugal PRO RUNNER, com 600 km. Passo a explicar por partes:

O que é a PRO RUNNER?

A PRO RUNNER é a primeira loja em Portugal especializada e inteiramente dedicada à corrida, nas suas várias vertentes: estrada, pista, triatlo, trail running, etc. A loja, com cerca de 600 m2 é um projecto inovador e contou na sua inauguração com a presença de inúmeros atletas (vejam aqui algumas fotos). Além de ter produtos de desporto de marcas conceituadas, a loja inclui ainda um espaço lounge para os seus clientes, um serviço de apoio técnico na escolha dos produtos e ainda um centro de treino de corrida, onde os cliente poderão ter aulas ou apenas depositar o seu equipamento enquanto se dedicam à corrida, no exterior.

A ultra maratona PRO RUNNER

Para celebrar a inauguração deste projecto, os seus promotores organizaram aquela que foi a primeira Ultra Maratona de Portugal PRO RUNNER, na qual eu tive o privilégio de participar. O projecto consistiu em duas equipas cujo objectivo seria correrem em conjunto 600 km (300 km para cada uma), partindo uma de Vila Nova de Gaia e outra de Portimão, por forma a chegarem à loja PRO RUNNER (no Parque das Nações, em Lisboa) no Domingo, pelas 16h00. A hora da partida foi dada em simultâneo às 09h00 de sábado, dia 27 de Julho. ultra-maratona-pro-runner-jose-pedro-ruaJá aqui escrevi várias vezes que um dos prazeres em se correr uma ultra maratona consiste no facto de, ao início, ser praticamente impossível prever como as coisas vão decorrer: se vamos correr de forma fluída ou não, se o corpo vai colaborar ou - pelo contrário - ter dores e cãibras, se vamos sofrer alguma entorse, se a suplementação energética vai ser adequada, ou até se a alimentação que se teve nos últimos dias nos vai ser benéfica ou, pelo contrário, nos vai trazer problemas impossíveis de controlar. E mais: quanto mais longa é, mais importante se torna gerir tudo o que se faz durante a corrida, porque de facto muita coisa pode acontecer. E esta ultra de 31 horas não foi excepção. Mesmo não relatando em pormenor tudo o que aconteceu (porque seria humanamente impossível escrevê-lo sem ser em vários e extensos capítulos), ficará um ou outro acontecimento guardado na memória para exemplificar ocorrências (e artigos) futuras, até porque tudo é experiência adquirida e a "bagagem" - essa - serve sempre de aprendizagem para outras ocasiões. O ponto que gostaria de deixar bem patente neste post tem a ver, mais do que com a corrida em si, com a partilha que os participantes nesta aventura de dois dias tiveram o prazer de viver. E a partilha tem a ver não só com a corrida (tantas vezes solitária e só acompanhada pelo manto estrelado que nos cobria, enquanto se desbrava o asfalto rumo ao objectivo), mas com os sorrisos de quem, mesmo sem muitas palavras, recorda, já com a saudade no abraço final, o esforço daqueles inicialmente desconhecidos, que consigo "treparam" serras debaixo de mais de 30º de calor, passaram pelas agonias das dores de bolhas nos pés, se superaram porque correram melhor do que estavam à espera, partilharam a sua água para matar a sede ao amigo, procuraram farmácias para curar mazelas, contaram piadas para não adormecer...

Para quê todo este trabalho então?

pro-runner-cartazCorrer é, como dizia no início deste artigo, muito mais do que calçar os ténis e partir. Talvez se correr se resumisse a isto, provavelmente hoje não correria e ainda não entenderia o que li naquele cartaz na montra da loja PRO RUNNER e que diz assim: "As pessoas costumam perguntar-me porque é que corro. O que eu respondo é: se ainda tens que perguntar, nunca irás compreender". Já durante este meu curto percurso enquanto apaixonado e "descobridor" do que é - de facto - correr, encontrei algumas pessoas que me fazem sentir bem neste mundo. Não só no da corrida (até porque muitas vezes corro sozinho e - confesso - gosto de correr sozinho), mas também antes, durante e depois de ser um corredor (se é que me posso considerar tal coisa). Talvez por ter encontrado este grupo onde estão o Antônio e a Meire, por estar a trabalhar com o Luís por algo maior, talvez agora eu sinta que fazem ainda mais sentido os treinos de madrugada, os músculos doridos ou as horas dedicadas aos treino em que não estamos com aqueles que mais gostamos, seja família, namorada(o) ou amigos. Mas que tudo isto que façamos tenha sentido e nos (vos) traga conteúdo para a vossa vida, não só enquanto atletas mas - e principalmente - Seres humanos. No blog "Tudo é possível!!" está uma frase que gostaria de partilhar e que traduz muito do que aqui escrevi: "Através de três métodos podemos aprender a sabedoria: primeiro, por reflexão, que é mais nobre, o segundo, por imitação, que é mais fácil, e terceiro, por experiência, que é a mais dolorosa." - Confúcio Fica a partilha...
26.07.12

Petzl NAO: um frontal potente e inteligente


José Guimarães
E eis que finalmente chega ao nosso mercado a tão esperada novidade em frontais: o Petz NAO. A marca que já nos habituou à sua diversidade e qualidade no contexto dos frontais (para todos os gostos, feitios e carteiras), introduz no mercado não só um dos frontais com a maior intensidade luminosa que existe, mas também um sistema que tanto tem de inovador como de revolucionário: o reactive lighting, que faz com que a intensidade de luz se ajuste automaticamente às necessidades, de acordo com a proximidade aos objectos. Isto permite que o utilizador, seja em que situação for, não tenha que ajustar manualmente a intensidade de luz, já que o aparelho faz isto sozinho de origem, de forma standard ou acordo com as especificações que também se podem fazer através do sistema operativo da Petzl. Sim, este frontal tem um sistema operativo... Fiquem com as primeiras impressões sobre este frontal, num primeiro contacto exclusivo entre a S-Trail e o De Sedentário a Maratonista. Clique para abrir o vídeo no YouTube Clique para abrir o vídeo no Vimeo Podem comprar o frontal Petzl NAO na loja S-Trail por €128,45. Se aproveitarem os 10% de desconto do Cartão Trail, o preço final fica em apenas €115,60  
23.07.12

Lixo nas corridas: a saga continua!


