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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

Ter | 01.06.21

A corrida do Zé, do Carlos, da Maria, do Rui, a corrida de todos!

José Guimarães

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Na 4ª feira às 16:00 horas, o para sempre atleta olímpico Carlos Lopes dava o tiro de partida do desafio chamado 100 Anos 100 Horas. Tratava-se da corrida comemorativa dos 100 anos da Federação Portuguesa de Atletismo, organizada pela Associação de Atletismo de Lisboa, e tive o prazer de alinhar logo no início desta verdadeira epopeia a correr integrado na equipa da Associação Corrida Noturna Parque das Nações. Sim, vim morar para o Lumiar, mas ainda dou lá uma perninha (mesmo!) de vez em quando.

Fomos convidados um pouco em cima da hora. O desafio consistia em correr durante 100 horas seguidas, em equipa, por estafetas, com o objetivo único de levar o testemunho até ao fim do tempo estabelecido. Fosse a correr, fosse a caminhar, teríamos a única obrigação de ter o testemunho sempre em andamento na pista. E digamos que estávamos meio em pânico quando, 1 semana antes do evento, ainda nos faltavam 40 slots de horas para preencher. É que, sem atletas suficientes para fazer as horas todas, corríamos o risco de não conseguir manter o testemunho sempre em pista, o que não era uma opção. Mas aqui entra o que me leva a escrever este artigo.

Se geralmente uma corrida tem como objetivo principal percorrer uma certa distância no menor espaço de tempo possível, a iniciativa 100 Anos 100 Horas tinha como objetivo percorrer a maior distância possível (ou o maior número de voltas à pista) durante as ditas 100 horas. E claro que, perante equipas com nomes sonantes como o Belenenses, ou a própria AAL, nunca teríamos hipóteses de ganhar alguma coisa, portanto nunca alinhámos com espírito competitivo, mas sim de união. Afinal de contas, desde o momento da sua criação que a Corrida Noturna do Parque das Nações existiu para juntar pessoas que tinham como ponto em comum o gosto pela corrida (ou caminhada), não importa se mais ou menos rápido. O importante - sim - sempre foi que todos se pudessem divertir enquanto praticavam atividade física, num calendário regular (treinos no Parque das Nações, todas as 3as e 5as feiras às 20:00 horas, faça chuva, faça sol). Sempre foi esta a nossa missão! E também foi este o espírito com que nos lançámos à estafeta 100 Anos 100 Horas. Muito pessoalmente, confesso que nunca na vida me passou pela cabeça que pudéssemos andar a disputar lugares no pódio. Mas a verdade é que aconteceu!

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Nos últimos dias antes da prova, a vontade de participar parece que aumentou e os atletas apareceram. O que é certo é que, depois de uns apelos nas redes sociais e aos nossos amigos, às páginas tantas já não tínhamos mais horas disponíveis no calendário para mais pessoas, mas sempre aceitámos que se juntassem ao nosso grupo, não fosse o caso de haver desistências de última hora, coisa que é muito normal acontecer em eventos. Mas mais uma vez, isto também não aconteceu. E na verdade, sempre tivemos mais e mais pessoas a aparecer para, enquanto a prova decorria, ajudar os nossos atletas em pista a suportar ou o frio das noites, ou o calor (e que calor!!!) dos dias, ou as pernas cansadas, a fadiga acumulada, o que fosse.

A prova em si não tem muito mais história. Correr à volta de uma pista não tem propriamente muita magia, não fosse esta pista ser o Estádio de Honra do Jamor, onde já se bateram tantos e tantos recordes nesta e noutras modalidades. A história faz-se, portanto, de pequenas magias que vão acontecendo e que foram acontecendo à medida que as horas passavam no relógio. A estratégia de cada um correr 1 hora mudou, tivemos ultramaratonistas, sprinters, fundistas e meio fundistas, caminhantes, tivemos de tudo. E entre tudo, foi com surpresa que de repente andávamos "taco a taco" com outras equipas de outros campeonatos. Foi com maior surpresa que, de repente, nos vimos em terceiro lugar da geral, com distâncias de voltas que andaram entre as 100 voltas, 50 voltas, 20 voltas... para voltar às 100 voltas, por aí... Foi bonito de assistir a sacrifícios pessoais, físicos, mentais. Foi bonito de ver principalmente atletas de outras equipas dispostos a ajudar outros em dificuldades, mesmo que fossem de outras equipas. Foi bonito ver o espírito de união entre todos, corresse a coisa melhor, ou pior. Não... pior nunca! Feitas as contas, mesmo com alguns azares e trapalhadas pelo meio, não posso dizer que algo tenha corrido verdadeiramente mal. Somos melhores pessoas se aprendermos com o que de pior possa acontecer, se cairmos e nos levantarmos, olharmos em frente e continuar. Porque sempre ouvi dizer que para a frente é que é caminho. E é para a frente que se faz a corrida. A corrida única que cada um de nós tem para fazer e que, consequentemente, há de ajudar a de quem nos acompanha. É simples afinal correr. E é bonito! :)

No final, cabe-me encher o peito de orgulho. Não por mim (apesar de ter gostado do que se passou entre as 3h e as 7h da madrugada de domingo... e mais uma tantas perninhas durante a tarde), mas por todos aqueles que se uniram de uma forma que nunca antes tinha visto, só para poder gritar no final que foram os melhores! Não, não ganhámos. Fizemos 2.842 voltas à pista e percorremos 1.137 kms e ficámos em 3º lugar, atrás do Belenenses e do Linda-a-Pastora. Mas fomos os melhores pela forma como levámos o desafio até ao fim, cada um à sua maneira, certamente uma maneira vencedora.

Parabéns à Ana,  à Paula, ao António e ao Alberto, à Ana,  ao André, ao Nuno, à Alexandra, ao Paulo, ao Carlos, ao Diogo, ao Domingos, ao Fernando, à Fernanda, à Inês, à Isilda, ao Joel, ao José(s), ao João, ao Luis, ao Miguel, ao Armando, à Marianela, à Nélia, ao  Nelson, ao Pedro, à Regina, ao Ricardo, à Rita, ao Rui, ao Sérgio, à Lurdes, ao Tiago, ao Vasco, à Vanda, à Tânia... e a todos os outros que por algum motivo não couberam na minha lembrança, mas que em tudo contribuiram para um final Feliz!

 

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