A importância do período de "tapering"
O termo "taper" foi utilizado pela primeira vez em 1947 pelo treinador olímpico australiano de natação Forbes Carlile, que descobriu que os seus nadadores tinham um desempenho muito melhor quando diminuíam a intensidade dos treinos nas últimos três semanas antes de uma competição. Foi só mais tarde que esta descoberta também foi utilizada noutros desportos de resistência, como a corrida.
A explicação bioquímica para a redução gradual é que, ao proporcionar descanso ao corpo, pode-se recuperar do choque de semanas e meses de treinos duros e, desta forma, ter mais hipóteses para um desempenho de topo. O treino pesado realizado pelo atleta antes da corrida agride e esgota o seu corpo, reservas de glicogénio e hormonas, prejudicando a resistência natural e causando danos musculares subtis. O período de "taper" permite que o corpo reponha todas essas reservas e repare os tecidos musculares, para que possa estar alinhar na linha de partida totalmente recuperado e na sua forma ideal.
Para a maior parte dos corredores, um período de redução gradual pode durar entre 10 a 21 dias, dependendo da duração da corrida - quanto maior a corrida, mais tempo de "taper". Durante este período, o corredor deve diminuir a sua quilometragem semanal entre 30% a 85%. Embora alguns sugiram uma diminuição gradual no volume de treino, um estudo científico realizado em 1999 mostrou que, durante 14 dias, uma diminuição rápida da quilometragem em 50% durante os primeiros três dias, seguida de 75% nos outros três dias e continuado num constante decréscimo nos últimos oito dias, resulta numa melhor performance na corrida. Também foi demonstrado que, ao contrário da crença normal, a corrida durante o período de redução gradual deve ser feita em alta intensidade. Treinos intervalados em ritmo de corrida de 5K e ritmos rápidos são aconselhados.
Os corredores evitam muitas vezes o período de redução gradual, porque têm medo de perder a forma física. Este é um medo sem fundamento e é demonstrado pelos exemplos de grande sucesso no atletismo, que se seguiram a um período de não-treino. Muitas vezes, esses períodos de descanso não foram adoptados voluntariamente, mas sim impostos por circunstâncias externas. Um exemplo que todos conhecemos é o caso do Carlos Lopes, que venceu a Maratona Olímpica de 1984 após um acidente que o impediu de fazer qualquer treino durante os últimos 10 dias antes do evento. Joan Benoit venceu a EUA Olimpic Marathon Trial, depois de uma cirurgia ao joelho a ter forçado a reduzir o seu treino, um pouco antes da corrida. Ela atribuiu mesmo a sua vitória ao facto de que a cirurgia a tinha obrigado a treinar menos. Outra prova desta fórmula é a história de como o imortal corredor checo Emil Zatopek se tornou o campeão da Europa em 1950, nos 5.000 e 10.000 metros. Apenas dois dias antes do evento, ele teve alta do hospital, após uma doença o ter obrigado a passar duas semanas inteiras de cama, impedindo-o de fazer qualquer treino. E Roger Bannister só conseguiu quebrar a barreira dos 4 minutos na distância da milha e estabelecer o recorde mundial da distância, depois de ter passado uma semana de escalada na Escócia, em que não fez qualquer tipo de treino.
A conclusão óbvia é que descansar antes da corrida é uma obrigação para qualquer atleta que queira dar o seu máximo numa competição. Parece estranho que essa estratégia, tantas vezes comprovada e testada, ainda seja mal vista por um grande número de atletas. No entanto, como se costuma dizer, "menos é mais", tanto na vida como no desporto.
Fonte: Ezine@rticles