José Guimarães

Todos nós que aqui se reencontram gostam de correr e gostam de partilhar com os outros as coisas bonitas que a corrida nos traz, seja com companheiros de corrida, amigos, conhecidos, familiares, ou até mesmo com os que não correm. O que diríamos então se, um dia, víssemos o nosso melhor amigo a meio de uma prova, sacar daquele gel energético e, depois de o usar, deitar a embalagem já vazia para o chão em vez de para o lixo?

Felizmente isso ainda nunca me aconteceu, mas já aqui expressei várias vezes a minha indignação por ver que ainda há quem teime (ouse?) em fazê-lo. É certo que haverá alguns acidentes: já me aconteceu usar um gel ou comer uma barra energética, prender a saqueta vazia no cinto e acidentalmente deixá-la cair. Felizmente, sempre que isto me aconteceu, reparei e tive oportunidade de apanhar o meu lixo do chão. Outros há a quem isto pode acontecer e não tenham esta oportunidade. Tudo bem... acontece. Mas não acredito que a quantidade de lixo com que de vez em quando nos deparamos nas provas seja tudo fruto destes acasos. As organizações da maior parte das provas em que participo têm cuidado em colocar sacos de lixo nas zonas de abastecimento e muitas têm até bem explícito no regulamento que quem for apanhado a deitar lixo para o chão pode ser imediatamente desclassificado. Mas alguém já viu de facto esta regra a ser aplicada na prática?

Alguns (maus) exemplos

Das últimas provas que fiz, a Serra da Freita foi claramente uma das mais duras. Para aguentar uma prova desta natureza é naturalmente necessária a ingestão regular de alimentos, alguns sob a forma de gel ou barras energéticas. Aqui fiquei com muito má impressão dos atletas que, num ambiente de uma beleza natural tão impressionante e particularmente sensível, ainda deixem rasto do seu comportamento partilhado com os outros. Mas se eu pensava que esta prova tinha sido um mau exemplo por parte de alguns atletas, este fim de semana pude constactar ao longo dos últimos 15 km da Ultra Maratona Melides-Tróia algo que ninguém deseja quando decide passar um bonito e descansado dia de praia, ou seja, lixo e mais lixo espalhado ao longo da costa, semi-enterrado na areia, à mercê de ser apanhado pela maré ou mesmo já a flutuar na água do mar. É uma prova dura... duríssima (não é para todos correr 43 km na areia com mais de 30º de temperatura), mas como aqui há alguns meses disse no artigo "Qual a diferença entre um atleta e alguém que corre?", corremos o risco de, um dia, em vez de fazermos uma prova deste calibre com o apoio e incentivo de quem assiste enquanto apanha sol com a família, sermos alvo de maus olhares e de reprovação, porque afinal fazemos todos parte daquele grupo de pessoas que vem correr para a praia e sujar tudo à sua passagem. Para mim isto é inconcebível.

Sujar na estrada ou sujar no trail

Quando corremos na estrada, é mais aceitável que deixemos o lixo (sejam embalagens de gel vazias ou garrafas de água) no percurso, já que há muito mais possibilidade de limpeza eficiente e rápida logo após a passagem da prova. Isto não acontece numa extensão de praia com 43 km ou no cimo de uma montanha ao longo de uma ultra maratona de 100 km. Numa prova de trail running, coloquem o lixo numa bolsa do vosso "camelbak" reservada para o efeito, ou levem um pequeno saco de plástico para o irem armazenando. Eu uso uma bolsa de rede amovível, que faço alternar entre o "camelbak" ou o cinto de hidratação, conforme seja necessário. Isto permite-me ir guardando as embalagens vazias na bolsa até chegar ao próximo posto de abastecimento, onde esvazio o conteúdo. Uma dica para as organizações é que coloquem alguns baldes/sacos de lixo mais afastados da zona do abastecimento, no caminho da continuação da prova (50m ou 100m à frente), já que muitas vezes o retorno à prova ainda se faz enquanto se acaba de consumir algo, como uma barra, uma banana ou uma garrafa de água. Finalmente, recordo-me que quando me juntei à "família" do trail running portuguesa, uma das coisas que realmente apreciei foi a regra de "não deixar rasto", ou seja, deixar tudo intacto, como antes de lá estarmos. Sempre me orgulhei de fazer parte de um desporto que, além da vertente competitiva, muito se orgulha do meio natural em que se integra. Compete-nos principalmente a nós, que dele usufruímos, contribuir activamente para a sua preservação.
19.07.12

