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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

Dom | 31.03.13

A chuva, a preguiça, o desportista e o seu plano de treinos

José Guimarães
  Sexta feira choveu... Sábado fez um dia de sol formidável... Hoje é domingo e chovem cães e gatos. Tenho um plano de treinos para cumprir, uma perna esquerda "coxa" e uma vontade de sair por aí a correr sem parar que me deixa ansioso à brava! O que fazer? Neste momento, os pensamentos que me voam pela cabeça parecem um filme do Peter Greenaway. E, tal como estes, também nestas coisas das corridas, ou se gosta muito ou não se gosta nada. É exatamente por gostar muito que fico assim neste estado. Irra!!! Os meus treinadores já não sabem como me aturar. Se antes estava com problemas respiratórios e não podia puxar um pouco mais pelo cabedal que começava a desfazer-me em tosse, agora já não estou, mas parece que substituí um mal por outro. Agora é a perna esquerda que demora a apresentar melhoras. Continua com aquela dor estranha da tíbia até ao glúteo e no esforço fica parece que presa... Estou à espera de 2ª feira para marcar uma consulta com um osteopata (aquele médico que - segundo dizem - vê muito para além do óbvio). Será que ajuda? Não sei, mas já estou por tudo. Porque apetece-me correr e, como não posso, tenho-me vingado no tapete do ginásio e na bicicleta estática. Alguma coisa tenho de fazer para combater a preguiça de não fazer nada, certo?

Uma novidade: o triatlo

Esta semana começo um outro estilo de vida. Na realidade não é uma mudança radical, mas vou adotar um outro ritmo e a incluir novos desafios. O ritmo do que tenho feito até agora vai ser, sem dúvida, mais lento. No entanto vai custar mais. Esta coisa do triatlo é, para mim, um mar nunca dantes navegado... pelo menos não à séria. Está na hora!

Natação

Este sábado voltei à piscina para nadar 1.000 m seguidos sem parar. Já não nadava há alguns meses e, depois das últimas semanas a respirar mal, este regresso revelou-se meio penoso. Principalmente porque escolhi mal o dia e a hora para nada e, como tal, tive que partilhar 25m de pista com mais umas quantas pessoas, de estilos e níveis completamente heterogéneos. Mas dê por onde der, esta é uma modalidade que vai regressar ao meu plano de treinos, mais concretamente 3x/semana. Até porque preciso de sentir que deslizo e não que me arrasto como um trator num terreno lamacento. Ajuda precisa-se portanto... e muita!

Ciclismo

Além da natação, o ciclismo também vai fazer parte da minha semana de treinos. Não que já tenha uma bicicleta. Aliás, devo mesmo ser o único triatleta que conheço que não tem uma bicicleta, mas enfim... Felizmente existem as "estáticas" do ginásio, para poder ir habituando as pernas ao ritmo circular, por agora nuns intermináveis 50 km e 60 km sem sair do lugar... ufa!!! Ao lado disto, correr na passadeira é um passeio no parque.

Corrida

E as corridas, onde entram? As corridas - essas - mantêm-se, embora para já com menos volume de quilómetros. E têm mesmo que se manter. Afinal de contas, o meu primeiro grande desafio deste ano está reservado para finais de Maio na ilha da Madeira e há que não esquecer que tenho de treinar adequadamente para esta data, recuperando o atraso provocado por estas últimas semanas doentias. Depois do MIUT, ainda tenho que escolher outra prova para ir buscar mais 3 ou 4 pontos, necessários para me qualificar para o meu "sonho-com-data-marcada-para-o-próximo-ano"... já sabem né? Também estou sempre a falar disto: o UTMB. Sugestões para essa prova? Já me vieram sussurrar ao ouvido algo como "Ehunmilak!!!"... será? Parece-me muito em cima... mas ele há malucos para tudo. Isto tudo para partilhar o meu atual estado de espírito, que ora tropeça no altamente motivado, como no altamente chateado por querer e não poder. Como dizia o meu amigo Nuno outro dia, com calma e concentração naquilo que se quer, tudo se consegue. Tudo? Sim, tudo! Seja a correr, a nadar ou em cima de uma bicicleta, novos desafios espreitam no horizonte. Dos desportivos e dos outros. E assim sendo, estaremos por cá para os receber! De braços abertos.
Qua | 27.03.13

Dicas de corrida para a Primavera

José Guimarães
  Eu sei que está a chover. Mas a Primavera já começou, certo? As temperaturas mínimas já não são geladas, o sol quando aparece já aquece e, afinal, esta é a época alusiva a despertar, a renascer... no nosso caso a sair para a rua! Para os que apostam no ginásio e nas passadeiras durante os dias de Inverno, está na hora de aproveitar. Os dias até já estão a ficar maiores! Mas enquanto as temperaturas cada vez mais amenas chamam por nós, convém não esquecer algumas dicas importantes para correr (exato) na Primavera:

O clima pode ser bastante imprevisível

Lá diz o ditado: "Em Abri, águas mil." Vistam-se com camadas que possam remover ou vestir enquanto fazem o vosso treino. Evitem usar algodão e invistam em materiais sintéticos, capazes de eliminar a transpiração, por forma a se manterem secos e quentes. E cuidado com a chuva!

