Este ano voltei ao trail running. Foi um ano em que aconteceram algumas mudanças na minha vida, que fizeram com que, por um lado, me dedicasse mais ao desporto mas, por outro, estivesse um pouco afastado das provas. Mas estou a regressar. E estou a regressar não só de forma pessoal, como também profissional, a este mundo tão apaixonante que é o trail running. Uma das mudanças que aconteceram, entre outras (como ter passado a ser um homem casado), foi ter tirado o curso de Técnico de Exercício Físico, que assim me permite passar aos outros, de forma profissional, o meu conhecimento nestas andanças da corrida, do exercício físico e, em geral, de um modo de estar na vida ativo, afastado do sedentarismo. Outra das coisas boas que voltaram a acontecer foi o novo convite da FOX para filmar a 3ª série do ABC do Running (fiquem atentos ao canal, pois em breve estará no ar), como sempre patrocinada pela SEAT, que desta vez apostou no Trail Running. E, como a data das filmagens era coincidente, a prova escolhida para ilustrar a modalidade foi o AX Trail, mais concretamente o TSL (Trail da Serra da Lousã), ou seja, 50 km pela serra da Lousã adentro. E que bem que soube! Soube bem, mas já estava muito desabituado a estas andanças. O tipo de terreno tem que ser preparado, e os treinos na estrada não são propriamente o mais adequado para esta modalidade. Falo de treinos na estrada, pois tem sido aquilo a que me tenho dedicado mais, já que, depois de ter feito o meu primeiro Ironman, o meu próximo objetivo é acompanhar um bonito grupo à Maratona de Sevilha, uns para fazer a distância rainha pela primeira vez, outros pela segunda, outros para irem em busca de recordes pessoais, mas todos muito focados. Mas os treinos na estrada não nos dão asas para voar na serra. Dão-nos algumas pernas, é certo. Mas falta, por exemplo, treinar o volume (quase 10 horas a correr também tem que se treinar), o tipo de terreno e, acima de tudo, falta treinar o desnível, seja a subir ou a descer. A prova na Lousã foi, talvez por isso, um pouco custosa. Mas como o meu registo era mais trabalho do que propriamente competição (comigo próprio, lá está), deu para gerir bem o esforço e chegar ao final sem um grande "empeno".
Resumindo o Trail da Serra da Lousã
O ritmo foi, desde o início, calmo. Os 2 ou 3 engarrafamentos com o pessoal mais lento que partiu à minha frente contribuíram um pouco para refrear os ânimos (nesta prova, talvez ainda falte uma valente "parede" logo no início, para dispersar mais os atletas e fazer logo ali a chamada "seleção natural"). Deu para ir acelerando com o passar dos quilómetros, puxando aqui e ali (divertindo-me MUITO nos fantásticos "single tracks", por exemplo) e gerindo bem as subidas menos técnicas, com uma boa postura corporal e uma boa cadência de respiração e assim, conseguir uma boa progressão sem muito esforço. Apesar do frio, estava o clima ideal para correr. Para correr mas sem parar, já que, por exemplo, os poucos minutos parado no primeiro abastecimento em Cerdeira com cerca de 10ºC (não estavam mais, pois não?) conseguiram enregelar-me até aos ossos!!! Mas já só faltava metade da primeira subida do percurso, que nos iria levar até ao Trevim, bem no topo da serra da Lousã, a cerca de 1200m de altitude. Com frio, vento e nevoeiro... o truque é mesmo não parar! A partir daí, continuando rumo ao Coentral (20km) e depois até ao abastecimento no Talasnal (30km), ainda com uma valente subida pelo meio até ao parque eólico, estava então despachada mais de metade da prova e, certamente, ultrapassada também a parte mais difícil e tecnicamente mais exigente. E isto poderia dar-me algum alento, não fossem as pernas estar já muito cansadas e desgastadas, muito por culpa do divertimento que são os trilhos e as descidas técnicas da Lousã (mas como são divertidos!!!). Aqui uma nota muito positiva para a sola Soft Ground dos meus Salomon Wings 8 SG (SG quer dizer mesmo isso), que estavam no seu parque de diversões por excelência. O terreno mole e húmido criado na serra pelos últimos dias de chuva tinham tornado todo o percurso numa autêntica diversão, para quem gosta de trilhos rápidos, técnicos, mas seguros. Nota também muito positiva para a organização que, em toda a prova tem certamente umas das melhores e mais visíveis marcações que conheço e que, este ano, primou por uns abastecimentos à altura do desafio que organizou. Até a minha manteiga de amendoim da Prozis havia nos abastecimentos, tal como uma bela canja (que cai sempre tão bem), disponível no último posto de abastecimento, em Gondramaz. Daqui até à meta foi gerir o esforço, mantendo o cérebro ligado para "azares" inesperados, não evitando que nos perdêssemos no final do último trilho, nem mesmo um mega tropeção que dei num passeio, mesmo à entrada da Vila da Lousã, entre as muitas pessoas que apoiavam e aplaudiam os atletas (e que se riam de outros, como eu).
