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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

30.07.13

"UMA" maratona das areias


José Guimarães
Quero começar este post dizendo que detesto correr na areia! O pior que me podem fazer em qualquer prova de trail é colocarem-me à frente um bocado de areia para correr. Ou neste caso, debaixo dos pés. No entanto, algumas das maiores superações por que me lembro (sim, porque outras não me lembro mais) de ter passado nestas coisas das corridas meteram areia. Também meteram água, como na Serra da Freita, mas quem me conhece sabe que eu adoro água e escalada, portanto não é um bom exemplo. Com areia recordo particularmente bem o troço de praia durante o Ultra Trail de Sesimbra (2012), acompanhado pelo Luís Trindade (íamos a tentar alcançar a Carmen Pires, lembras-te?)... Ou do Ultra Trail Noturno da Lagoa de Óbidos... aqueles quilómetros na areia fofa da praia junto às dunas estoiraram com as minhas perninhas de gafanhoto. E logo me fui meter este fim de semana com uma ultra em areia. Sim, falo da célebre UMA - Ultra Maratona Atlântica Melides-Tróia.

Antes da descrição, uma conclusão

Esta foi uma prova de superação do início ao fim. Superação ao nível físico, mas também psicológico. Não deve haver outra prova no calendário em que, no momento da partida, se consiga ver (ou ter uma noção, apesar de muito longínqua) o local da chegada. E querem ficar a saber o quanto custa a esta cabecinha ouvir o tiro da partida em plena praia de Melides, olhar em frente e pensar "Xiii, é para aliii que vamos?" Do ponto de vista da superação física, esta foi - segundo ouvi dizer - uma das edições mais difíceis da UMA de que há memória. O terreno apresentava-se em Melides nas piores condições possíveis: maré quase no preia-mar à hora da partida, uma zona no topo da praia horizontal e plana, mas com areia seca e muito fofa... e um areal inclinado (quase cavado) em direção á rebentação, que progredia em pequenas (pequenas?) dunas, ora secas, ora inundadas pelas ondas. Fosse por onde fosse que se quisesse correr, a areia estava sempre demasiado mole para se conseguir correr em condições. E este início de prova foi - pelo menos para mim - desgastante, numa escala que alternava entre o difícil e o dificílimo de conquistar... Sim, conquistar! Porque este tipo de terreno não se vence, conquista-se! Há diferenças!

Por onde ir?!

Pode parecer uma pergunta idiota, principalmente numa prova que é sempre em frente... Após a partida, ainda sem me ter decidido bem por que zona deveria correr (se na zona horizontal e seca, ou na zona inclinada e molhada), vi-me transformado numa barata tonta a experimentar as duas opções. A que me parecia ao início mais viável era correr no topo da praia que, apesar de ter areia mais fofa, tinha marcados os trilhos das moto 4 do pessoal da organização e das filmagens (grande cobertura feita pela ETIC, parabéns!), que deixavam a areia um pouco mais calcada e própria para correr. Mas quando esta opção terminava, ou porque a passagem dos outros corredores deixava a areia revolta, ou porque simplesmente a moto 4 escolhia outro percurso para fazer, lá decidia eu descer à linha da rebentação e experimentar a segunda opção. Talvez esta última opção fosse a mais acertada. Contudo implicava ter que molhar os pés ainda muito no início da prova e eu não queria que isso acontecesse. Pelo menos não para já. Assim sendo, ia alternando entre opção 1 e opção 2... nada mais errado! O esforço que implicava para as pernas ter que subir a duna em busca do trilho da moto 4 (opção 1) revelava-se tão desgastante que, quando lá chegava, não tinha forças para correr decentemente. E, mesmo na opção 2, o esforço que implicava subir e descer as dunas escavadas pela rebentação - fugindo das ondas - também se revelava uma opção pouco adequada. O que fazer então? Passados alguns minutos deste sobe e desce interminável, vendo uma série de atletas a passar e eu a sentir-me cada vez mais cansado, a respiração ofegante, as pernas cansadas e já a arder, recordo-me de olhar para o GPS e ver somente 2,7 km de prova decorridos... "Estou tramado!!!" - pensei! "Já estou neste estado? Assim não vou conseguir!" Pensamento errado, não é José? Vá, toca a respirar fundo e a pensar: "Qual é o melhor piso onde podes correr? O mais duro... E onde é que o piso está mais duro? Junto à água... Bora lá então!" Opção acertada! Apesar da água nos pés, que consequentemente trazia areia para dentro dos sapatos e os tornava mais pesados, a diferença de passar para um piso um pouco mais duro revelou-se crucial! De repente senti que a passada se tornava mais consistente e fluída, a frequência cardíaca baixava e o cansaço desaparecia. E aos poucos fui conseguindo alcançar aqueles grupinhos de atletas que no início haviam passado por mim, ainda sob o efeito barata tonta!

Pés molhados e com areia

Apesar de ter de correr muitas vezes atravessando as ondas que se cruzavam no nosso percurso, optei por quase nunca me desviar muito da trajetória reta que agora levava. Além de não ter sido uma má opção, porque devido à inclinação do terreno as ondas rapidamente dissipavam, deixando o terreno mais firme para correr, a sensação de correr mar (ou onda) adentro, refrescando pés e pernas (e muitas vezes o atleta do lado) é retemperadora! Que mais dizer? Sabe bem. Ponto! No entanto, com o passar dos quilómetros, a areia que ia entrando nos sapatos ocupavam aos poucos todo o espaço livre para os dedos dos pés, sendo esta a altura crítica em que se começavam a ver os primeiros atletas sentados na areia a descalçar os sapatos para despejar a areia. E quem não o fazia, agravava o desconforto nos pés, como eu. Na chegada à praia da Comporta, já ia na companhia do Carlos Correia (atleta de muita garra e que se revelou importantíssimo na manutenção do ritmo de corrida), quando pensei em parar para descarregar a areia dos sapatos. No entanto, as dores que começavam a aparecer nos quadricípedes chamaram-me a atenção para um fenómeno que já pude experimentar noutras ocasiões, muito conhecido por "se páras agora já não te levantas mais"! Como essa sensação não é das melhores que se podem ter numa prova, na passagem do pórtico da Comporta decidi agarrar nas duas garrafinhas de 500 ml de água que a organização dava e continuar a correr. Era "só" aturar mais 15 km de desconforto nos pés, nada que não se fizesse, se assim se quisesse muito. Mas com o passar dos quilómetros o desconforto só agravava,  a cada passada os dedos gritavam por liberdade dentro dos sapatos, as unhas começavam a doer e a areia tinha um efeito tão abrasivo, que optei por me descalçar e fazer os últimos quilómetros descalço. E é inacreditável a sensação de liberdade, de voltarmos a controlar naturalmente uma função tão simples como correr naturalmente e progredir. Fiquei tão satisfeito que me voltei várias vezes para o Carlos e lhe gritei "descalça-te, é ótimo!!!"