Cuidado com o piso

Treinar em superfícies mais macias, como gravilha ou relva, pode ser ótimo para minimizar o impacto da corrida nas pernas. No entanto, tenham cuidado redobrado durante esta época de chuvas. Para evitar escorregar e torcerem um tornozelo, prefiram superfícies mais secas ou com maior atrito.

Não deitem fora os ténis velhos

Se são daqueles que gostam de calçar um par de ténis novos para ganhar uma motivação extra (eu gosto!), esperem mais um bocadinho antes de se separarem de vez dos ténis velhos. Esperar que um par de ténis seque para podermos ir correr pode ser penoso nesta época carregada de humidade. Desde que os ténis velhos tenham ainda um pouco de vida útil, porque não mantê-los para aquelas corridinhas em dias de chuva? Normalmente os ténis de corrida devem ser substituídos após cerca de 500 km e não devemos sacrificar nem o conforto nem a segurança. Mas se os ténis ainda tiverem algum suporte e rasto na sola, porque não dar-lhes aqui uma "festa de despedida"?

Respeitem o vosso tempo de adaptação

Correr numa passadeira pode ser mais fácil do que correr na rua à chuva, ao frio e subir encostas inclinadas. Adaptem-se gradualmente, mantendo um ritmo constante e ajustado a um nível de dificuldade aceitável. Não se preocupem se verificarem que o vosso ritmo diminuiu um pouco desde a época passada. Mantenham um registo dos vossos progressos, pois desta forma poderão auto-motivar-se facilmente. Eu usei muito o Runkeeper inicialmente, mas há tantas aplicações no mercado que o difícil não será correr, mas escolher qual delas a mais adequada para nos fazer companhia.

Divirtam-se!

Quem me conhece sabe que não me canso de dizer isto. O objetivo de correr é o de nos mantermos saudáveis e em boa forma física. Ter mais energia ao longo do dia, ver um reflexo agradável no espelho e bater recordes de tempo pode ser muito motivador. Mas se são daquele tipo de corredor que vêm isto mais como uma tarefa do que como um desejo, porque não experimentam mudar um pouco essa abordagem? Se estão aborrecidos, encontrem um percurso novo para treinar, alterem o horário de corrida do final do dia para o nascer do sol, conduzam até um local diferente e mudem de cenário... vão correr para uma praia! Às vezes é o melhor incentivo que podemos ter, para passar do "tenho que fazer" para um "quero fazer!" Têm mais dicas? Pois venham elas!!!  
Ter | 26.03.13

Resolver andar à chuva!

José Guimarães
  Porque para muitos os últimos dias têm sido pródigos em desculpas para não se correr, ou porque está frio, ou (principalmente) porque está a chover, deixo-vos com algo que me aterrou hoje no colo assim de repente. Um conjunto de palavras armadas em livro, palavras tão simples quanto deliciosas, que me fazem recordar todas aquelas valentes molhas por que já passei: durante algumas provas memoráveis, com o Zé e o Paulo a treinar para os Chafarizes, durante as Padarias, ou aquele dia em que resolvi ir até Monsanto sem olhar para o céu a preparar uma valente trovoada... Porque correr também se faz disto, de grandes molhas... deliciem-se:

"Resolver andar à chuva! Criamos um alvoroço e uma irritação desnecessários quando bufamos de aborrecimento ao mesmo tempo que nos tentamos manter secos durante uma forte chuvada. Como é libertador abandonarmos todas as ideias de secura e entregarmo-nos à chuva! Não corra, ande devagar. Olhe para cima, sorria e saboreie a sensação da água vinda do céu a refrescar-lhe a cara desgastada pelas preocupações. Quanto mais molhado ficar, mais livre se irá sentir. Mal se encontre em casa, a pingar o tapete, o riso irá dominá-lo. Dispa o seu fato completamente encharcado e corra para a casa de banho (tanto melhor se por acaso não estiver sozinho). Está completamente encharcado e grandes pingos de água escorrem-lhe pelo nariz. Seque-se, envolva-se num roupão e devore um pacote de biscoitos e uma chávena de chá a ferver no sofá."

livro-dos-prazeres-inuteisIn, O Livro dos Prazeres Inúteis, de Tom Hodgkinson e Dan Kieran.