Cancro da pele: como correr e evitá-lo


José Guimarães
Já é ponto assente que todos aqueles que dedicam uma parte do seu dia (ou todos os dias) a correr ao ar livre, beneficiam de um melhor estado de saúde, um menor risco de sofrer de doenças do coração, diabetes, entre outros benefícios que tanto se abordam actualmente. Mas correr regularmente também significa que estamos mais expostos aos raios ultravioletas, que é o maior factor de risco para se desenvolver cancro da pele. Aliás, quem passa mais tempo que o normal exposto ao sol - como é o caso dos corredores - tem um maior potencial de risco para desenvolver cancro da pele, incluindo melanoma. Só nos Estados Unidos, todos os anos são diagnosticados 3,5 milhões de novos casos de cancro de pele, tornando-o na forma mais comum de cancro. isto significa que 1 em cada 5 americanos irá desenvolver cancro da pele algures na sua vida. E enquanto o melanoma - o formato mais mortífero - contabiliza-se somente como 5% dos casos, causa 75% das mortes relacionadas com cancro da pele. E a incidência de melanoma está a aumentar. A sobrevivência depois do melanoma depende de quão cedo é detectado, já que nos casos de melanomas mais profundos têm uma maior possibilidade de disseminação, causando a morte. As boas notícias é que as taxas de sobrevivência aumentaram nas décadas mais recentes: em 1996, 92% dos pacientes com melanoma sobreviveram, enquanto que essa taxa entre 1950 e 1954 era somente de 49%. As más notícias? Nos Estados Unidos há uma morte por hora causada por melanoma.

Manutenção preventiva

Felizmente para todos aqueles de nós que precisam do seu momento ao ar livre, podemos prevenir o cancro da pele - só temos que ser preventivos e vigilantes. As sugestões vão no sentido de correr mais cedo ou então ao final do dia, para evitar a exposição nas horas de maior pico do sol. Também se deve usar sempre um chapéu, treinar o mais possível em áreas com sombra e, sempre que seja possível, usar protector solar. Aplicar o protector solar (pelo menos um factor 50, de preferência) cerca de 30 minutos antes de uma corrida irá permitirá estar protegido durante algumas horas. As localizações mais comuns para o cancro da pele são no nariz e nas orelhas, já que são as zonas mais expostas, até mesmo debaixo de um chapéu. Isto é particularmente importante, já que quase sempre nos esquecemos de colocar protector nas orelhas, por exemplo. O melanoma pode ocorrer em qualquer zona do corpo, até mesmo em zonas protegidas do sol. A utilização de protector encontra-se no centro de estudos científicos controversos, já que múltiplos estudos afirmam que alguns ingredientes destes produtos podem produzir determinadas reacções quando expostos ao sol e que danificam o DNA - o que é percursor do cancro. Alternativamente, existem no mercado protectores solares sem químicos, que podem ser uma boa opção para corredores preocupados com estes riscos. O vestuário também é importante. Enquanto alguns corredores optam por correr sem camisola nos dias de mais sol, encoraja-se sempre a sua utilização, mesmo sendo desconfortável. Existem mesmo no mercado camisolas de manga comprida adequadas ao calor e ao sol, fabricadas com materiais que permitem a respiração e transpiração da pele através do material, por forma a que não se sinta o calor. Existem mesmo alguns corredores de longas distâncias que optam sempre por utilizar vestuário de manga comprida, afirmando que a sua utilização pode ser ainda mais fresca do que expor o corpo directamente ao sol.

Detectar cedo os sinais

Aprender a identificar os sinais na pele potencialmente cancerígenos pode ser a chave para obter tratamento mais cedo, evitando assim complicações maiores. Alguns médicos recomendam mesmo fazer exames mensais à pele, bem como visitar um dermatologista uma vez por ano, principalmente no caso dos corredores. Qualquer sinal que pareça mudar de cor, forma ou dimensão, que sangre ou dê comichão, ou que apareça onde não havia nenhum, deverá ser examinado por um dermatologista. Fonte: Trailrunnermag
16.07.12

Homenagens de fim de semana. Mas não só!


José Guimarães

Certamente ainda haverá muita gente que não sabe quem foi Francisco Lázaro. Mas hoje a minha esperança vai no sentido que, depois das homenagens deste fim de semana, muitos tenham passado a conhecer a sua história. Espero que, mesmo aqueles que "só tinham ouvido falar", já conheçam agora com maior detalhe um bocadinho mais da história deste país que, apesar das suas crises, "troikas" e gerais faltas de incentivo com que se depara actualmente, luta para não deixar esmorecer a sua memória, os seus feitos e as suas conquistas, mesmo que, na tentativa de as alcançar, os seus protagonistas tenham pago o preço mais alto (e mais honroso?) que há a pagar: a sua própria vida. Francisco Lázaro foi um deles.

 

rua_francisco_lazaro_lisboa  

 

Graças à iniciativa do meu amigo Paulo do site KMEPALAVRAS, à qual aderi sem reservas, foi-me permitido aprofundar bastante mais o pouco conhecimento que tinha sobre o atleta Francisco Lázaro, isto após ter escrito aqui um post sobre quem foi esta pessoa que deu o nome à rua onde moro.

 

Um pouco de história

franciscolzarop

Francisco Lázaro treinava como muitos de nós não se dão ao trabalho de treinar hoje em dia, aproveitando o percurso que fazia diariamente entre a sua casa - uma vila operária outrora existente em Benfica - e o seu local de trabalho - uma modesta carpintaria na Tv. dos Fiéis de Deus, no Bairro Alto. Em São Sebastião da Pedreira, aumentava a intensidade do treino correndo contra os eléctricos "americanos". Sempre que chegava ao destino era premiado pelos gritos do povo que o admiravam: “Força Lázaro!”. Assim nascia o herói do povo lisboeta. Visado com a maior expectativa por parte de quem via nele um potencial vencedor da maratona olímpica, o atleta desde cedo se destacou no atletismo nacional, ao vencer provas e ao estabelecer recordes em distâncias menores, mas que em tudo deixavam antever um grande talento para vingar naquela que é considerada a distância rainha do atletismo.