Tróia a chegar... ou não

Posto isto, poucos quilómetros faltavam para chegar a Tróia. Poucos mas muito longos! Nos últimos quilómetros passamos por visões de uma ponta de areal que nunca mais chega e, quando lá se chega, dá lugar a nova ponta de areal lá bem longe... e assim sucessivamente. E isto acontece duas, três, quatro vezes... mais? Talvez. Não me lembro. Acontece tantas vezes que às tantas ficamos a pensar se o GPS não estará errado e afinal não estamos com 40 km já feitos, mas sim trinta e poucos. Mas não. A chegada à zona de areal mais povoada por banhistas dá-nos conta que estamos mesmo no bom caminho e que a meta - essa - está já ali ao virar da esquina. Nota positiva para os banhistas, já que raros foram os que não aplaudiam a nossa passagem e nos gritavam palavras de incentivo, como o célebre "já falta pouco!!!" que se ouve aí entre o km 30 e tal e o fim da prova... E foi assim que descalço, com dois autênticos "tijolos" (os sapatos) nas mãos, um sorriso no rosto e lado a lado com um novo amigo, picámos no botão "Stop" dos nossos relógios, demos um abraço e nos dirigimos à tendinha da imperial preta, fresquinha! Tão bem que sabe... Tempo agora para abraçar familiares e amigos e agradecer aquele apoio incansável que, vindo de um lado e de outro, no seu tempo e altura certas fizeram toda a diferença, fosse nos aplausos e palavras de incentivo, nas fotos e nas filmagens, nas conversas ou no silêncio, na companhia feita ao longo de quilómetros de areal sem fim, mas também na ausência. Quando se fazem provas destas, de superação, nunca corremos sozinhos, todos estão presentes e nos dão o seu "empurrãozinho". Pelo menos é assim que eu corro. É isso que também me leva para a frente e me faz conseguir chegar ao meu fim. E é assim que eu gosto de autenticamente me sentir: feliz! Até para o ano, para mais UMA!
27.07.13

Corridas e aniversários


José Guimarães
Por vezes há coisas que me fazem olhar para trás e pensar. A manhã de hoje foi uma delas. Hoje, a loja de corrida PRO RUNNER comemorou o seu 1º aniversário. E foi exatamente há 1 ano que conheci a maior parte da malta com que hoje corro. Malta que hoje ainda anda nesta vida de sofrer durante a semana nos treinos e de se vingar ao fim de semana nas provas. Malta como o António Nascimento, o nosso treinador, que vai participar na final do Ultraman, no Hawaii, ou o Luís Trindade, que fez há poucas semanas o Ehunmilak e vai amanhã participar na Ultra Maratona Atlântica Melides-Tróia (e quem eu no ano passado acompanhei desde a praia da Comporta), o José Pedro Rua, que atualmente raramente vejo mas quando nos cruzamos ele vai a 4'30''/km... o Ricardo Arraias, o Bruno Brito, a Meire, a Catarina e o Miguel e tantos tantos outros que hoje ainda fazem parte do meu dia a dia das corridas. Faz portanto 1 ano que estávamos uns, num grupo, a correr desde Vila Nova de Gaia até Lisboa e outros, o grupo onde eu estava, a correr desde Portimão até Lisboa, na I Ultramaratona de Portugal - PRO RUNNER. Contas redondas e quilómetros somados correram-se um total de 600 km para comemorar a inauguração da única loja do país especializada em corrida. O projeto está a vingar e atualmente tenho o prazer de também fazer parte desta equipa, que comemorou hoje o 1º Aniversário, na companhia de mais de 200 participantes que em apenas 4 dias esgotaram todas as vagas disponíveis (e ainda abriram algumas um pouco "à pressão"). Alguma coisa a corrida anda a fazer às pessoas deste país. Tirando de parte o futebol, onde raramente deixam os adeptos ver atletas a jogar e quase sempre assistir a presidentes, treinadores e outros "políticos" a falar mal uns dos outros, neste ambiente dos "dois-pés-à-frente-do-outro-e-assim-consecutivamente" (ou seja: corrida!), regra geral só vejo pessoas que gostam do que fazem. Fazem-no por amor à atividade (e ao bem que ela faz), porque gostam de confraternizar, gostam de galhofa, de partilhar momentos felizes... e acima de tudo gostam de correr! É importante perceber que nesta época em que só se fala de austeridade e dificuldades económicas, quem vem para correr vem com um sorriso no rosto. E se não vem (porque o cansaço é muito ou noite de sono foi curta e custou a levantar da cama), normalmente quando volta já o leva consigo (o sorriso!). Portanto, sem me querer alongar muito (porque ainda tenho que preparar o equipamento para a corrida de amanhã), gostava de reforçar perante todos os que seguem este blog o quanto eu gosto de correr, o quanto eu gosto de estar com pessoas que correm ou que, pelo menos, partilham deste entusiasmo que é praticar uma atividade física, praticar desporto, seja ele qual for. Pessoas que, não só partilham o mesmo gosto por isto, mas também (e principalmente) uns pelos outros. A corrida veio para ficar e espero que todos vocês também! Corram muito, mas acima de tudo divirtam-se! Eu vou-me preparar para ir rebolar na areia...
23.07.13