  Agora vão lá correr se fazem favor...
Seg | 25.03.13

Corri com o Ludovico Einaudi

José Guimarães
  Trilhos do Pastor... Será que os pastores têm uma vida tão dura assim? Tão ondulada e cheia de pedra? Valentes pastores. Antes de adiantar mais uma linha que seja, terei naturalmente que explicar a razão de ser deste título. Há algumas semanas atrás, o José Guimarães escreveu um artigo relatando o seu treino em Sintra com um verdadeiro fenómeno da corrida,  intitulando-o de "Corri com o Dean Karnazes". Perceberam?!

Trilhos com pautas

Confesso que não faço ideia se o Ludovico Einaudi corre, mas pouco importa. Hoje correu comigo. Depois do concerto na sexta-feira no CCB fiquei em modo "peixe-balão". De coração cheio. É impressionante como o Universo se mobiliza e coloca neste mundo gente tão talentosa. Gente que coloca o seu talento ao serviço de outros, para se sentirem mais... mais de coração cheio! Todos os corredores experientes dirão que é má ideia ouvir música num treino ou prova de trilhos. Os sons da natureza merecem ser ouvidos na sua genuinidade quando temos oportunidade, dizem. Assim aconteceu nas minhas 4 anteriores experiências em trilhos. Vejo-me obrigada a discordar depois de ter vivido o que vivi hoje.

Susana, Hollywood e Analice

Durante cerca de 4 km corri ouvindo a minha respiração e passada. Troquei algumas palavrinhas com algumas caras que já vou reconhecendo de outras provas em estilo "trilhos". Depois... Bem, depois... Não ouvi os sons da natureza, é certo, mas a visão ficou mais nítida e vi tudo a 5D (isto existe?). O olfato apurou também e distingui o cheirinho de cada folha, flor, arbusto ou árvore  que me rodeava. Quanto à audição... O piano de Einaudi, acompanhado dos violinos e da guitarra clássica fizeram-me sonhar enquanto corria. Fugia de tropas francesas que queriam dizimar índios. Fui o Daniel Day Lewis no filme "The Last of the Mohicans". Fui uma escocesa rebelde que fugia das tropas inglesas. Fui o Mel Gibson em "Braveheart". Fui gladiadora e vingava a morte de pobres e oprimidos. Fui o Russel Crowe em "The Gladiator". Fui tudo isto ao som de "Life", "Run", "Walk", "Experience" e, a minha preferida, "Waterways". Chegada a um dos pontos mais altos da prova, o Einaudi ofereceu-me o tema "Divenire". A Serra d'Aire e Candeeiros ofereceu-me mais de uma dezena de moinhos de vento, que "diveniram" verdadeiras bailarinas, dançando com elegância e sincronia ao som do piano e violinos. A dada altura vi uma cabecinha ao fundo - é a Analice! Acelerei um pouco. Recolhi a música e falámos um pedacito. "A menina siga, que vai bem", disse-me. Respondi-lhe que não tinha pressa. Voltou a insistir e acabei por passar. Voltei à minha música e, depois deste encontro, viajei até ao deserto. Que coragem. Escusado será dizer que alguns quilómetros mais tarde, voltou a ultrapassar-me. Tentei seguir-lhe no encalço, lembrando-me que a senhora que corria à minha frente tem mais 30 anos do que eu, pelo que eu podia, no mínimo, esforçar-me um pouco mais. Não resultou. Perdia-a de vista!

Azedas e caminhos... amargos!

"Preciso do meu isotónico, onde anda ele?!", pensei. Bem pensado, bem feito. Deparo-me com um pequeno campo pintalgado de azedas. Agarrei num molho e fui roendo alegremente. Sabem lá como gosto de azedas. Cheguei ao abastecimento das "papinhas" sem dorsal. Havia-se soltado logo no primeiro km da prova e optei por o dobrar e prender no cinto das garrafinhas de água. Nem dei por o ter perdido. Ainda estava nas minhas justificações e palhaçada junto do elemento do controlo quando chega um atleta com o meu dorsal na mão. Estava safa. Quatro gomos de laranja e um cubo de marmelada depois, agradeci e prossegui. Bem, verdade seja dita, prossegui muito devagar porque o que me aguardava não era próprio para meninas. Para ajudar, começa a chover desenfreadamente. Subi como pude, desejando que acabasse depressa, mas havia sempre mais um pedaço para subir. Quando finalmente inicia a descida, as pernas e joelhos estão tão massacrados que o corpo prefere antes continuar a subir. Acho que desliguei depois desta parede. Depois de a subir e de a voltar a descer. Faltavam ainda 5 km. Quem corre em trilhos sabe bem que pode demorar-se uma hora a percorre-los. E eu desconhecia o que me esperava. A criticidade do percurso que se seguia assentou na pedra e não na altimetria. Pedra, tanta pedra. Bem podiam ser aquelas redondinhas e macias que nos massajam os pés na praia, mas não. Estas pedras decidiram ser angulares, bicudas, feias, más, terríficas, odiosas. Mas não havia outro caminho. Segui. E perdi novamente o dorsal.