 

Tendo entrado na história pela porta da tragédia, representa um tipo de atleta que já não existe: sonhador, resistente e ingénuo. Pagou com a sua própria vida os erros cometidos, que na época eram considerados práticas comuns entre os atletas e que ditaram o fim antecipado na sua participação na Maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, fez este fim de semana 100 anos.

 

As homenagens

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Este fim de semana tivemos a oportunidade de relembrar Francisco Lázaro. Em vários formatos e para todos os gostos. Primeiro com um pouco de cultura geral (que nunca é demais), através de uma homenagem em que cerca de 50 participantes recriaram o percurso de treinos do atleta, correndo entre Benfica e o Bairro Alto, terminando depois na Rua Francisco Lázaro, nos Anjos, em Lisboa. Este percurso foi feito em simultâneo com a cerimónia oficial que decorreu em Estocolmo e onde foi inaugurada uma placa em memória do atleta. Depois, já no domingo, em formato de competição mais à séria, tive o prazer de me juntar aos restantes membros da equipa do Clube Futebol Benfica e participar na corrida Memorial a Francisco Lázaro.

corrida_memorial_francisco_lazaro

Digo mais à séria porque, para mim em particular, que não participava numa corrida de estrada há alguns tempos, deu-me um enorme prazer poder correr por puro prazer de correr, o mais rápido que me era possível, tal como o malogrado atleta fazia. O resultado foi, para mim - pessoalmente - interessante, pois no final fiquei a saber do que sou capaz de fazer aos 10km de corrida. Por outro lado, o troféu de 2ª Equipa que o Clube Futebol Benfica conquistou foi uma forma bonita de concluir o nosso contributo destes últimos dias.

 

E agora... o que que fica?

A questão central, contudo, não está só na homenagem que se fez, nas cerimónias e nas corridas organizadas. O ponto mais importante está, antes de mais, no facto de se reavivar a memória acerca de um marco histórico para a história nacional, aquele que foi um dos primeiros atletas portugueses a participar nuns Jogos Olímpicos e que, apesar de tudo, fê-lo com boas probabilidades de vencer. Recordar um atleta mas também um homem que, vencendo contrariedades, treinava para ser o que era, para atingir o seu objectivo.

 

A questão central está também em, uma vez reacendida a chama, não a deixarmos apagar. Para este e para todos os exemplos de luta e de trabalho árduo que vemos (e os que não vemos) irem acontecendo, há que incentivar e ajudar no seu trabalho para serem cada vez melhores naquilo que fazem. Este fim de semana já passou, mas é preciso aplicá-lo durante todos os restantes dias das nossas vidas.

12.07.12

Teste ao frontal Silva Trail Runner


José Guimarães
silva-trail-runnerJá há algum tempo que não faço nenhuma review a um equipamento para corrida, o que para mim é incompreensível, dado o material que tenho e utilizo frequentemente, como é o caso sobre o qual aqui vou falar: trata-se do frontal Silva Trail Runner, um equipamento destinado, como o próprio nome indica, aos praticantes de trail running. E já vem tarde, pois já aconteceram alguns eventos em que um frontal fazia parte da lista de material obrigatório. Mas outros estão para breve, portanto quem ainda não se decidiu, vai perfeitamente a tempo de comparar algumas hipóteses.

Ergonomia

Este Silva Trail Runner parece ter tido no seu desenvolvimento o cuidado de proporcionar não só uma boa experiência de iluminação, como o máximo conforto que é possível retirar deste tipo de equipamentos. É um frontal bastante leve e ergonómico, equipado com uma fita elástica forte e de grandes dimensões, à qual foi adicionada uma banda de silicone anti-deslizante no interior, o que lhe permite manter-se sempre na mesma posição, mesmo em situações de corrida em terrenos mais acidentados e técnicos. O pack de baterias (duas pilhas AA) é separado da zona da lâmpada, ficando preso à fita elástica na parte de trás da cabeça. Combinado com o peso quase inexistente da secção frontal com a lâmpada, o conjunto forma um equipamento perfeito para correr durante bastante tempo sem que a sua presença incomode minimamente.

A luz

O frontal Silva Trail Runner possui uma lâmpada com a tecnologia Silva Intelligent Light® technology, incluindo um modo de luz forte para iluminar distâncias maiores e um modo de holofote mais amplo, ideal para uma visão mais próxima aos objectos. O modo mais forte é bastante luminoso mas suave, envolvendo bem os objectos e provocando poucas sombras, o que é ideal para corridas e caminhadas em montanha, mas também para uma utilização mais rotineira, como campismo, já que o modo mais económico proporciona a luz ideal para uma utilização comum. A comutação entre os modos faz-se através do único botão existente na lâmpada, que também permite aceder ao modo de sinalização intermitente. Nota negativa para a inexistência de um modo de luz vermelha (ideal para manter a capacidade de visão noturna). Gostaria de deixar um destaque para a boa estanquecidade de todo o conjunto (segundo a norma IPX-6), em particular nos materiais usados que denotam um elevado nível de qualidade de construção e permitem uma utilização por vezes mais grosseira.