7 dicas para combater a preguiça matinal


José Guimarães
Hoje foi um daqueles dias! Ontem deitei-me tarde e - consequência - hoje foi difícil descolar o corpo do colchão... Normalmente o meu ritual diário consiste em levantar-me cedo, por volta do nascer do sol, comer com algum tempo de antecedência antes de sair de casa e ir treinar. Nos dias de ginásio começo às 7h00, nos dias de natação às 8h00 e nos outros dias é à hora que calha: por vezes os Esquilos "obrigam-nos" a estar em Monsanto antes das 6h00, noutros as Salamandras da Serra de Sintra fazem-me chegar a casa depois da meia-noite... e quem é que se consegue levantar cedo no dia seguinte? Seja como for, o que é certo é que o corpo precisa de descanso. E por descanso entenda-se uma dose de sono adequada e que nos permita recuperar do esforço acumulado do dia-a-dia. E nem de propósito, optei por colocar este post na categoria de treinos, porque sou apologista (calculo que como a grande maioria também o é) que o descanso também deve fazer parte de um bom plano de treinos. Ninguém é de ferro e treinar sem dar ao corpo o devido descanso, mais cedo ou mais tarde vai gerar rotura, demasiado stress, saturação, já para não falar em lesões e outras complicações. Numa tentativa de combater a apetência que muitos de nós temos por carregar vezes sem conta no botão SNOOZE do despertador, recomendo-vos a leitura de um post com que me cruzei hoje no blog Correr na Cidade, que dá boas dicas a todos aqueles que - como eu - são bichos da manhã e gostam de se levantar cedo para ir treinar, mas que por vezes sentem o peso da inércia. Achei piada a algumas dicas que me são extremamente familiares e a outras que ficarão ao critério de cada um. Como a que nos recomenda a dormir vestidos com a roupa com que vamos correr na manhã seguinte! Em casa nunca o fiz, mas normalmente é a minha opção nas noites no solo duro que antecedem as provas. Leiam o post e pratiquem algumas das 7 dicas recomendadas, vão ver que a vida se torna um bocadinho mais fácil na manhã seguinte!
22.07.13

As mulheres e a corrida


José Guimarães
Um artigo interessante do blog A Minha Corrida fala sobre a corrida na perspetiva feminina. Não naquela abordagem comparativa e gasta entre mulheres e homens, mas antes numa abordagem tão interessante quanto prática, já que, quer queiramos quer não, ser mulher e participar numa prova - por exemplo - durante a menstruação, não deve ser propriamente tarefa fácil de aturar. Já aqui escrevi em tempos um artigo sobre este tema específico e aproveito para o recuperar, já que, por um lado é importante para as mulheres poderem tomar algumas precauções, mas também serve para os homens que as acompanham estarem mais informados e as ajudarem em momentos mais complicados. O artigo, ele próprio escrito por uma mulher (Miriam Lopes), fala sobre envelhecimento precoce, celulite, TPM, dores de cabeça e enxaquecas, até da líbido! Recomendo portanto a sua leitura e que a corrida continue a fazer tanto parte do universo masculino como do feminino.
17.07.13

Todos temos os nossos heróis


José Guimarães
Este fim de semana que passou fui correr... claro! Mas também fui andar de barco. Fui fazer canoagem e trail no Kayak Trail do Tejo. A prova (que - diga-se com toda a justiça - foi muito bem organizada pelo José Brito, cara bem conhecida destas andanças) consistiu em descer de kayak os 7km do rio Tejo que separam Constância de Tancos e depois fazer 15km de corrida por trilhos, rio acima, de volta a Constância. Uma bonita particularidade foi ser feita em equipas de duas pessoas. Quer isto dizer que não só os kayakes eram de 2 lugares, obrigando os parceiros a uma sincronização perfeita (ou quase), como também mais tarde na corrida se apelava mais do que nunca ao verdadeiro espírito de equipa, porque mesmo que um dos elementos chegasse à meta bem à frente do outro, o cronómetro só parava quando o segundo elemento cortasse a meta. Assim, os mais fortes tiveram oportunidade de puxar pelos mais "franguinhos" e, estes últimos, de fazer uma prova com personal trainer incluído. Outros amigos foram correr em paragens mais distantes, como por exemplo no País Basco, na bem conhecida Ehunmilak. São 168 km e cerca de 11.000 m de desnível positivo para percorrer no território histórico de Gipuzkoa. E dizem alguns dos relatos que este ano a coisa não foi fácil. Portanto, a todos os que chegaram ao fim, os merecidos parabéns. E aos que não chegaram ao fim, os parabéns por terem lá estado! E fiquem tranquilos, que a montanha - essa - estará lá no mesmo sítio, ano após ano, sempre disponível e à vossa espera. Nada fácil também foi o desafio que o nosso querido ultra-atleta Carlos Sá enfrentou pela primeira vez este domingo... logo para vencer! Estou a falar, nada mais, nada menos, que a ultra maratona Badwater, nos Estados Unidos. Sim, aquela que o Dean Karnazes já fez quê... 10 vezes? Só de pensar... Esta prova é considerada por muitos como uma das corridas mais duras de todo o mundo. Tem 217 km de extensão, começa no célebre Vale da Morte, na Califórnia, a uma altitude de 86 m abaixo do nível do mar e termina no Mount Whitney, a 2.548 m de altitude. Não fossem estas por si só características difíceis de superar, adicionemos ainda que o facto de se desenrolar nesta época do ano torna-a um desafio ao alcance de muito poucos atletas, pois as temperaturas (mesmo à sombra) chegaram a passar os 50º C e, consequentemente, são muito poucas as pessoas - mesmo ultra maratonistas experientes - que conseguem chegar ao fim desta corrida. Estes são alguns exemplos de desafios que amigos, conhecidos e desconhecidos enfrentaram, objetivos pelos quais lutam todos os dias e que já fizeram valer a pena os sacrifícios ao longo do "caminho". Amigos e conhecidos que se tornam verdadeiros heróis, que inspiram outros a passar das palavras aos atos, a tomar as rédeas da vida nas nossas próprias mãos e arriscar! E se estes exemplos têm a ver com corrida, certamente haverá outros, noutras disciplinas e noutros lugares do mundo, que pelas suas façanhas fazem-nos pensar que vale a pena lutar por aquilo em que mais acreditamos. Mesmo nós que gostamos de correr, certamente não será só no desporto que somos confrontados com "muros" altíssimos, difíceis de transpor. Quantas vezes nas nossas vidas do dia-a-dia não somos dominados pelo medo, pelos bloqueios, por um "não consigo" proferido de forma tão automática quanto inconsciente? E quantas vezes na nossa vida já saímos da nossa zona de conforto, já levantamos o rabo do sofá, saímos da rotina e passamos à ação? É a pensar em tudo o que queremos fazer mas ainda não fizemos que deixo hoje esta curta mensagem. É a pensar em todos os sonhos que guardamos dentro da caixa que vos peço (e a mim próprio) que se inspirem nestes verdadeiros heróis da motivação e superação pessoal. Seja num Kilian ou num Karnazes, num Carlos Sá, num vosso familiar, amigo ou colega do lado (ou no Homem Aranha, porque não?), inspirem-se no que de melhor essas pessoas já conseguiram fazer e partam também vocês em busca da vossa verdadeira (reforço: verdadeira!) motivação pessoal! Não fiquem somente a sonhar com os feitos dos outros. Deixem que os feitos dos outros entrem dentro de vós e vos inspirem, mas depois entreguem-se à vossa vida com paixão. Seja correr aquela primeira corrida de 10 km, seja fazer uma maratona ou uma ultra maratona de 100 km (e porque não mais?), não hesitem: façam-no! O momento é agora, é vosso, não o deixem escapar. Sejam os heróis das vossas próprias Vidas!

