Ter | 29.10.13
A "parede" é previsível... para alguns corredores!
José Guimarães
Entre o pessoal que costuma correr maratonas é frequente ouvirmos falar de "esbarrar contra a parede" como algo que acontece perto da dezena de quilómetros finais da corrida e que nos deixa sem forças, sem vontade, de rastos... por ali mesmo. Os corredores de distâncias mais curtas raramente experimenta "a parede", mas parece que acontece com muita frequência nas maratonas. Porquê? O fator glicogénio
A tal "parede" acontece quando um corredor esgota por completo as suas reservas muito limitadas de glicogénio, uma fonte de combustível baseada em hidratos de carbono, utilizada principalmente para provocar as contrações musculares necessárias à corrida. O corpo é capaz de armazenar glicogénio suficiente para fazermos face a uma corrida curta, mas quase nunca o suficiente para chegarmos à meta de uma maratona, principalmente se o ritmo for mais agressivo. Esta explicação geral para este fenómeno encontrou consenso geral entre a comunidade científica. No entanto, alguns corredores "esbarram contra a parede" mais cedo do que outros... e parece que outros não esbarram de todo. Mais: entre esses corredores que não sentem o efeito da "parede", alguns são capazes de correr a um ritmo muito mais elevado. Desta forma, obviamente a questão do glicogénio torna-se um assunto individual. Assim sendo, quais serão os fatores específicos que determinam o risco de esgotamento das reservas de glicogénio durante uma maratona? E como é que esses fatores podem ser usados para prever quando poderá acontecer o esgotamento dessas reservas para um indivíduo e, desta forma, ajudá-lo a escolher o seu melhor ritmo para a maratona, ajudando-o a evitar "esbarrar contra a parede"? Há alguns anos atrás, um cientista do MIT respondeu a esta questão com um modelo matemático onde descobriu que os principais fatores que determinam quão rápido e longe um corredor pode correr antes de esgotar as suas reservas de glicogénio são o seu VO2 Max, a relação entre a massa muscular nas suas pernas e a do resto do corpo, bem como a concentração de glicogénio nos músculos das pernas e no fígado:- Quanto mais alta for a capacidade aeróbica de um atleta, mais rapidamente ele conseguirá cobrir a distância de uma maratona, desde que tenha as reservas de glicogénio adequadas.
- Quanto maiores forem os músculos das pernas do atleta, relativamente à sua massa muscular geral, mais alta será a percentagem de VO2 Max que este conseguirá ter durante a distância da maratona, porque uma massa muscular mais baixa significa um custo energético menor na corrida e quanto maiores forem os músculos das pernas, mais espaço haverá para armazenar glicogénio.
- E (obviamente) concentrações maiores de glicogénio nas pernas e no fígado irão aumentar a capacidade de resistência do corredor. Treinar intensamente aumenta a capacidade de armazenar carbohidratos. Armazenar carbohidratos e descansar antes das provas (taper) permite aos corredores explorarem essa capacidade.