Concluindo e rematando
Ignorando depois os dois dias seguintes em trabalho com o ABC do Running, novamente a subir e a descer trilhos na serra e nas aldeias de xisto (que me deixaram as pernas feitas num autêntico "fanico"), não só gostei deste regresso aos trilhos, como cada vez mais me convenço que a natureza é o meu habitat, que o trail running é um dos meus desportos favoritos, e que a natureza será, sem qualquer dúvida, algo que farei por usufruir e preservar o melhor que posso até ao fim dos meus dias, passando sempre que possível essa mensagem a todos os que a queiram receber. A este propósito, deixo uma nota muito negativa para as dezenas de saquetas de gel que ainda continuo a apanhar ao longo do caminho, deixadas sem qualquer respeito pela natureza, por atletas que, certamente, não percebem que o trail running não é um desporto só deles, mas é, isso sim, um desporto para todos, principalmente para quem gosta de o praticar em todas as suas vertentes (inclusive o respeito pelo meio em que o mesmo se pratica). Se querem que tudo corra bem, recordem e pratiquem a máxima: "Não tirem nada a não ser fotografias. Não matem nada a não ser o tempo. Não deixem nada a não ser pegadas." Até breve Lousã!!! ;)
Depois de ter feito o meu primeiro Ironman no passado mês de agosto, no domingo voltei às provas, desta vez para fazer a Rock 'n' Roll Maratona de Lisboa. Ia sem expectativas, pois os treinos não tinham sido muito regulares, nem tão pouco "científicos". Ia ver no que dava... e deu 3h17 (tempo oficial). Como? Deixo-vos algumas (as minhas) pistas. Antes de mais tenho que começar por dizer que cada pessoa é um caso isolado. Quer isto dizer que, as adaptações aos treinos, a resistência física e até mental, a resposta a todas as variáveis que podem ser encontradas ao longo de uma época de treinos e de uma prova podem ser completamente diferentes entre pessoas aparentemente iguais, ou até com o mesmo tipo de estímulo (treino). Alinhei na partida da Maratona de Lisboa pela segunda vez, tendo a última sido há 2 anos. Desta vez, vim para Cascais com mais elementos do meu grupo Corrida Noturna do Parque das Nações, uns com o objetivo de concluir a sua primeira maratona, outros de melhorar tempos e recordes pessoais. Outros elementos do grupo foram para a Ponte Vasco da Gama, para fazer (e todos com sucesso) a meia distância, alguns também pela primeira vez. Como dei o meu tempo oficial da Maratona de Lisboa feita há 2 anos atrás (3h15), valeu-me partir bem à frente do pelotão de gente que alinhou este ano em Cascais, naquela manhã fresca de domingo. Fresca até um certo ponto (por causa da previsão de calor, a partida foi adiada para as 8 horas, note-se), pois a partir de uma certa altura, o calor tornou-se abrasador, quase ao ponto de ser insuportável e causar mossa. Mas já lá irei. Depois da partida à hora certa, o percurso deste ano rumou para a estrada do Guincho, o que faria aumentar os kms logo ao início, para a chegada ter lugar, não no Parque das Nações, como nas edições anteriores, mas sim na Praça do Comércio, o que se revelou uma opção acertadíssima por parte da organização, em benefício de todos: atletas e acompanhantes. Nestes primeiros quilómetros, feitos de forma calma, mas