De um herói para todos nós

E como não só de corridas se fazem os heróis, o Carlos Sá no final da sua estreia/vitória na ultra maratona de Badwater deixou uma verdadeira prenda para todos nós, que vou ler e reler sempre que precisar de inspiração de um herói de carne e osso:
"Nós portugueses vivemos num clima quase depressivo. Temos de ter objetivos muito fortes no nosso dia a dia. É esta mensagem que quero deixar aos portugueses, que acreditem, que lutem, porque sem trabalho, sem sacrifício, nunca vamos conseguir mudar este país."
11.07.13

Querido diário...


José Guimarães
Desencantem-se quem já se prepara para gozar "o prato", porque não vou escrever um diário. Nem de corridas nem do que quer que seja. Se calhar até funcionaria, mas para já não estou inspirado nesse sentido. Venho antes aqui partilhar um pouco de nostalgia. Quem me conhece sabe que às vezes gosto de escrever. Não só coisas sobre corridas, mas também desabafos e outros pensamentos. E num belo dia 25 de Março de 2011, havia eu começado a correr há pouquíssimo tempo, parece que decidi desabafar para comigo próprio num pequeno caderno que ontem encontrei lá por casa, menos de meio escrito, mais de meio vazio. Partilho convosco um trecho da minha vida há pouco mais de 2 anos atrás, porque senti como as coisas ao longo dos tempos conseguem tornar-se tão relativas: as distâncias, as amizades, os tempos... das corridas mas também da vida no dia-a-dia. Não deixem portanto que as distâncias separem as amizades e que o tempo passe sem que usufruam de cada minuto! Aqui fica um dia na minha vida, há mais de dois anos atrás:

25/03/2011

"Não vou com certeza escrever todos os dias. Mas isso não é mau. Vou escrever hoje porque hoje foi um dia de conquistas! Algumas, sim. Corro todas as semanas uma média de 3x/semana e se inicialmente estava a gostar de me sentir em forma, agora o objetivo é outro: correr meias-maratonas! Porquê? Porque descobri que gosto! Porque me faz feliz, faz sentido e porque quero! E hoje escrevo porque corri 22,6 km em 2h10m... realizei um sonho! E depois de realizar o sonho... fui para casa. Estou desempregado. Ajuda os treinos. Por causa deste estado, a cada 15 dias tenho que me apresentar na Junta de Freguesia para simplesmente dizer que ainda estou por cá e à procura de emprego. Hoje deu-me um baque quando vi que a data da última apresentação havia passado... ontem, o dia em que fiquei em casa meio adoentado! Ai os sentimentos negativos! Rapidamente saí de casa (a correr) e fui como um louco à JF. Para quê como um louco? Não iria fazer o tempo voltar atrás, certo? Então porquê o stress? Acalmei-me e raciocinei. Ativei o modo "abordagem honesta e sorridente" à funcionária e o resultado foi o melhor: 5 dias para apresentar um atestado. Então fui (devagar) ao Centro de Saúde, onde sou novamente bem recebido e, com mais uma dose de "abordagem honesta e sorridente" obtive o que queria. Sem stresses desnecessários. Até com boa disposição, diga-se! Assim correu o meu dia, agora brindado com escrita e jazz à beira mar, calmaria. Dia de conquista. Dia de ultrapassar obstáculos. Dia muito positivo. E assim, no dia-a-dia como nas corridas, venha o amanhã. Estou preparado!"
10.07.13

Vamos comer proteína?


José Guimarães
Ao contrário do que se pode pensar (e ao contrário do que eu pensava), não é só no frango e nos ovos que podemos encontrar a maior concentração de proteína. Claro que quem percebe bem da "arte" de suplementar, sabe a que alimentos a pode ir buscar. Mas nós, os comuns dos mortais, não sabemos. A fonte mais fácil de proteína estará talvez nos suplementos desportivos, onde a troco de algum bom dinheiro podemos comprar uma fórmula fácil (e eficaz) de preparar e ingerir proteína. No entanto, se não encontrarmos esta proteína e outros nutrientes essenciais nos alimentos do dia-a-dia e a formos procurar essencialmente na suplementação desportiva, poderemos vir a sobrecarregar alguns órgãos essenciais ao bom funcionamento do nosso corpo, como os rins ou o fígado. Eu tomo suplementos, mas procuro sempre conciliar estes com uma alimentação regrada e equilibrada. Não é à toa que as letrinhas miudinhas nas embalagens dizem "Os suplementos alimentares não devem ser usados como substituto numa dieta equilibrada e variada e num estilo de vida saudável", certo? Hoje de manhã, nem de propósito, deparo-me com um post do blog Healthy Inspiration, sobre isto mesmo: fontes de proteína! Se gostam ou têm alguma curiosidade por esta temática, vejam o post da Sofia e fiquem a saber que, por exemplo, os espinafres contêm cerca de 49% proteína. É assim Sofia? Ai como eu gosto dos meus sumos verdes!!! Alimentem-se bem!
09.07.13

Trail do Almonda em modo rápido...


José Guimarães
Depois de um post sobre uma prova em modo lento, mas partilhada em modo rápido (obrigado Susana pelos sempre fantásticos momentos de leitura que nos proporcionas), eis que deixo aqui a minha contribuição ao relato do Trail do Almonda, prova por mim feita em modo rápido mas partilhada de forma lenta. Demorou mais do que tempo a sair do forno. E por falar em forno...

... eu vou falar do calor!

Os meus posts, ao contrário dos posts da Susana (e por isso é que esta colaboração se complementa bem), sempre recaíram mais sobre a vertente técnica "da coisa". Quando escrevo gosto de pensar principalmente naqueles que, ou não correm, ou correm muito pouco e, assim sendo, querem é adquirir conhecimentos! Querem saber como se respira corretamente, como é a passada A ou B, como é isso dos trails, que ténis escolher para esta ou para aquela corrida, ou o que fazer quando se tem que correr debaixo de um calor escaldante. Por essa razão, já antes da prova eu havia aqui deixado um post com 10 dicas úteis sobre como correr com calor, isto porque já se adivinhavam algumas "chatices" com as altas temperaturas previstas para o fim de semana. E como "quem vai ao mar avia-se em terra", num quase processo de auto-mentalização achei por bem partilhar estas dicas. Se as segui todas? Quase todas. Pelo menos as que eram possíveis de controlar, já que algumas, como a dica que diz para "procurarmos as sombras para correr" foi difícil de seguir.

