Conhecem? Eu não conhecia. Mas o que me faz gostar de "andar por aqui" é o facto de podermos estar constantemente a aprender coisas novas! Ontem, em conversa com um amigo que vende suplementos desportivos, abordámos uma coisa chamada "a dieta do paleolítico". Embora pelo termo o meu senso comum possa tirar algumas conclusões imediatas, desconhecia de todo que tal coisa existisse... mas o que é facto é que cheguei a casa e, após umas quantas pesquisas simples na internet, consegui perceber que não só existe como é algo que muita gente leva muito a sério. E vendo bem a coisa, tem a sua razão de ser. Senão vejamos: Também conhecida como Paleodieta, baseia-se na alimentação praticada pelos nossos ancestrais paleolíticos, seguindo os hábitos alimentares vigentes antes da possibilidade de se cozinharem os alimentos e antes de terem iniciado as actividades de produção agrícola. Sendo já um autêntico sucesso em países como França, tornou-se popular a partir da década de 70 e foi difundida pelo gastroenterologista Walter L. Voegtlin. Este regime alimentar consiste basicamente em procurar evitar os problemas de digestão causados por incompatibilidades alimentares, depois de se chegar à conclusão que os alimentos que causam mais alergias são os laticínios de origem animal, as farinhas refinadas e os fermentos. É em torno desta premissa que gira a dieta do paleolítico, que incide na ingestão de carne, peixe, ovos, legumes e frutas, tal como os nossos ancestrais faziam. Como é que funciona? O argumento desta dieta é o de que a genética humana mudou muito pouco desde a idade da pedra e que os humanos são seres geneticamente adaptados à dieta dos paleolíticos. No entanto, não só os hábitos alimentares mudaram radicalmente, como novas substâncias foram introduzidas e num espaço de tempo relativamente curto: nos últimos 100 anos conhecemos coisas como corantes, conservantes, aditivos alimentares e organismos geneticamente modificados. Uma vez que os defensores da dieta Paleolítica afirmam que as enzimas digestivas podem demorar entre 5.000 e 10.000 anos para se desenvolverem em resposta ao contacto repetido com novos alimentos, desta forma as enzimas do organismo humano não seriam muito diferentes das enzimas dos ancestrais paleolíticos e, por essa razão, a falta de enzimas adequadas para metabolizar os alimentos que ingerimos actualmente pode mesmo ser responsável pelo surgimento de algumas doenças crónicas. Portanto, de acordo com esta teoria, a dieta ideal para manter a saúde e bem-estar deveria ser desenvolvida a partir da dieta dos ancestrais deste período. Que alimentos compõem esta dieta? O que pude concluir depois de observar alguns modelos de dieta baseadas neste modelo paleolítico é que as mesmas diferem muito pouco entre si, apresentando basicamente na sua composição alimentos como carne, peixe, vegetais e frutas. Os alimentos que não são passíveis de serem consumidos crus e sem processamento são excluídos da dieta. A melhor forma de saber quais os alimentos que fazem parte da dieta paleolítica é ir por exclusão das famílias de alimentos que não fazem parte da mesma: açúcar ou quaisquer alimentos com adoçante; leite e todos os alimentos lácteos; cereais e todos os alimentos produzidos com cereais; batata ou batata doce; leguminosas, incluindo, feijão, soja e lentilhas. No caso dos laticínios, apesar de poderem ser comidos crus, devem ser evitados por serem alimentos da era pós-agricultura.
Sob o ponto de vista nutricional, a dieta do paleolítico tem as seguintes características:
É muito rica em fibras (algumas raízes, abundante quantidade de folhas, frutos, bagas e sementes);
É muito rica em proteínas (carne de caça, ovos, peixe, marisco e bivalves);
Tem uma grande quantidade de óleos polinsaturados essenciais ómega 3 (peixe, marisco e bivalves);
É muito rica em vitaminas, minerais e antioxidantes (abundante quantidade de folhas, frutos, bagas);
Tem uma quantidade moderada de gordura saturada (a carne de caça é pobre em gordura saturada e tem alguns óleos ómega 3);
Não tem hidratos de carbono de alto ou médio índice glicémico;
Não tem produtos lácteos nem derivados.
Em resumo podemos dizer que a dieta do paleolítico era rica em proteínas, moderada em gordura, baixa a moderada em carbohidratos, rica em fibras, com baixo teor de sal e muito rica em vitaminas, minerais e antioxidantes. São preferidos os frutos silvestres, evitando os frutos que sofreram alterações com vista à melhoria de produção e com maior valor calórico. Muito raramente pode ser usado mel.
Pontos positivos:
É uma dieta rica em fibras, proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes;
Apresenta grande quantidade de gordura polinsaturada;
Baixo teor de sódio;
Evita alimentos industrializados;
Dieta pouco alergénica.
Pontos negativos:
Pobre em carbohidratos;
Exclui os lacticínios e derivados;
Pode prejudicar a vida social do praticante, devido às severas restrições alimentares.
Na opinião dos profissionais... A grande quantidade de frutas e vegetais presentes nesta dieta permitem o consumo de uma quantidade variada de vitaminas e minerais, além do alto teor de fibras. Estas características podem ser favoráveis ao organismo, evitando doenças que aparecem por causa de carências, como por exemplo a anemia, melhorando o funcionamento do intestino e prolongando a sensação de saciedade. Além disso, pode conter um grande número de substâncias antioxidantes, o que pode diminuir o risco de ocorrência de determinadas doenças crónicas, como o cancro, a diabetes, doenças cardiovasculares, etc. O baixo teor de sódio e de alimentos industrializados contribuem também para uma alimentação mais saudável, visto que estes alimentos são geralmente ricos em gorduras e podem conter componentes alergénicos, devido aos conservantes, corantes e aditivos químicos. No entanto, dada a baixa quantidade de carbohidratos, poderá à partida não ser muito interessante para os atletas, pois fornece valores baixos de energia, os níveis de serotonina (hormona responsável pelo humor, pelo sono, etc.) podem diminuir, a hipoglicemia gerada pelo baixo nível de carbohidratos pode causar déficit cognitivo, dificuldade de aprendizagem, etc. No entanto, é possível adaptar a dieta Paleolítica às necessidades de cada um, introduzindo fontes de amido como os tubérculos (batata, batata-doce, inhame) assim como a banana. Outro factor a ser considerado é a exclusão dos laticínios, já que isto diminui drasticamente os níveis de cálcio, mineral extremamente importante para o desenvolvimento de funções metabólicas do organismo, como a formação dos ossos, dentes e contração muscular. Antes de embarcar em alguma aventura que desconhece, já sabe que, para a sua segurança e para o melhor sucesso da sua dieta, o melhor é procurar sempre um nutricionista. Fonte: Nutrilogia, Viva Saudável, Nutrição em Foco