O cem chega finalmente à meta

Chegada à meta lá disse numa voz sumida que era o cem. "Sem número?", perguntaram. "Não, o meu dorsal é o cem!". Nunca um dorsal foi tão falado. Na meta esperam-me os meus amigos. Já todos chegaram, já se aprontaram e querem almoçar, pois claro. Alguns minutos depois, tocam-me no ombro. Volto-me e lá está ele! O meu "cem", pelas mãos do mesmo atleta, eleito o atleta-recupera-dorsais dos Trilhos do Pastor - o Manuel! Eu que sempre "despachei" os dorsais das provas para o contentor da reciclagem, guardarei este com carinho. E voltarei ao pastoreio no ano que vem. Valeu bem a pena.
Sex | 22.03.13

Atleta Solitário

José Guimarães
  De cada vez que oiço o “Surfista Solitário” do Gabriel, o Pensador, os pensamentos fogem para a minha green, há tanto tempo encostada na parede da arrecadação e a precisar de sal. Na realidade, não sei quem precisa mais de água salgada - se a prancha, se eu. Oiço o “Surfista Solitário” e penso também como a letra, devidamente adaptada, poderia constituir o hino dos triliões de corredores que por aí andam. Corrijo, correm. Corredores solitários. Aquilo que sou na maioria das vezes e, confesso, gosto verdadeiramente. Quem me conhece sabe bem que não sou “bicho-do-mato” ou da estirpe de gente anti-social, mas há qualquer coisa realmente especial no ato de correr comigo própria. Talvez o dia-a-dia seja demasiado ruidoso, demasiado cheio de gente, demasiado veloz – atenção, nenhum destes adjetivos deve ser entendido de forma negativa – e, por isso, privilegie alguns momentos só. Como eu, há muitos corredores que apreciam correr sozinhos. Por vezes brinco dizendo que sou corredora independente. Sou uma Susana por conta d’outrém em tantas coisas – o Governo e o “patrão”, por exemplo – que procuro na corrida o modelo “por conta própria”, para equilibrar a balança. Corredores solitários… Somos nós quem decide o horário, somos nós quem define o percurso, somos nós quem impõe o ritmo. Ouvimos a nossa música ou simplesmente os sons da natureza. Usamos o tempo para pensar no que quisermos. Ou simplesmente não pensar de todo e concentrar exclusivamente na passada e na respiração. Nós mandamos. E sabe bem. Gabriel, não te zangues comigo, mas vou ensaiar a “devida adaptação”, numa modesta reciclagem, já que me falta 99% do teu talento e arte da poesia. Embora me considere uma corredora e não uma atleta, a segunda opção é mais melódica, pelo que será a versão selecionada para este promissor hit.

Olhei pra estrada, pra não me perder de vista E vi um caminho solitário, seguindo sem parar Como se fosse ele o corredor O caminho olhou pra mim, me convidou, me convidou a entrar Oferecendo o alcatrão, a areia e o cascalho sem pudor E eu que não sou bruxa, mas entendo de milagre Fui correndo sobre a estrada do jeito que só quem corre sabe

Acorde num domingo, tome o seu café Pegue os seus ténis, tome o seu som Reze com fé e vai correr E vai correr! Solitário Atleta (repetir)

Caminho doce caminho, vasto e profundo, mais vasto é o meu coração Que não cabe nesse mundo e precisa transbordar Sprintar não é preciso, é preciso é rolar Nada parado, tudo em movimento O chão é o meu tapete e o céu é o meu teto O tapete me puxando e eu lá dentro, acelero e acelera o batimento Devagar, devagarinho, ao longe vou chegando Cada louco tem a sua loucura Eu corro por isso, esquecendo a contratura A serotonina me chama, eu não resisto Sei que a corrida tem a sua maneira de transformar Uma lenta tartaruga numa lebre, parece feitiço A serotonina me chama, eu corro atrás disso

Solitário Atleta (repetir)

Acorde num domingo, tome o seu café Pegue os seus ténis, tome o seu som Reze com fé e vai correr E vai correr! Solitário Atleta (repetir)

Cheguei na serra, olhei pra serra, entrei no trilho Entrei no trilho, olhei pra rampa, entrei na rampa Entrei na rampa e fiz a rampa até ao fim Entrei no trilho que corre na minha aldeia O meu trilho não é um trilho qualquer Do meu trilho eu saio de cabeça feita E na minha serra uma cascata perfeita sorrindo pra mim Mais perfeita do que a cascata mais perfeita Adivinha meu desejo de água pura e gélida Me observando, trilhando por aqui e por ali Cheguei na água, entrei na água e logo mergulhei Cada músculo e tendão das minhas pernas Beleza da natureza, uma maravilhosa surpresa Corredor virando sapo, um sapo com pernas de gente Continuando, trilho abaixo, heroicamente!