Veredicto final

Embora já com algum tempo de existência no mercado, todas as características deste frontal fazem dele um equipamento fácil de utilizar e bastante acessível, com uma relação qualidade-preço actualmente muito favorável, tendo em conta as suas excelentes capacidades de utilização geral. Mas o tempo passa e existem actualmente no mercado frontais mais leves, mais baratos e até com maior potência e autonomia. No entanto, o Silva Trail Runner e a sua boa qualidade/alcance de luz fazem dele o frontal ideal para a maior parte de situações de utilização outdoor. silva_headlamps_45lumens silva_headlamps_24h silva_intelligent-light led_headlamp_135g silva_headlamps_80lumenssilva_headlamp_ipx6
09.07.12

Correr com calor no Trail do Almonda


José Guimarães
Estava calor! Estava mesmo muito calor! Pelo menos, do pouco que me lembro de correr, foi o meu primeiro trail debaixo de calor. Isto no universo de quem corre há pouco mais de 1 ano (e claro que não começou pelos trails), do pouco que me lembro, creio que o maior escaldão que apanhei foi na Meia Maratona do Douro Vinhateiro, em 2011, onde estavam mais de 30º... a minha primeira meia maratona. E agora fazer 30 km na Serra d'Aire com cerca de 28º foi muita fruta.

Sair de casa, correr e voltar para casa

Pessoalmente gosto mais de sair de casa com a malta no dia anterior, fazer a viagem até ao local da prova, tratar dos dorsais, dormir e depois acordar já no local, equipar e alinhar na partida, fresquinho! E a paródia, o convívio próprios deste tipo de eventos, tornam tudo mais apetitoso. Mas neste caso, pouco mais de 1 hora separam Torres Novas de casa, portanto a estratégia de hoje (há estratégia para quase tudo o que se faz na vida) foi acordar cedinho e chegar à partida para o Trail do Almonda já preparados para mais uma prova. Lá nos esperavam algumas caras conhecidas. Muita gente no pavilhão logo pela manhã, o que deu para trocar alguns dedos de conversa antes da partida, enquanto se levantavam os dorsais e as lembranças que a organização e patrocinadores deram aos atletas. De salientar não só a muita e útil informação sobre a região, bem como a muito útil toalha alusiva ao município de Torres Novas, que decerto irá ser vista na mão de muitos atletas em futuros eventos.

A corrida e o calor

O dia previa-se limpo e já se começava a sentir o sol a aquecer. Não fosse o vento forte que se fazia sentir e certamente muitos já escolhessem as sombras para esperar pelas 9h00, hora a que foi dada a partida, em conjunto para os participantes do trail (30km), do mini-trail (12km) e caminhada. Iniciando a corrida no alcatrão, cedo cortámos para terra batida e nos começámos a fazer (todos) ao trail. Aqui talvez esteja o único pormenor menos bom a apontar à organização desta prova, que foi o facto de ter optado por conduzir os participantes logo ao início para uma descida bem íngreme em single-track. Ora se eu tivesse partido logo no grupo da frente, não teria havido problema. Mas por acaso até sou daqueles que gosta da confraternização e de partir no meio do grupo de amigos, fazer 1 ou 2 minutos todos juntos, despedir-me e começar a correr a minha prova. Acontece que quando uma prova inicia com todos os atletas em simultâneo (facto de que eu até sou apreciador) e opta logo por "afunilar" num single-track, o resultado só pode ser um verdadeiro engarrafamento. E foi o que se verificou, tendo eu e outros participantes que até queriam correr ficado impedidos de o fazer, já que a descida inicial do percurso era bastante íngreme e na dúvida é preferível optar pela segurança, em detrimento da corrida propriamente dita. Portanto em autêntica hora de ponta, mais não nos restou que esperar, descer a um ritmo mais lento, aproveitar uma ou outra nesga para ultrapassar alguns participantes e ver do cimo do monte os primeiros atletas lá em baixo, já a correr bem distanciados e a atacar a estrada rápida após a descida. Mas foi, como disse, o único senão a apontar a uma organização que se mostrou em tudo omnipresente e ciente do que fazia. E isto tanto ao nível do percurso (que ora era muito rápido - com velocidades de 3'20/km - como técnico, como duro de subir), como ao nível da presença ao longo do mesmo, dos abastecimentos (acho que não me lembro de ver tantos abastecimentos numa prova como nesta) e da presença sempre tranquilizante de elementos dos bombeiros e pronto-socorro. Assim sendo, só nos restou fazer o nosso papel e correr o melhor possível, o que, se ao início foi relativamente simples, passados os 20 primeiros quilómetros e atingidas (pelo menos para mim) as 11h00 da manhã, tal já se estava a revelar uma tarefa algo dura. Talvez os 70 km do fim de semana passado na Serra da Freita ainda estivessem a pesar nas pernas, mas o que é certo é que senti falta de ritmo, falta de ar, de forças... desta vez optei por comer menos nos abastecimentos e beber mais, não parando tanto tempo e tentando assim levar a corrida o mais possível num ritmo certo e constante, gerindo o esforço nas subidas mais íngremes puxando pelo cabedal nas zonas planas e nas descidas. Também acho que a escolha dos ténis não foi a melhor, já que apesar do conforto dos Trabuco me ter ajudado a maior parte do tempo, principalmente na velocidade, senti muito a falta da estabilidade e dureza dos Raptor nos trilhos mais técnicos e cheios de pedras, mas principalmente nas descidas, sempre muito divertidas, rápidas e... duríssimas!