Como é o calor no Trail do Almonda

O Trail do Almonda já é caracterizado por ser um trail tipicamente quente. Já no ano passado assim foi e este ano não foi exceção. As previsões apontavam já há alguns dias para temperaturas de cerca de 42ºC e há quem diga que lá para o meio da serra rondaram os 44º/45ºC. E as sombras das árvores ou eram escassas ou inexistentes, pois a vegetação típica da Serra D’Aire e Candeeiros é rasteira. Nestas condições, quer-me parecer que se a organização tivesse antecipado a hora da partida para as 8 horas (em vez das 9 horas previstas) ganhava-se 1 hora ao calor e ninguém iria levar a mal. Mas tudo bem, não há nada que com a devida preparação não se faça. Como disse e bem a Analice: "no deserto estava muito mais calor!!!" Correr com o calor que se fazia sentir não é fácil e, por muito que se beba água ou bebidas isotónicas, às tantas parece que não é suficiente. Nos pontos mais quentes, o ar transformava-se numa coisa pesada e densa, impossível de inspirar. A boca secava passado um par de minutos depois do último gole de líquidos e, não fossem os postos de abastecimento de 5 em 5 kms, esta não teria sido uma boa experiência. Parabéns à organização! Mesmo assim foram alguns os casos de desidratação e atletas que, de forma consciente ou forçada, terminaram a prova antes do fim. A estes digo que não se preocupem, pois a serra não se vai embora e é bom que possamos voltar sempre a casa a gozar de boa saúde, para mais tarde podermos usufruir deste desporto em pleno. Com calma tudo se faz.

Como se corre com calor?

Com calma e com cabeça! Beber água nestas situações pode não ser suficiente. Mais do que água, as bebidas isotónicas são essenciais para não desidratarmos com a exposição a tamanhas temperaturas. A água não tem aquilo que o nosso corpo necessita repor e que deita fora com a transpiração, como o sódio, sais minerais e outras coisas essenciais que se podem encontrar nas bebidas isotónicas. [caption id="attachment_4159" align="alignright" width="300"]saco isotermico reservatório mochila de hidratação O reservatório de água com o isolamento "home made"[/caption] "Ah mas passados uns minutos o isotónico fica quente!!!" dirão vocês. Claro que fica! Mas vai um truque interessante? Preocupado com esse facto, na noite anterior fiz umas pesquisas na net e acabei a fazer bricolage à mochila de hidratação. Peguei no reservatório de água e revesti-o de papel de prata com um bocado de saco isotérmico de supermercado, cortado à medida como um "saco cama" e... surpresa das surpresas! O líquido só chegou à temperatura "morno" (não chá) já perto dos 25km, acreditam? Antes disso andou entre o fresquíssimo (ao início) e o fresquinho (lá pelo meio). Se não acreditarem experimentem, pois cá eu vou levar a invenção (talvez melhorada) para a Ultra Maratona Melides-Tróia! Outra coisa imprescindível para levar para provas com estas características são saquetas de sal. Também se pode encontrar o sal em comprimidos próprios para estas andanças, mas tanto uns como os outros servem exatamente o mesmo propósito da anti-desidratação. E experimentem numa prova quando tiverem uma cãimbra comer um pouco de sal... já pude comprovar e não vos dou nem 5 minutos para as cãimbras passarem!

A corrida, os amigos, os conhecidos e os desconhecidos

A Susana diz no início do seu post (modo lento) que é praticamente impossível equacionar eu e ela cruzarmos a meta ao mesmo tempo. Acho engraçado isso. Acho engraçado porque quando vejo relatos dos Karnazes ou dos Kilians (ou mesmo das Frosts) sobre as suas corridas, ou quando leio sobre os recordes que batem sou levado a pensar (e não devo ser o único) que para eles é fácil ganhar provas, porque têm uma grande preparação física e mental, blá blá blá. Em parte é isso que acontece, mas é mais do que certo que cada vitória lhes sai do pelo e cada uma dessas conquistas é feita quase sempre nos limites. E vos garanto que os primeiros não sofrem menos do que qualquer um de nós, pelo contrário. De alguma forma eles são os primeiros! O meu objetivo no Trail do Almonda era, antes de mais, conseguir chegar ao fim da prova sem problemas. O segundo (vá lá, o primeiro e meio) seria tentar igualar ou fazer melhor tempo que no ano passado. Mas tal como dizia ao Pedro durante a viagem de carro, se numa prova de trail mudarem uma só característica (como por exemplo a altimetria ou... as condições climatéricas), não podemos esperar fazer uma comparação fidedigna com a mesma prova ano após ano, muito menos com outras provas de distâncias semelhantes. Da edição de 2012 para a deste ano, além do percurso inicial ter sido alterado (a meu ver para melhor), o calor também veio acrescentar não só uns graus de temperatura, mas também de dificuldade. E fiz mais uns minutinhos que no ano passado. Paciência. Se achei a prova mais difícil este ano por causa do calor, certo é que deu sempre para encontrar algum elemento facilitador aqui e ali. Fosse entre amigos ou perfeitos desconhecidos, são sempre muitos aqueles que contribuem para que nestas provas nos sintamos todos como parte de uma grande família. Apesar de ter feito a maior parte do meu percurso de forma meio solitária, de vez em quando ou aparecia uma lebre para puxar por mim, ou era eu que servia de lebre a alguém. Regra geral, pude reencontrar sempre (é muito bom isto) muitas das amizades feitas nas corridas ao longo destes últimos 2 anos e felizmente fazer novos amigos. Não posso é dizer exatamente com quem me fui cruzando ao longo da prova, porque além de ter uma péssima memória para nomes, normalmente vou tão metido dentro da corrida que não vejo ninguém (desculpem-me por isto, da próxima vez atirem-me um calhau para me chamarem a atenção). E nesta prova era preciso muita concentração, tal era o número de troncos, raízes e pedras, muitas pedras no caminho! Uma das coisas que vou podendo constatar nos pelotões da frente é que nunca há muito tempo para grandes conversas. Nem para conversas, nem para fotos ou outras diversões. É correr senhores, é correr! Ou porque é necessária atenção redobrada ao piso, ou porque a subida não deixa fôlego disponível para grandes conversas, ou porque no abastecimento, apesar de estarmos em modo parado, a boca está cheia de laranjas ou bananas (e no Almonda melancias!!!) e não há tempo a perder! É enfiar alguma coisa pela goela abaixo e desatar a correr novamente. Por isso normalmente pouco se conversa lá à frente. Não tem muita piada, confesso. Que me lembre, à exceção dos abastecimentos, só parei para dois dedos de conversa uma vez durante toda a corrida: quando encontrei o Fernando Gomes parado a meio da primeira subida (visão muito rara neste amigo, monstro dos trails). Infelizmente uma lesão na perna não o deixava continuar, pelo que, depois de uns segundos a trocar impressões e garantido que estava bem, segui a minha corrida.