Solitário Atleta (repetir)

É isso aí, é isso aí, é isso aí!

Qui | 21.03.13

A corrida, a dor e o vício

José Guimarães
Já aqui muito foi escrito sobre as boas sensações que temos quando corremos. É uma espécie de vício que se apodera de nós e não nos larga mais. Se assim não fosse, porque é que corremos mesmo quando há o risco de nos magoarmos ou de prejudicarmos a nossa própria saúde? Há quem diga que é das endorfinas e inclusive já foram feitos estudos - muito pouco conclusivos - à atividade cerebral dos corredores. Ainda há bem pouco tempo a Susana falava aqui no site do vício da corrida e agora bem recentemente, depois de ler o livro do Dean Karnazes, apercebi-me que há de facto aqui algo mais do que - simplesmente - correr. Desta vez não vou escrever, vou transcrever. Faço-o simplesmente porque o que o Dean escreveu bate tão certo com aquilo que sinto quando corro, que quase não dava para ser dito de outra forma. E se chegarem ao fim e vos apetecer mais, já sabem, comprem o livro. Recomendo vivamente! Sendo assim aqui fica o excerto... aguardo os vossos comentários: "As endorfinas são compostos opióides poderosos, produzidos pela glândula pituitária e pelo hipotálamo durante certas ocorrências que requeiram esforço, como o exercício físico, a dor, o consumo de comida picante e, topem esta, durante um orgasmo. Semelhantes aos opiáceos quanto à capacidade de produzir um alívio da dor e sentimentos de bem-estar, as endorfinas funcionam como analgésicos naturais. Isso deixa uma dicotomia interessante. Correr causa dor, mas também a cura. Então por que ocuparmo-nos com uma atividade que causa desconforto, apenas para exigir mais dessa mesma função para conseguir alívio? Não será essa a definição do vício? Talvez. Esse argumento pode parecer válido se estiverem felizes por passar a vida a viajar na zona de conforto. Porém, há pessoas que são atraídas pelas mudanças de humor dramáticas - baixos graves e profundos seguidos de episódios explosivos de uma alegria suprema. Qualquer pessoa que tenha corrido uma maratona percebe isto sem qualquer esforço. Davis Wessel, do Wall Street Journal, escreve: «Se Van Gogh ou Mozart tivessem tomado Prozac, teriam sido poupados a uma agonia depressiva, ou teria o mundo sido privado da sua arte magnífica?» A sociedade moderna - particularmente a indústria farmacêutica - diz-nos que a dor deve ser eliminada. Não tenho assim tanta certeza. As revelações mais profundas dos corredores ocorrem nos momentos em que a dor aperta mais. E se mudássemos a nossa mentalidade e convidássemos a dor a fazer parte da nossa vida e a encarássemos à nossa maneira, em vez de tomar um comprimido para a evitar? Afinal de contas, a dor é inevitável. No entanto, sofrer é uma opção. Em vez de procurar conforto, os corredores aproximam-se do caos abismal. Quando o potencial avassalador e debilitante da dor se apodera do corredor, este luta para superar e comandar a própria força que o ameaça pôr de joelhos. «A obsessão com a corrida é realmente uma obsessão com o potencial para viver cada vez mais», escreveu o grande filósofo e corredor George Sheenan. A corrida cria oscilações que induzem grandes explosões de criatividade e perspicácia. Acredito que essas mudanças dramáticas produzem força de caráter. Assim como uma vida sem problemas não faz de ninguém forte nem bom, as estradas a direito não fazem um bom corredor. À medida que o corredor luta contra a vontade de parar, também aprende a dominar a sua mente. Ao superar a adversidade, vai ficando a conhecer melhor o funcionamento da sua mente. A vida torna-se maior, mais ousada, mais cheia de potencial. «Entre as dificuldades existem oportunidades de crescimento», escreveu Einstein. Já disse isto antes: há magia na infelicidade. Nós, os corredores, desejamos sempre mais. A nossa discórdia emocional aumenta de cada vez que nos aproximamos dos limites. Nada parece acalmar o apetite insaciável para viver cada vez mais. Nunca estamos satisfeitos. Vício? Talvez. Será que isto é mau? Decidam vocês."
Sab | 16.03.13