Puxar até acabar

E foi esta a constante até à meta: puxar onde se podia, gerir esforço quando era necessário, apanhar umas lebres e servir de lebre para outros... e beber água, beber muita água até ao fim. Reforço sempre a importância deste pequeno pormenor (H2O) tantas vezes descurado por muita gente e que é a base fundamental para que não aconteçam males maiores em provas com estas características, como caimbras (ao fim de tanto tempo ainda não sei como se escreve correctamente esta palavra), lesões, desidratação, vómitos... é uma base importantíssima, já que permite que o corpo se mantenha a funcionar em condições e, só assim, absorva depois todos aqueles nutrientes e suplementos que lhe damos, como os magnésios, o gel e as barrinhas energéticas em que tanto dinheiro gastamos e que, sem a base bem "lubrificada", de pouco servirão. O final da prova, confesso, já foi feito em esforço. Os pouco mais de 1.000m finais foram salvos pela visão da meta montada no pavilhão, lá em baixo, à esquerda, no fundo da última descida que ainda faltava fazer. Aqui já nada custava. Foi sentir o vento forte e abafado que soprou constantemente ao longo de todo o percurso e embalar serra abaixo até aos últimos metros de alcatrão que nos levaram à meta. Ao fim de 3h14 de corrida, senti a falta de uns treinos mais rápidos e constantes que me permitissem superar com mais facilidade condições de prova mais agrestes e um ritmo mais consistente do princípio ao fim. Foi uma boa prova, fruto de uma equipa que mostra saber o que faz, o que se traduz num bom número de participantes que, não duvido, lá estarão novamente no próximo ano para se tentarem superar um bocadinho mais. Porque é assim a natureza da corrida, não dá para evitar.
06.07.12

Trail Running: dicas para a primeira corrida


José Guimarães
Correr está na moda e ninguém o pode negar. No entanto, a modalidade de corrida já não trata só de corridas de estrada. Atualmente vemos cada vez mais pessoas que optam por correr fora de estrada, no meio da natureza e mesmo em montanha. A isto se chama de trail running, modalidade que atrai atletas de todas as categorias, incluindo atletas de elite. Só nos Estados Unidos, quase 6 milhões de pessoas correm regularmente em provas de trail running, um aumento de 36% nos últimos 5 anos. E outros 37 milhões de pessoas confessam correr fora de estrada algumas vezes por ano. Esta adesão crescente ao trail running pode ser explicada pela componente mais natural e algo espiritual ligada à experiência de correr fora de estrada, mas também pelo desafio físico num ambiente natural e sereno. O trail running exige um leque mais abrangente de músculos que a corrida de estrada, sem as lesões dos movimentos repetitivos de impacto no pavimento duro. Tornozelos, anca, coxas e músculos abdominais fortes, todos são necessários para um maior equilíbrio. Abordar subidas e descidas desenvolve resistência e as subidas mais difíceis aumentam a capacidade de concentração.

Dicas para o Trail Running

Aqui ficam algumas dicas para quem quiser ter sempre boas experiências no trail running: 1. Correr alto! Correr, especialmente nas subidas, pode ser extenuante, mas se adoptarem uma postura curva, o esforço será maior para os pulmões poderem fazer o seu trabalho. Nas subidas, concentrem-se nos metros mais à vossa frente e não nos vossos pés. Se for necessário, caminhem um pouco, enquanto procuram manter uma postura erecta. Não se preocupem, pois até os corredores mais experientes caminham em subidas íngremes. 2. Encurtem a amplitude da passada nas subidas. E apoiem todo o pé, já que subir só nas pontas dos pés irá sobrecarregar os gémeos. Saltem por cima de obstáculos. Manterem-se em cima de rochas ou troncos não só é fatigante como pode ser perigoso. 3. Soltem-se nas descidas. Evitem travar muito e permitam-se voar um pouco, abrindo os braços para ambos os lados. Mas tentem não cair! Se perderem o controlo, faça slalom de um lado para o outro, como se estivessem a esquiar. Não se inclinem para trás e não se apoiem em demasia nos calcanhares para travar (já que garantirá uma bela queda de rabo no chão). Tentem sempre aterrar rapidamente e suavemente. 4. Planeiem os movimentos. Vejam o trilho como um tabuleiro de xadrez. Planeiem os vossos passos nas lombas, buracos, areia suave e árvores caídas. Tudo antes de as alcançar. 5. Concentrem-se no tempo e não tanto na distância. 6. Evitem correr riscos. Corram sempre acompanhados ou informem alguém que vão correr para "tal" sítio e quando pensam regressar. Abasteçam-se e levem água, um casaco de protecção e o telemóvel. Quando forem a passar por alguém mais lento, avisem-no com antecedência com um grito e dizendo por que lado vão passar. 7. Encontrem o vosso equilíbrio. As descidas escorregadias dirão de que material são feitas as vossas pernas. Exercitem-nas bem nos intervalos entre provas com exercícios adequados. 8. Atenção à orientação. As coisas podem parecer diferentes no mesmo sítio, se estiverem em direcções opostas. Parem um pouco para verificar quando uma estrada se divide no local onde se encontram. Procurem por sinais de trilhos e pistas, identifiquem as rochas, árvores ou monumentos no horizonte. 9. Não deixem rasto. Mesmo durante as corridas, os atletas de trail running preocupam-se mais em guardar o seu lixo do que nas corridas de estrada, em que a limpeza está facilitada. Mantenham-se nos percursos marcados, não encurtem os trilhos, evitando assim erosões desnecessárias. 10. Sintam-se como uma criança novamente.
USUFRUAM E DIVIRTAM-SE!!!
  Fonte: Active.com
03.07.12

Serra da Freita: correr como Sálvio Nora


José Guimarães
Confesso que não sabia quem era Sálvio Nora. Neste sábado, por ocasião do Ultra Trail da Serra da Freita, celebrou-se uma homenagem a este homem, pelo que depois tive que ir pesquisar.