Os 4 momentos do Trail do Almonda

Já aqui referi que a parte inicial do percurso sofreu este ano uma alteração, em relação ao ano anterior. Mas as 4 principais referências mantiveram-se praticamente inalteradas. As 4 referências no percurso e que são verdadeiros momentos-chave a vencer, para quem quer sobreviver a esta prova:

1º A longa subida - km 10

Foi aqui que encontrei o Fernando Gomes. A meio da grande subida! Quando o deixei, bem me gritou ele "ATENÇÃO QUE AINDA SÓ VAIS A MEIO DA SUBIDA!!!" E que subida! Não corria nem uma brisa. Apesar de ser talvez o único local com algum abrigo das árvores, o ar era pesado e denso, irrespirável, dificultado ainda mais pela inclinação íngreme e interminável. É daquelas subidas manhosas, que um momento parece que estamos a chegar ao fim e já no outro nos apercebemos que ainda não é ali... ainda falta mais um bocadinho. Mas tudo o que sobe, depois tem que descer.

2º A rápida descida - km 14

Foi rápida, muito rápida! Após a ascensão feita até ao topo, segue-se um estradão interminável, cheio de pedras (atenção, muita atenção às entorses!!!) e cheio de velocidade! É onde me divirto e onde recupero muito tempo. Felizmente os meus paizinhos deram-me umas pernas compridas que me permitem aproveitar cada salto e cada vôo para correr rápido sem me cansar em demasia. Não há muito para dizer. Ultrapassei alguns atletas e colei-me a um outro ainda mais alto que eu, que me tinha ultrapassado na subida, cheio de força (parecia que eu estava parado)... mas também lhe custou, aposto!

3º A longa descida - km 22

Esta foi aquela descida que a Susana chamou no seu post de "o secador"! É aquele tipo de descidas em que me divirto muito mas muito... mas que mais tarde venho a pagar o preço por tamanha diversão. É uma descida de cerca de 4 km, feita quase sempre num single track cercado por vegetação cerrada (ai as silvas, as silvas!!!) e cheia de obstáculos: muitas pedras, algumas soltas e outras grandes, daquelas que dão vontade de saltar por cima e aterrar do outro lado. E descidas bem inclinadas com terra dura e firme, algumas das quais até dá para aproveitar o deslizar natural das solas dos sapatos para uma pitada de diversão acrescida. E qual é o preço a pagar afinal? Tanto tempo em descida muito rápida cansa muito rapidamente os músculos das pernas, pois estes atuam como amortecedores em cada salto e obstáculo que se ultrapassa a saltar. Como já faltava pouco para terminar a prova, não estava tão preocupado assim com a fadiga que acrescentava às pernas. Nas provas longas nem pensar em fazer o mesmo! Aqui o problema veio nos dias seguintes, pois passados 2 dias ainda sinto algumas dorzinhas provocadas por aqueles momentos de diversão...

4º Os últimos 2 km

A fornada, o bife na pedra, sei lá! Chamem-lhe o que quiserem. Aquela pedreira a marcar os 2 últimos quilómetros de prova foi um dos sítios mais quentes por onde passei numa prova. Agora sei o que sente um bife grelhado! Passadas já mais de 3 horas debaixo de tanto calor, era inevitável que me sentisse com pouca força. Mas na realidade, apesar de pouca força, já me sentia mais para o zonzo do que gostaria de sentir. E nem a visão da torre da igreja, que marcava o local de início e chegada, me animou. Estava comprovadamente desidratado pelo teste da urina (de 1 a 8 eu estaria no 7). Não admira que sentisse todo o corpo a negar-se a correr ou a fazer qualquer esforço. E correr rápido, nem mesmo na última descida, que normalmente é acompanhada de grande energia, devido aquele sentimento de euforia por se conseguir chegar ao final. Quem estava no fim era eu.

Concluindo a prova

Mesmo assim, com 3h24m (mais 10 mins que no ano passado), inverti a posição do ano passado (43º lugar) e consegui ficar num bonito 34º lugar. Foi apesar de todas as dificuldades uma prova tradicional e pautada por um excelente ambiente e uma excelente organização, que a começar pelo profissionalismo e a acabar na simpatia, não deixa os seus créditos por mãos alheias. Se consideraria participar novamente neste trail no próximo ano? Claro que sim! E pelo delicioso arroz doce do final diria já que sim! E recomendaria esta prova a alguém que se quisesse iniciar nos maiores trails? Sem dúvida! Mas só se fizer um bocadinho menos de calor... vá lá... para o ano que vem, pode ser um pouco menos de calor? Foto: +KMS
08.07.13

Trail do Almonda em modo lento...


José Guimarães
Aqui estou eu a apresentar o meu primeiro dueto. Dueto na escrita, claro. Seria impossível equacionar a possibilidade de uma corrida em que eu e o Zé tivéssemos cortado a meta ao mesmo tempo. Certo é que, passados alguns meses de colaboração para o este seu blogue "De Sedentário a Maratonista", esta é a primeira vez que nos cruzamos na mesma prova: no Trail do Almonda. "Escreves tu? Escrevo eu?", questionámo-nos. Bem... "Escrevemos os dois!", decidimos. Eu farei o relato em modo lento. O Zé, claro está, em modo rápido! Senhoras primeiro, mesmo nas corridas!

Correr com amigos

Estou feliz por ter chegado ao fim. Em vários momentos pensei que teria de dar por concluída a minha prestação, mas os "companheiros de viagem" cuidaram de mim. "À bruta", claro, mas cuidaram! Não havia feito quaisquer planos e creio que a Ana e o Ricardo também não. Quis a Serra D'Aire e Candeeiros que a percorrêssemos juntos e assim aconteceu. Afastada há algum tempo das corridas, a Ana foi uma autêntica guerreira e assumiu a figura de lebre em diversas ocasiões. O Ricardo presenteou-nos com as suas preciosas dicas e puxou pelas "miúdas" nos outros momentos. Já eu... bem, eu tive o que pedi há uma semana atrás - a serra! Para verem como sou efetivamente rápida, nos primeiros quilómetros da prova passou por mim um corredor que presumo me conheça destas andanças. Lá seguia eu, no meu ritmo, em jeito de trote, envergando o meu equipamento "Anna Frost". "És um bluff, és um bluff!", exclamou ele, rindo. Fugiu tão rápido (receando represálias, presumo!), que não tive tempo de responder que se não fosse o equipamento "Frostie", seria ainda mais lenta!