Um iogurte fora do prazo

José Guimarães
Uma das coisas que mais consumo por causa da corrida são iogurtes. Não iogurtes gregos, nem de pedaços, mas daqueles naturais e magros do Lidl (desculpem a publicidade), baratos como tudo e sem sabor a nada. Estes iogurtes são uma boa base de alimento para um desportista, porque são pouco gordos e podemos juntar-lhes cereais, frutos secos, aveia, fruta, proteína, o que for... sabem sempre bem! Quem nunca comeu um iogurte com uns flocos de aveia e mel antes de uma prova, então não sabe o que perde. Hoje seria a manhã de regresso aos treinos. Depois de duas semanas a aturar uma garganta irritada, uma tosse constante e uma péssima forma física, que praticamente não me deixou correr ou treinar no ginásio de forma tranquila, estava ansioso por voltar a colar os ténis à estrada. Decidido, acordei às 07h00 em ponto, equipei-me e fui preparar o pequeno almoço. Abri o frigorífico para ir buscar um iogurte e vi que um deles tinha passado de validade. Em semanas normais de treino, eu consumo iogurtes como se não houvesse amanhã. Em média talvez coma um ou dois por dia. Como tal, encontrar no frigorífico um iogurte fora de validade, só podia querer dizer que algo andava errado com o meu dia-a-dia. Neste caso, quer dizer que tenho treinado pouco... na realidade, não tenho treinado nada. Aí o sentimento apareceu. Eram 07h30, tinha acabado de acordar e já estava frustrado. Sim, frustrado porque aquele iogurte azedo lembrou-me que não consegui cumprir nada do que estava planeado fazer naquelas duas últimas semanas. Mas esse era exatamente o estado de espírito que não podia tomar conta de mim. Não se diz nos livros de auto-ajuda que temos que canalizar as energias negativas e transformá-las em algo positivo? Dito isto, rapidamente passei de gajo frustrado para ser aquele gajo que pega nos maus sentimentos e os transforma em algo de construtivo. Decidi então que aquela manhã seria mesmo (mesmo!!!) a manhã de regresso aos treinos. Estava feito! Fiz uns flocos de aveia com água, mel, montes de canela, comi uma banana, peguei no saco e saí para a rua. Fui ter com a malta que corre. Depois de 10 simples quilómetros devagarinho, em ritmo de conversa, entre risos, tosses e cuspidelas (perdoem-me os mais ecológicos, mas até é biodegradável), voltei para casa satisfeito e bem disposto como já não me sentia... há duas semanas! Cada vez mais acho que a tal frase que o Dean tanto falava é verdade: "Quando tudo o resto começar a falhar, começa a correr!" Foi o que fiz hoje.
Sex | 15.03.13

Nutrição pela noite dentro

José Guimarães
  Graças à dinâmica que existe entre o sono e o exercício físico, torna-se realmente possível que os nossos músculos cresçam durante o sono. Se o soubermos fazer da forma correta, podemos usar ao máximo o tempo em que estamos a dormir para desenvolver ou reparar a massa muscular, rejuvenescendo o corpo e a mente, enquanto perdemos gordura corporal. O facto é que, ao contrário do que se possa pensar, quando estamos a trabalhar muito no ginásio, não estamos propriamente a desenvolver os músculos ou a ficar mais fortes. Isso acontece depois, quando descansamos. Depois de um treino de resistência, a síntese proteica nos músculos mantém-se alta nas 24 horas seguintes. Durante este período de recuperação, os músculos e fibras tornam possível que haja uma concentração mais elevada dessa síntese proteica nas estruturas que sofreram mais carga. Isto significa que os músculos que mais trabalhámos durante o treino são aqueles que vão ter mais atenção nesta fase e, dessa forma, vão ser os que se vão desenvolver melhor, por forma a se adaptarem ao exercício desse dia. Então, se isto é mesmo verdade, porque é que normalmente negligenciamos tanto esta parte importante do dia? Sim, estou a falar das 7 ou 8 horas de sono diário que todos devemos ter. E porque é que muitas vezes jejuamos durante a noite e depois tentamos compensar isso com uma refeição que quebra com esse jejum? Comer um bom pequeno almoço não vai - por si só - fazer uma grande diferença. Precisamos de pensar bem no que fazemos com todas essas horas (tantas vezes desperdiçadas) que se situam entre o momento que vamos para a cama e o momento em que nos levantamos na manhã seguinte. Durante esse jejum que fazemos durante a noite, uma vez que o corpo não consegue obter todos os nutrientes e energia que necessita através da comida, a tendência é que ele os vá obter da forma que lhe seja possível, o que normalmente se traduz em sacrificar os músculos em busca dos aminoácidos necessários para as diversas funções e energia. Desta forma, se não estivermos carregados com os nutrientes que desenvolvem os músculos, então não só não estaremos a desenvolver nenhuma massa muscular, como até poderemos estar a perdê-la, uma dupla nota negativa que irá fazer o efeito contrário ao que pretendemos. Já sabemos então que o corpo está bastante programado para desenvolver e reparar músculos durante o sono. Portanto a única coisa que necessitamos de fazer é dar-lhe os materiais para ele fazer bem esse trabalho. Se o fizermos da forma certa, podemos usar ao máximo o nosso sono de beleza para desenvolver massa muscular, reparar e rejuvenescer o corpo e a mente, bem como perder gordura corporal.