Quem foi Sálvio Nora?

Pelo que pude ler na pouca informação disponível online, descobri num post da autoria de Fernando Costa, publicado no fórum O Mundo da Corrida, que Sálvio foi um homem muito estimado por todos quantos andam no mundo do desporto e era visto como um exemplo para muitos. Foi funcionário das Finanças de Matosinhos. Exerceu cargos em várias colectividades desportivas do concelho e por onde passou procurou sempre incentivar e manter em constante actividade o maior número de pessoas na prática do desporto. Jogou voleibol no Leixões e F.C. Porto até aos 40 anos (só um craque poderia jogar até esta idade no topo deste desporto), tendo ganho mais de 10 títulos nacionais, diversas vezes internacional e mais tarde Selecionador Nacional de Juniores. Dedicou-se ao atletismo assim que abandonou o voleibol e era uma presença quase obrigatória nas provas de atletismo, especialmente as disputadas no norte do país. Mais tarde tornou-se num adepto das corridas na natureza e seria visto como um ícone nas corridas de montanha. Numa fase mais recente passou também a praticar Orientação em representação do Grupo Desportivo 4 Caminhos (GD4C). Era amigo do seu amigo e, acima de tudo, estava sempre pronto a ajudar e a colaborar com todas as modalidades desportivas. O seu espírito de bon-vivant conseguia cativar todos os que o rodeavam. Pelo que também pude perceber, tinha alma de escritor, de poeta. Não sei de que faleceu, ou porque razão seres assim tão queridos por outros partem deste mundo, mas tenho a certeza que deixou um vazio perto daqueles que tocou e inspirou. Parte dos seus textos encontra-se aqui: http://www.omundodacorrida.com/Salvio.htm Por tudo isto, quer-me parecer que o local onde se desenrolou esta prova foi em tudo a homenagem perfeita a um homem que, como tantos de nós, se sentia em comunhão quando se via rodeado por este meio natural.

O local

Não conhecia a Serra da Freita. Ou melhor, não conhecia o local fisicamente, mas parece que por tudo o que já ouvira falar dele deveria adivinhar como seria. Mas não, enganei-me redondamente. Todos os que praticam corridas de montanha, ou trail running, ouvem falar aqui ou ali do Ultra Trail da Serra da Freita. E normalmente não pelas melhores razões, mas sim porque esta é uma das provas mais duras do nosso calendário de trail running. E o que significa aqui a dureza? Significa que numa prova com 70 km de extensão, muitos deles são feitos em descidas acentuadas, outros tantos em subidas íngremes, alguns atravessando rios, rochedos, poucos realmente planos, mas quase sempre com muitos (e grandes) obstáculos à mistura. No meio de tudo isto, há tempo para desfrutar de umas das mais bonitas zonas paisagísticas do nosso país, com extensões a perder de vista, montanhas e vales lindíssimos, sempre verdes e a respirar vida para onde quer que se olhe. E posso ousar dizer que, independentemente das dificuldades sentidas por uns e outros, ninguém fica indiferente a toda a envolvente que nos acompanha durante as intermináveis horas de duração desta prova.

A corrida no meio da serra da Freita

[caption id="attachment_1764" align="alignright" width="300"]utsf-serra-freita-grupo Diana, Jorge, Ana, Pedro, eu e Inês[/caption] Após algumas peripécias protagonizadas mais uma vez por este grupo que presta mais atenção ao convívio (e não é afinal de contas isso o que mais interessa?) do que aos aspectos logísticos que estas coisas envolvem - desta vez chegámos ao local da prova sem sítio para dormir -, lá nos apresentámos sábado de manhã no parque de campismo para levantar os dorsais e alinhar à partida. Não sem antes nos sentirmos tomados por uma autêntica onda meio de desânimo, meio de pânico e nervoso miudinho, quando durante a noite fomos acordados por um autêntico dilúvio. Sim, depois de um dia formidável e de um final de tarde de 6ª feira lindíssimo no meio das primeiras vistas da serra, a noite foi de chuva e a manhã poucas melhoras trazia. Mas como bons desportistas que somos, lá ganhamos coragem e nos fizemos ao desafio, vencendo o desânimo com música e a chuva com os impermeáveis. Foi já no parque de campismo que tivemos contacto e ficamos com a curiosidade de saber quem afinal teria sido Sálvio Nora, curiosidade suscitada pelo enorme cartaz de homenagem ao mesmo e pelos comentários escassos dos outros atletas que conseguíamos apanhar aqui e ali. Mas com pouco tempo até ser dado o tiro de partida e ainda com o controlo inicial para se fazer, lá alinhamos uns com os outros, aproveitando os últimos momentos para algumas despedidas com os que ficavam, para reencontrar no meio do pelotão algumas caras amigas e desejar umas quantas "boa sorte" e "boa prova" aos que iam tentar superar o desafio que nos aguardava. utsf-serra-freita-partidautsf-serra-freita-grupinhoNão vou conseguir descrever em pormenor o que foram para mim mais de 14 horas de prova, nem sequer cronologicamente, já que a uma certa altura os momentos confundem-se e a sucessão de quilómetros fundem-se numa mistura onde só ficam flashes de acontecimentos marcantes, pelo que de melhor ou pior tiveram. Portanto partilho esses momentos, aqueles que considero terem sido para mim as aprendizagens que tiro destes eventos.