Podemos não falar do calor?

Se falarmos sobre o calor que se fez sentir, com temperaturas acima dos 40 ºC, todo o relato do Trail do Almonda sairá penalizado. Sim, porque o calor foi efetivamente terrífico e custou a continuação em prova a muitos atletas. Aqueles a quem não compremeteu a sua conclusão, garantiu que seria de uma dureza extrema até cortar a meta. No fundo, tivémos sorte. Afinal, afinal, este é o verão mais frio dos últimos 200 anos, garantiu um canal de meteorologia francês!

Caminhos tortuosos, mas lindos!

Conheci esta serra nos Trilhos do Pastor no início do ano. Na altura, "Corri com o Ludovico Einaudi", lembram-se? É uma linda serra, caracterizada pela dureza dos seus caminhos, carregadinhos de pedra e pelas paisagens áridas. A pedra foi muita, como se esperava, mas ainda assim, o percurso foi-nos oferecendo diferentes pisos, paisagens variadas, subidas e descidas, estradões e single tracks. Por várias vezes me foi permitido gozar aqueles trilhos onduladinhos, de que tanto gosto. Não sobe muito. Não desce demasiado. São divertidos! Como sempre, lá nos cruzámos com um marco geodésico e com as antenas. Imagens de marca dos trilhos, pois claro! Sempre com o sol a brindar-nos ("torrar-nos" seria a palavra adequada) com os seus raios, foram poucos os momentos de sombra. Lá surgiam uns trilhos mais "fechadinhos", com mais vegetação, mas geralmente eram acompanhados de subidas de pendente acentuada, pelo que a "frescura" não se fazia sentir! Diverti-me particularmente a descer um extenso trilho, a que o amigo Pedro Quina baptizou de "secador". Uma longa descida, cerca do km 24, que se prolongava por várias centenas de metros. Vegetação cerrada, pedra, muita pedra, mas daquela que nos permite saltar (como a Frostie!) e encaixar o pé com segurança. Senti-me mais confiante e lá me aventurei descendo com toda a velocidade que me era permitida - câmara lenta, portanto! Tudo corria bem até entrar no filme “Como treinares o teu dragão”. Eu era a Astrid (a menina vicking, conhecem?) e levava comigo as minhas duas espadas (os comuns mortais apelidam-nas de bastões). Saltitando entre as pedras, procurava incessantemente o “Fúria da Noite”! É um dragão muito dócil, como se sabe, mas adora brincar com o fogo. E assim aconteceu - fui engolida por aquela labareda de fogo e calor do “Fúria da Noite” que se escondia algures. Que dragão aquele! Entretanto a Ana e o Ricardo afastam-se um pouco e vou correndo em modo “Susana”, por conta própria. Passo por um bombeiro que me incentiva a continuar dizendo "está quase, mostre lá aos homens como é"! Desatei a "sprintar", claro.

 Água e melancia!

Quem já me conhece um pouco sabe que a real motivação para me manter neste tipo de provas consiste em chegar ao "banho" seguinte. Infelizmente o percurso do Trail do Almonda não nos brindou com nenhum curso de água. Mas... o calor (aquele que referi acima que não iria mencionar) perseguia-nos e tínhamos que resolver o problema a cada abastecimento. A cada 5 km, portanto. Foram autênticas regas. Mais para o final, eu, a Ana e o Ricardo já estávamos perfeitamente sincronizados. A Ana molha a Susana, a Susana molha o Ricardo, o Ricardo molha a Ana. Água no boné, borrifos de água termal da Avène e rega integral com a garrafa da Ana, que rapidamente deixou de acondicionar a bebida isotónica para merecer o título de regador oficial deste trio! A técnica estava de tal modo apurada, que nos valeu as felicitações de um dos membros da organização, que nos rotulou como os "mais simpáticos" que por ali tinham passado! A cada 5 km foi também tempo de... melancia! "Embarriguei" melancia para todo este verão e o do ano que vem!

Quase, quase no fim

Os "está quase" com que somos incentivados pelos membros da organização - uma simpatia, de resto - são sempre de natureza duvidosa neste tipo de provas. Os "está quase" pressupõem sempre que temos mais 3 km pela frente, que parecerão ser 10, simplesmente pelo facto que ficaremos sempre com a sensação que estamos ao lado da meta mas que nos empurram no sentido contrário! E assim foi! Depois do mimo do carro-tanque dos bombeiros onde não perdi a oportunidade de me contorcer toda, garantindo assim que me alojava por debaixo da torneira e usufruía da água do furo, fomos presenteados com mais uma subida que mais parecia a "pedra" do "bife da pedra". Nós éramos os bifes e vos garanto que fumegámos! Sobe mais um pouco, porque afinal ainda falta mais um pedaço do "está quase". Finalmente começamos a ouvir aplausos e vislumbramos aquela "coisa" insuflável vermelha que nos diz que agora está mesmo quase!

Depois do inferno, a bonança...

Cruzámos a meta, a três - eu, a Ana e o Ricardo. Cruzámo-la por três vezes, para garantir que teríamos o registo fotográfico perfeito! Obrigada, amigos! Termino conforme escrevi no domingo, horas depois de ter concluído a prova... Almonda = Al+Monda. Diz-nos o dicionário que “monda” significa limpar ou purificar. Expurgar tudo o que é prejudicial… Pois bem... A Serra d'Aire ofereceu uma verdadeira purificação a altas temperaturas a centenas de atletas apaixonados pela montanha. Rejubilemos, pois estamos purificados!  
05.07.13

10 dicas para correr ao sol e com muito calor!!!


José Guimarães

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O calor voltou!!! Já não deve ser a primeira vez (nem vai ser a última, de certeza) que correm debaixo de muito calor. Mas cuidado com as temperaturas muito elevadas e com os eventuais exageros! Para quem tem desafios a cumprir, ou treinos mais longos para fazer, partilho aqui algumas dicas para saberem como devem correr quando faz calor.

 

1. Proteção solar

Apesar de algumas pessoas dizerem que não se dão bem com a transpiração quando têem protetor solar, continuo a preferir pecar por excesso e aconselho sempre a usar um bom protetor. Não só para a cara, como para qualquer área do corpo que esteja descoberta, principalmente a parte de trás do pescoço e os braços. O protetor a usar tem que ser forte (+50) e à prova de água, para que o mesmo não saia da pele quando transpirarem. No entanto, procurem um adequado a desporto, que seja bem absorvido pela pele, mas que não obstrua os poros.