Proteínas: nutrição durante a noite

Tomar proteínas à noite, mesmo antes de nos deitarmos, pode até não ser uma má ideia. Apesar de podermos comer alguns alimentos ricos em proteínas (como ovos, ou peito de frango grelhado), muitas pessoas optam antes por um batido, porque é bastante mais fácil e mais rápido de preparar e tomar. Afinal de contas, além de podermos usar os batidos de proteína como suplementos para a nossa dieta diária, eles são assim também muito convenientes. Quer decidam comer alguma coisa sólida ou simplesmente beber um batido de proteína antes de se deitarem, há algumas considerações importantes sobre o tipo de proteína que devem ter em conta. Se vão comer algo sólido, não será assim tão importante, já que a comida sólida irá demorar mais tempo a ser digerida. No entanto, se forem tomar um batido, talvez seja interessante adicionar algum alimento com alguma gordura, de propósito para atrasar a digestão. O leite é normalmente a forma mais comum de o fazer. Muitas pessoas misturam o batido de proteína com leite, sem consciência do que obtêm quando o fazem. Os batidos "Whey" ditos normais são digeridos de forma muito rápida pelo organismo. Portanto, quando bebemos um batido antes de ir dormir, este é absorvido rapidamente como água. Por isso é que se recomenda que logo após o exercício, os batidos sejam misturados com água ou algum tipo de sumo (açucares simples que são digeridos muito rapidamente). Desta forma a proteína alcança os músculos tão rapidamente quanto possível, após uma carga de exercício. Quanto se trata de tomarmos a proteína à noite, misturá-la com leite vai permitir que o processo digestivo se arraste por mais algum tempo, sendo a proteína absorvida pelos músculos muito mais lentamente ao longo da noite, durante o sono e descanso. O leite contem "whey" e caseína, sendo esta última uma proteína de digestão mais lenta. Portanto, misturar o batido com leite não só vai adicionar alguns gramas de proteína, mas também fazer com que o corpo a absorva durante um período de tempo mais longo. E é exatamente isto que é necessário fazer quando se toma proteína à noite, já que o corpo vai estar durante um longo período de tempo sem outro tipo de alimento. Mesmo que a proteína seja feita com água, se for tomada com algum tipo de gordura saudável irá fazer o mesmo efeito de aumentar o tempo de digestão. Boas sugestões para isto são, por exemplo,  frutos secos, como as amêndoas.   Fonte: Bodybuilding.com FitnFly
Qui | 14.03.13

Correr com Batom

José Guimarães
 

Batom ou bâtons?

Sim, leram bem. Eu escrevi batom. Não escrevi "bâtons" (à la française) ou bastões (à la portugaise)!... Gostam do vermelho forte do batom "Moulin Rouge"? Então podem continuar a ler. Caso não tenham qualquer gosto particular pela cor ou produto, convido-os a desistir. Ou eventualmente ficar mais um pouco. Quem sabe estas palavras vos possam vir a ser úteis. De toda a forma, este texto tem um foco muito particular. Miúdas. E graúdas também. Por isso, escreverei para elas. Ainda estão aí? Eu sabia que os homens iriam ficar. Ainda assim, continuarei a escrever para elas.

A primavera a chegar... e a seguir... O verão!

Eventualmente ainda não se terão dado conta, mas os dois primeiros meses do ano já passaram. O tempo voa efetivamente e, não tarda, estarão a acordar de manhã cedo, desejando colocar os pezinhos descalços na areia quente. E, quando esse dia chegar… Já sabemos. Vão protestar com o espelho e com o bikini do ano passado, que terá tido a ousadia de encolher durante o outono e inverno, enquanto repousava candidamente na gaveta do roupeiro. Fiquem atentas porque vão querer saber mais sobre o que a Sofia Novais de Paula e o José Guimarães prepararam, pensando nesse dia e no vosso bikini. Correr pode ser tão divertido quanto delinear cuidadosamente o batom. Não sei se correr com bastões é divertido – nunca experimentei -, mas correr, com ou sem batom, vos garanto, é das melhores coisas que nos podemos oferecer a nós próprias. De resto, atrevo-me a dizer que é muito mais fácil correr do que não esborratar o batom no processo de maquilhagem matinal. Já não sou miúda, é certo, mas às vezes gosto de pensar que sim. Talvez a corrida me tenha tornado mais nova. Diz-se por aí que a corrida acelera o metabolismo. Por ser uma atividade de alto impacto, envelhece mais rapidamente quem corre. Teorias há muitas. Seja como for, prefiro chegar mais depressa a velhinha, mas sentindo-me bem, do que o contrário.

