Hoka Rincon: para treinar muito e voar baixinho
Estávamos no mês de março quando entrámos em estado de emergência, por causa da pandemia da Covid-19. De repente deixámos de poder correr na rua, deixámos de poder ir ao ginásio (porque tiveram que fechar portas) ou à piscina (pela mesma razão). Deixámos de poder pedalar tranquilamente as 3 ou 4 horas habituais aos domingos de manhã. Obrigaram-nos a ficar em casa e, com isso, virámo-nos para dentro. E porque ter que ficar fechado em casa não poderia nunca ser sinónimo de sedentarismo, procurámos alternativas. Pela nossa saúde! E assim apareceu (ou reapareceu com mais força) o treino virtual.
Uma das coisas que a tecnologia permitiu nesta altura foi que, quem tivesse uma bicicleta com um rolo eletrónico, pudesse de repente ligar-se a uma app como o Zwift ou a Rouvy e treinar. Não só treinar como também entrar em autênticas competições virtuais, sim, uns com os outros, cada um no conforto (pois sim!!!) do seu lar. Algumas dessas competições online foram organizadas pela conhecida marca Ironman que, tendo que cancelar praticamente todas as provas no mundo inteiro, começou a organizar provas virtuais, online, chamadas Ironman VR. Não fiz muitas, mas com a motivação certa proporcionada pelo grupinho da Ontrisports ainda fiz da IM VR2 à IM VR6 (já vão na VR19). E com isto, não só mantive (e confesso que acho que ganhei) a forma, como pude transformar o suor em recompensas, como vouchers de desconto na Ironman Store... um dos quais troquei por um desconto para comprar umas sapatilhas que já andavam debaixo de olho há algumas semanas: as Hoka Rincon Ironman (sim, são uma edição especial Ironman). E chegou a altura de falar sobre elas.
Porque escolhi estas sapatilhas?
Antes de mais cabe-me começar por dizer que, quando se escolhe umas sapatilhas para correr, tem de se ter em conta o porquê de comprar um determinado modelo e não outro. No meu caso, a escolha das Hoka Rincon recaiu pela falta que me estava a fazer um modelo de sapatilhas reativo, mas não ao nível das Hoka Carbon X ou das Nike... qualquer umas daquelas com placa de carbono e que pesam pouco mais que um par de meias.
As Hoka Rincon pareceram-me um modelo suficientemente leve, mas não tão leve que deixasse de ter estrutura, estabilidade e algum nível de proteção do pé. Também me pareceram reativas o suficiente, sem chegarmos aos valores dos modelos que têm a placa de carbono na entre-sola (nunca sei como é que isto se escreve).
Também me pareceram suficientemente estáveis, sem que pesassem meio quilo cada uma, ou que tivessem a estrutura de uma traineira, daquelas que protegem tanto o pé que ele chega ao fim sufocado de tanto aperto. Mesmo assim, espero que aguentem pelo menos uns bons 300 kms de treinos de qualidade, sendo que por treino de qualidade se esperam treinos de séries mais rápidas, com ritmos iguais ou abaixo dos 4'/km. Para os treinos mais "ronhonhós" tenho outras sapatilhas para gastar sola.
Primeiras sensações
Quando calço umas sapatilhas pela primeira vez, o primeiro feeling que o pé tem é muito importante, mesmo sem ainda ter começado a correr. O pé tem que se sentir confortável e, no caso das Hoka Rincon, o conforto é assegurado não só ao nível da palmilha, como também no upper, leve, sem exageros, suficientemente arejado para não aquecer demasiado os pés.
Já a correr, talvez esperasse sentir um pouco mais de apoio na zona dos dedos, se bem estes não só encaixam bem na zona desenhada para eles, como o foco em cada passada não deve ser aqui, mas sim como dizem os ingleses: "running with the ball of your feet", que é como quem diz, sentir que o peso apoia no osso cuneiforme medial do pé (vá, pesquisem aqui e aprendam coisas interessantes sobre a nossa anatomia), logo antes do primeiro metatarso. E aqui o conforto é perfeito, não em demasia, para assim ainda conseguirmos sentir todas as sensações que devemos sentir na planta do pé, isto enquanto corremos. Coisas importantes da propriocepção. Corri 2 kms muito tranquilos para começar, seguidos de 2 kms mais ativos para as começar a aquecer. E até aqui tudo bem. Mas e a corrida a sério? Aquele impulso para ajudar a correr mais rápido? Como é?
Corrida "a sério"...
Bom, não é a correr "mole" que se testam umas sapatilhas. Portanto tive que escolher um treino a sério para as testar. O treino que o Sérgio Santos me receitou foi assim: 2k Z1 + 2k Z2 + (4 x 2k Z4 c/ 300m Z1) + 1k Z1. Podem clicar e ver no Strava que é mais fácil perceber. E dito isto, depois dos primeiros 4k, foi a vez de dar corda aos... Hoka Rincon!!!
Aqui notam-se duas coisas: primeiro não se nota aquela resposta meio bruta que senti quando me deixaram experimentar na 4Run as Hoka Carbon X, com aquela queda muito acentuada para a frente e com aquele impulso maluco da placa de carbono. No entanto, as Hoka Rincon não deixam de agradar a quem procura 1º reatividade no impulso e 2º estabilidade no contacto com o solo. E isto numas sapatilhas com apenas 218gr (!!!).
Claro que no início tudo são rosas. Mas quando já só nos falta a última repetição de 2km abaixo dos 4'/km, como é que é aí? Mais uma vez as Hoka Rincon não desiludiram. Basta ajudar com a postura corporal correta, esquecer o cansaço e voltar a focar na passada certa, e lá está novamente aquele impulso da sola na fase final da passada, a dar a motivação necessária para levarmos o treino até ao fim. E importante: acabar com os pés fresquinhos q.b. no final de 1 hora de treino é obra!
A minha conclusão
Quanto a mim, assim de repente acho que encontrei as minhas sapatilhas para treinos longos/ bem feitos/ rápidos dos próximos tempos... esperemos que até ao Ironman Cascais, porque me trazem as características que necessito para os meus treinos mais desafiantes: a estabilidade e amortecimento q.b., a reatividade e a leveza, o arejamento e o conforto em geral, fazem das Hoka Rincon um prazer para correr com um sorriso no rosto.
Também me parecem indicadas para aquela meia maratona, ou para aquela maratona mais rápida... Será que ainda vou a tempo de testar isto? ;)