Devagar se vai ao longe

Já diz o ditado... e como já tinha ouvido falar tanto deste duro desafio, decidi abordar os primeiros quilómetros de forma calma e muito ponderada, aproveitando para aquecer os músculos e soltar bem as pernas, mordendo o impulso de acompanhar os primeiros atletas que rapidamente desapareciam já lá bem à frente. E assim as primeiras horas foram passadas na companhia do bem disposto Pedro Quina, misturando sempre a nossa conversa com a de outros atletas, formando assim os tais grupos que neste tipo de provas longas sempre se divertem, trocam opiniões e se distraem, fazendo com que as primeiras horas pareçam minutos e que os primeiros quilómetros não passem de mais um daqueles treinos simples que todos estamos mais que habituados a fazer. Mas logo nos começámos a aperceber do que nos esperava. Depois da primeira dezena de quilómetros ter passado de forma fácil, já na famosa descida do Carteiro começámos a sentir em que consistia a dureza da prova. As descidas que normalmente são abordadas de forma rápida (pelo menos por quem sabe), aqui talvez consistissem a pior parte do percurso. E o que se costuma dizer nestas lides é que a descida é pior que a subida, porque ao fim de alguns quilómetros o impacto acumulado pode-se revelar fatal para superar todos os obstáculos seguintes, que aqui não seriam poucos. E como o ditado diz para se ir devagar, convinha não acelerar em demasia e resistir mais uma vez à tentação de voar. Um dos pontos engraçados desta prova está nas inúmeras travessias de cursos de água, ora cursos em que se alcança a outra margem com um salto, ora mais largos, em que nos víamos obrigados a escolher as melhores pedras (de preferência não escorregadias) para não molhar já os ténis. Claro que esta coisa de não molhar os pés é sempre relativa, porque mais à frente esperava-nos pelo menos uma travessia com água no mínimo até à cintura. Na minha opinião, estas coisas ou se fazem com boa disposição ou nem sequer convém enfrentar. E quem quer um conselho, a melhor forma de manter a boa disposição é relativizar algumas das dificuldades que se vão apresentando. E as travessias dos rios são umas dessas dificuldades que convém relativizar. É engraçadíssimo ver os atletas no início cheios de cuidados para não molhar os ténis nos riachos e depois da primeira travessia a sério (onde alguns até escolhem ir a nado) já quase ninguém escolhe ir a seco, pois realmente o caminho mais curto (não necessariamente mais seguro) é ir pelo meio da água.

Atenção à segurança

A segurança é aqui (na água mas não só) um aspecto a ter em conta, já que assisti a algumas quedas, umas mais feias que outras, umas que não passaram de arranhões e outras que tiveram direito a feridas abertas. Para quem participa como para quem organiza, há que pensar que quando se corre se arrisca ou mais ou menos e, se se arrisca demais, aumenta-se o nível de risco, e isto pode significar não só terminar a prova mais cedo como arranjar uma lesão grave que nos atire para fora desta actividade durante uns tempos. Portanto o meu conselho, o de alguém que teve muito tempo para assistir a um pouco de tudo, vai no sentido da prevenção, ao invés do remedeio. Este é um ponto interessante e que se deve abordar vezes sem conta, já que a segurança faz-se ao longo de todo um percurso, não só na corrida propriamente dita como em tudo o que a acompanha. No meu caso, corri com uma ferida ainda meio feia na mão, pelo que levei na mochila os cuidados necessários para a mesma: Betadine, compressa, gaze... e se deu jeito a mim, deu também a mais duas pessoas, um com uma ferida e outro com uma entorse. E posso dizer que de futuro, em provas onde a dificuldade técnica seja assim tão elevada, vou-me fazer acompanhar de um mini-kit com estes cuidados primários. Afinal não é mais do que faço em casa ou no meu automóvel, certo? utsf-serra-freita-serraFelizmente tudo o resto correu bem. Os cenários dignos dos melhores postais ou dos écrans panorâmicos com a melhor tecnologia 3D sucediam-se um após o outro e só depois do sol se pôr atrás do horizonte montanhoso é que foi possível deixar de prestar algum tipo de atenção a esta envolvente. Aqui já eu corria há algumas horas sozinho, tendo deixado os meus companheiros de corrida (e de conversa) para trás, já que o meu corpo me pedia para correr cada vez mais. Foi também engraçado assistir a este desenvolvimento ao longo de tantas horas, o que só prova que a estratégia de começar a prova mais lento resultou, juntamente com os abastecimentos bem feitos e ponderados (o que eu agradeci no km 50?! pela bifana, a boa canja e o cafézinho no final), pois terminei a correr com força e ânimo e (juro) com vontade de não terminar.

A prenda que todos nós levamos para casa

Recordo novamente que o Sálvio gostava da natureza. Reafirmo como eu gosto e, com certeza, como todos os que fazem trail running gostam da natureza. E mais do que lugares no pódio, medalhas ou diplomas, talvez a melhor prenda que todos trouxemos para casa depois de mais este fim de semana tenham sido aqueles maravilhosos momentos de boa disposição, de contacto uns com os outros e com aquela bonita envolvente. Porque é aquilo que deixamos para trás que nos faz sempre regressar. E nas palavras do homem que se homenageou neste fim de semana: "À euforia provocada pelo contacto com a natureza e pela competição sucede a chatice do quotidiano. Que pena não podermos permanecer sempre num mundo fantástico..." - Sálvio Nora