Os óculos de sol também fazem parte da proteção solar. Vale a pena investirem nuns óculos de sol com umas boas lentes, filtro UV e que sejam leves e confortáveis.

Já agora, não dispensem um boné fresco. Além de proteger a cabeça e os olhos do sol, também vai ajudar a que a transpiração não escorra para os olhos.

 

2. Hidratar antes, durante e também depois da corrida

Antes de uma corrida, prefiro hidratar-me com água. Mas isto não quer dizer que beba 1 litro de água antes de começar a correr.  Pelo contrário! Uma boa hidratação tem a ver com a água que ingerimos constantemente, nos dias antes de uma prova e não nos minutos antes. Por isso bebo cerca de 2 lt de água todos os dias.

Durante as corridas opto por uma bebida que tenha a quantidade adequada de carbohidratos, mas que também tenha sódio e sais minerais, para repor aquilo que vou perder com a transpiração. Caso não tenham uma bebida com carbohidratos, pelo menos misturem na vossa água um pó com sais minerais e eletrólitos para repor aquilo que vão perder com a transpiração. Eu utilizo os "sticks" 4 Active Electrolytes da Gold Nutrition. Se não tiverem nada disto em casa, não hesite e juntem um pouco de flor de sal (meia colher, ou mesmo uma colher de café mal cheia) à água que levam para correr.

Para transportar a vossa hidratação preferida, podem usar desde "soft flasks" para levar na mão, cintos com porta-bidons e mochilas com hidratação, não há desculpas para não o fazerem. Se o calor é mesmo muito e não se importam com um "extrazinho" de peso adicional, congelem metade do líquido no bidon e depois encham com a outra metade normalmente (sim. Desta forma, enquanto correm, o gelo vai derretendo e o líquido manter-se-á mais fresco durante mais tempo.

Quando terminar a corrida, bebam pequenas quantidades de água, mas com a máxima frequência possível, para ir repondo e mantendo a hidratação constante.

 

3. Sódio e sais minerais

No caso de se sentirem desidratados (quando o corpo já não responde, com tonturas, visão dupla, etc), convém ter à mão algum tipo de SOS. Recentemente descobri os pacotinhos de eletrólitos 4 Active Electrolytes que, como já disse no ponto anterior, são uma das melhores soluções que utilizo atualmente para misturar na água ou na vossa bebida energética preferida (como não têm sabor, nem se notam). Em caso de SOS, também são optimos para mandar pela goela abaixo (se o fizerem, tenham à mão uma pinga de água para ajudar a engolir o pó), principalmente quando o calor é extremo e os níveis de transpiração debilitam rapidamente os níveis de sódio e minerais no orgamismo.

 

4. Procurar as sombras

Em alguns locais, as sombras podem ser poucas ou inexistentes. Sempre que virem uma sombra, aproveitem, reduzam o ritmo e façam até uma pequena pausa para se refrescarem. Idealmente, se estiver muito calor, escolham correr num percurso mais abrigado do sol.

 

5. Levar identificação e dinheiro

Sempre que vou correr e levo ou a mochila de hidratação ou o cinto, faço-me acompanhar por algum dinheiro. O suficiente para, se ficar "atolado" em algum lado, ou se a coisa correr mesmo mal longe de casa, poder sempre apanhar um transporte e regressar. Quanto muito, para poder comprar uma garrafa de água fresquinha e me refrescar. Durante as provas? Também! Principalmente no trail, nunca se sabe o que poderá acontecer e por que sítios vamos andar, portanto mais vale prevenir do que remediar... E sim, também levo o meu Cartão do Cidadão.

 

6. Usar roupas transpiráveis

Se são calorentos e não gostam de usar muito tecido quando correm, optem por usar roupas leves e transpiráveis e que sequem rapidamente quando estão ensopadas. Este tipo de equipamento vai manter o suor longe do contacto com o corpo, melhor do que se usássemos uma t-shirt normal de algodão, que além do mais irrita a pele. Já experimentaram ficar com os mamilos em sangue durante uma corrida? Provavelmente tem a ver com a fraca qualidade do têxtil que estão a vestir, que quando está molhado (seja com a chuva ou com o suor) irrita facilmente a pele mais sensível dos mamilos.

 

7. Atenção ao estômago

Costuma dizer-se que, se os músculos da zona abdominal estiverem bem trabalhados, não corremos tanto perigo com a exaustão e desidratação. E isto tem sido uma regra de ouro para mim em alturas críticas de treino. Experimentem de 15 em 15 minutos colocarem a mão sobre o estômago e sentir a temperatura. Se estiver fresco moderado, tudo bem. Se estiver muito quente, cuidado! Procurem uma sombra e façam uma pausa para se re-hidratarem.

 

8. Apontar os treinos para o nascer ou pôr do sol

O nascer do sol acompanha a hora mais fresca do dia. Se puderem encaixar, tentem treinar a esta hora. Se não puderem, tentem treinar na hora do pôr do sol. Claro que se não tiverem nenhum destes horários disponíveis, sejam conscientes e vão prevenidos.

 

9. Escutar o corpo

Cada um conhece o seu corpo melhor do que ninguém. Se estão a correr e se sentem com tonturas, desidratados, desorientados, procurem sair do sol imediatamente. Bebam água fresca com moderação ou molhem a cabeça para baixar a temperatura corporal. Se puderem arranjem uma toalha fresca e coloquem-na na testa e na parte de trás do pescoço, para ajudar a refrescar. Só vocês sabem quanto podem aguentar e, se está a custar demasiado, não há necessidade nenhuma de se armarem em heróis.

 

10. Dizer a alguém para onde vamos

Não importa se é para 3 km ou 30 km, digam sempre a alguém onde vão treinar ou onde vai ser a prova e a que horas pensam regressar. Usem o Whatsapp para partilhar a localização (eu faço isso com a minha mulher, sempre que saio para treinar de bicicleta). Não queremos que nos aconteça nada, mas se alguma coisa acontecer, convém alguém estar preparado para agir.

 

Mais sugestões?

E pronto, estas são 10 sugestões que deixo para que a experiência de correr ao sol e com calor não seja uma má experiência. Espero que seja útil e que pelo menos contribua para evitar que apanhem um escaldão numa prova a não sei quantos quilómetros de casa, sem água na garrafa e sem forma de regressar. Corram... mas em segurança!

Têm mais dicas para partilhar? Façam-no aqui! Quem vai correr nos próximos dias agradece. Qual é a dica que seguem mais frequentemente?

 

  Fonte: Wrecking Routine  

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