O tempo, "ai e tal", não tenho tempo...

Sou mãe de duas crianças pequenas. Por isso não se atrevam a dizer “ai e tal, não tenho tempo”. Trabalho a tempo inteiro. Mais uma vez vos digo. Ter trabalho (e remunerado) é coisa de gente com sorte, por isso nada de desculpas. Comecei a correr há cerca de 2 anos. Não tinha relógio nem marcas no piso, mas devo ter corrido cerca de 4 km. Não foi divertido. A sério. Não teve qualquer graça. Ainda assim, não parei. Dois dias depois repeti a dose. E outros dois dias depois. E assim sucessivamente. Entretanto já lá vão cerca de 800 dias. Não andarei longe da verdade se vos disser que, em 500 deles, calcei os ténis e fui correr. Por aqui, por ali, por onde calhou. Adquiri um relógio ”xpto” um ano depois de ter começado a correr. Ainda não completou 365 dias de vida e diz-me que já queimei 61.118 kcal nas minhas corridas. Ora se não tivesse corrido, onde as teria guardado? Pensem nisso. As calorias não são aqueles “bichinhos que dormem nos nossos armários e, durante a noite, encolhem as nossas roupas”. A caloria é uma unidade de medida de energia. Logo, caloria é energia. Não sou muito dada a química e física, mas é fácil concluir que não nos fará bem acumular tanta energia. Há que a queimar. O corpo e a mente irão decerto agradecer. Queimem-na como quiserem. Eu sugiro que o façam correndo. Em média, numa corrida leve de 8 km – nada de pressas – queimamos 400 kcal. Ora agora sim – serão menos 400 bichinhos a povoar e a conviver no nosso organismo, roubando o espaço que tantas outras coisas boas merecem.

Anda tudo louco ou isto da corrida é mesmo bom?!

Estéticas e calorias à parte, já se interrogaram porque anda meio mundo a correr desvairadamente pelas ruas desta cidade? As mensalidades dos ginásios não encaixam no orçamento, é certo, mas… Será só isso? E… Já ouviram porventura algum desses desvairados dizer que começou a correr mas depois desistiu? A corrida liberta muito mais do que gotinhas de suor, acreditem. Se não constava da vossa lista de resoluções para 2013, vão seguramente querer fazer um upgrade. Fiquem atentas. Está na hora. Vão começar a correr. Para terminar, reproduzo algumas palavras que encontrei num excelente artigo sobre corrida do jornal “O Expresso”, publicado em setembro de 2012. Está tudo lá. Na altura, a poucas semanas de partir em busca dos meus primeiros 42.195 metros, sublinhei todos os testemunhos que me tocaram. De mães, de pais, de profissionais. Gente comum, gente da ribalta. Mas tudo gente que corre. "É uma espécie de higiene pessoal, uma disciplina de que não abdicam, e que encaixam acrobaticamente em horários blindados". "Não posso negar que sou viciado na corrida". "Viajar para correr passou a ser um ritual". "Preciso é de música de carrinhos de choque". "E é mais barato do que ir ao psicólogo ou comprar sapatos". "Como uma praia em Porto Santo, sem uma única pegada antes de eu passar". "Aquilo que outros encontram na meditação ou na fé, eu encontrei na corrida". "Sempre corri sozinho. Para mim é um ato intimista. Completo-me desta maneira". "Quando corro sozinha resolvo imensos problemas". "O meu marido não me acompanha, mas respeita a minha necessidade de correr. Ele acha que para percorrer 42 km existem os carros". "Dá para ter uma progressão muito rápida, e isso é motivador. Isto entranha-se". Acreditem. Nós, os que corremos, não somos uns desvairados. Somos uns afortunados porque já descobrimos o quanto a corrida nos faz bem.

Toma nota: começas a correr já no próximo domingo!

Prontas para começar? O tiro de partida para a vossa admirável nova vida é já no dia 17 de março (nada de planos a longo prazo - começa já!), com partida na ACADEMIA em Santos, pelas 9h00, na companhia da Sofia e do José!    

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