nunca demasiado lenta, ao entrar na zona da Guia, senti aproximar-se de mim o "pacer" das 03:15 horas e, como eu me estava a sentir a rolar bem nessa manhã, optei por me manter junto a este pelotão. O rolar bem significava, neste dia de prova, apostar tudo na melhor forma possível de corrida. Apostar bem na forma de correr, significa tornar tão consciente como natural o movimento biomecânico de cada passada, a posição e firmeza do corpo, a postura, a cadência da respiração, o instante e a forma como cada pé atacava e se impulsionava do solo. Tinha mesmo que me esforçar por tornar todos estes processos o mais fluídos e naturais possível. E sim, foi possível. Pelo menos durante a maior parte do percurso. Assim fiz, sempre colado ao grupo do "pacer" das 03:15 horas e a fazer como os quenianos fazem nas provas, aproveitando os outros atletas do pelotão para me proteger do vento... ir na roda, portanto! E, no meio de tudo isto, hidratar regularmente (um gole de água praticamente em todos os abastecimentos), ingerir um gel de 10 em 10 kms, logo a partir do km 5 (ou seja, aos 5km, 15km, 25km e 35km) e uma pastilha de sódio e sais de hora em hora. Esta estratégia permitiu-me manter facilmente o mesmo ritmo ao longo de quase toda a prova, passar a marca da meia maratona (na Parede) com 1h37 e chegar a Belém sempre no mesmo ritmo, com conversa pelo meio e sempre um clima de boa disposição entre todos os que rolavam naquele grupo. Mas aqui as coisas começaram a falhar. Além do cansaço se começar a apoderar do corpo (3 horas a correr são 3 horas a correr, não dá tréguas), o calor começava a aumentar drasticamente, fazendo com que cada vez mais a forma de corrida que me permitiu chegar ali em boas condições, se transformasse numa coisa cada vez mais sem forma. Começavam a falhar os glúteos e os posteriores das coxas, tinha uma contratura nas costas que não sei de onde apareceu... talvez devido a alguma tensão acumulada. O que é certo é que, nesta fase da prova, em vez de rolar, já me sentia a esforçar, o que originava que a manutenção daquele ritmo se tornasse incomportável por muito mais tempo. E assim foi... À chegada ao Cais do Sodré e já com a meta quase à vista, a redução do ritmo era inevitável. Eu e o meu companheiro do Oriental já só víamos o nosso "pacer" à distância. Mas, afinal de contas, a nossa corrida já estava feita e como faltavam pouco mais de 2 quilómetros para cortar a meta, optámos por baixar o ritmo e assim aproveitar aquela "volta de honra" para ver umas caras conhecidas, dar "high-fives" aos mais novos, e passar o arco da Rua Augusta com um sentimento de missão cumprida. Foi bom. Foi uma boa corrida. E fez-me concluir várias coisas: Uma: que focar na forma de corrida resulta; Duas: que não treinei o suficiente para esta prova; Três: que em grupo se corre muito mais facilmente (acho que foi a primeira vez que fiz uma maratona quase sempre num pelotão); Quatro: que, no final de tudo, sabe bem estarmos satisfeitos com nós próprios. A todos os maratonistas e a todos os que fizeram a meia maratona, fica a dica: preparem-se o mais adequadamente para os vossos desafios e, nos mesmos, não descurem as coisas que aprenderam no caminho. No final do desafio, estarão todos de parabéns!