Foto: Sandra Ramos Claro - Correr Lisboa Passaram-se 3 anos desde que fiz a minha primeira maratona. Pouco tempo depois de ter começado a correr - no início de 2011 - meti na cabeça que queria concluir uma maratona, ainda nesse mesmo ano. Pareceu-me um bom desafio pessoal, isto para um recém-desempregado que ainda não sabia que rumo dar à sua nova vida. Seguiram-se 6 meses de treinos que, tanto quanto me lembro, foram cumpridos religiosamente. Diziam as "más" línguas que eu iria fazer um bom tempo então, mas não fazia ideia. Fui sem grandes expectativas e iniciei a prova junto do pace das 4:00 horas. Cumpri o meu objetivo na Maratona de Munique, em 3 horas e 38 minutos, aniquilando com isso qualquer tipo de possibilidade de passeios pedestres (por muito leves que fossem) nos dias que se seguiram a essa conquista. Relato da minha primeira maratona: Munique 2011 Depois de ter concluído esse primeiro grande objetivo, descobri meio por acaso uma nova paixão: o trail running (ao qual se juntaram as ultra maratonas), modalidade que me levou a conhecer mais Portugal em 3 anos do que aquele que conheci em toda a minha vida. Não sei quantos quilómetros acumulei mas, entre Portugal, Espanha e os Alpes, foram com certeza muitos os trilhos que percorri. No entanto, a vontade de voltar a fazer uma maratona de estrada vinha a ganhar cada vez mais presença. Porquê, se gosto tanto de trail? Talvez para ver que tal me sairia agora, depois de tantas corridas, tantos treinos e tantas horas passadas no ginásio com o António Nascimento. Tudo isto não poderia resultar na mesma performance de há 3 anos atrás. Todo este tempo a treinar (embora para outros objetivos) teria que resultar em, na pior das hipóteses, demorar o mesmo tempo a concluir os 42km, mas desta vez com menos esforço. Estava - penso eu - acima de tudo curioso. E pude matar essa curiosidade no passado domingo, dia em que concretizei essa vontade que já há algum tempo chamava por mim. Concluí aquela que foi a minha segunda maratona de estrada, desta vez em Portugal, Lisboa: a Rock 'n' Roll Maratona de Lisboa. Desta vez fazia todo o sentido que fosse aqui.
Como correu a minha segunda maratona
A partida foi dada com uns minutos de atraso depois das 8h30 horas. Saí de Cascais a acompanhar o pace das 3:30 horas, mas era tanta a densidade populacional à volta deste senhor, que ainda antes da saída da vila já tinha optado por acelerar a passada e tentar alcançar o pace das 3:15 horas. Acho que o apanhei pouco depois do Estoril, para só o largar alguns quilómetros mais tarde. Não por escolha própria, mas por puro esquecimento, não usei relógio com GPS. Com as pressas matinais (recordo que fiz questão de apanhar o comboio que saía do Cais do Sodré às 06h30) deixei-o em casa. Dica: preparem sempre as coisas na noite anterior e com tempo... Apesar disto, tinha o meu telemóvel no cinto de hidratação e assim ainda deu para ir fazendo o registo da prova. No entanto, aquilo que poderia ser um factor de stress (não ter como controlar o tempo, os kms, o ritmo) acabou por me permitir fazer uma corrida tranquila. Tranquila porque foi feita à moda antiga, respeitando apenas o meu ritmo natural que - achava eu - me permitiria chegar ao final tranquilamente sem pressas, sem dores. Assim sendo, concentrei-me essencialmente na hidratação, em adoptar uma postura sempre o mais correta possível, uma passada bem ritmada e uma cadência de respiração adequada a não forçar muito o andamento. No entanto, ainda não tinha uma meia maratona nas pernas e já tinha deixado o último pace para trás. "Isto está a correr demasiado bem" - pensei eu. E pensei bem. Na chegada à Praça do Comércio e na subida pela Rua do Ouro até aos Restauradores, as minhas pernas já ferviam e os quadricípedes e os gémeos pareciam querer saltar cá para fora! A descida de regresso à Praça do Comércio sempre deu para aliviar um pouco a pressão, mas a partir daí o caminho até ao Parque das Nações seria penoso! Tão penoso que, a pouco mais de 7 kms da meta, numa altura em que tinha energia para acelerar mas as pernas se recusavam a tal esforço, vi passar por mim o "bandeirola" das 3:15 horas... "$%&#@!" - pensei eu! "Se ele já aqui vai novamente, eu tenho que ser capaz de o acompanhar"! Mas não fui. Estranhamente ele ia a um ritmo que eu não fui capaz de manter por mais de 2 minutos. Estranhamente ele ia sozinho. Pareceu-me que ia rápido demais. Mas vai daí, também acho que já não conseguia discernir muito bem o que era rápido do que era lento. Optei por manter o ritmo, fazer a minha corrida e aguentar assim até ao fim. E assim fiz. A muito custo, já com os gémeos e os tendões de Aquiles a quererem bloquear a qualquer instante, entrei no Parque das Nações, seguindo lado a lado com um amigo de uma qualquer equipa azul. Não me lembro que equipa era, mas lembro-me (e ele com certeza também) de, ao contornamos a a rotunda da Alameda dos Oceanos, mesmo em frente à Pro Runner, sermos quase atropelados por um atleta em ritmo de sprint, que em vez de contornar a rotunda por fora, preferiu passar pelo meio de nós os dois (já disse que íamos lado a lado, ombro com ombro?), empurrando-nos, a mim para a estrada, ao outro para dentro da rotunda, quase nos fazendo cair... para quê? Para bater um record? Para fazer menos 2 minutos do que nós? Enfim (porque é que eu não vejo disto nos trails?)... Avenida D. João II, meta a menos de 2 kms, surpresa das surpresas, vejo o pace das 3:15 horas a correr muuuuito devagarinho. "Pronto, já percebi" - pensei. "Vinha depressa demais e agora está a compensar... então eu até não estava assim tão mal quanto isso". Mas este não passou de um pensamento motivacional. Não posso fazer um balanço do mal que se está pelo tempo que se faz numa prova como estas, mas sim pela forma como ficamos nos dias a seguir à mesma. O tempo que se faz é muito relativo quando as mazelas são enormes e eu não fiquei bem tratado. Só ontem tive coragem para dar uma corridinha muito leve, ainda com dores nos gémeos e nos tendões. Hoje voltei a correr (pouco) e amanhã irei mais um bocadinho, para ver se no domingo estou sem dores e capaz de me ir divertir para a Arrábida (aqui sim). Concluí a minha segunda maratona de estrada em 3 horas e 12 minutos. Concluí-a com um sentimento misto de, por um lado, ter sido bem sucedido, mas, por outro lado, de ter arruinado aquela que devia ter sido uma semana de corridas leves de recuperação e preparação para os 100 km no UTAX - Ultra Trail das Aldeias do Xisto, estes sim, importantes para ir conquistar os pontos que me faltam para a inscrição no UTMB 2015. Sim... é claro que quero voltar aos Alpes o mais rapidamente possível! É nos trilhos que gosto de correr, é nas montanhas que gosto de respirar ofegante, é nas subidas e descidas que as minhas pernas se sentem em casa. Um dia hei de voltar a fazer uma maratona de estrada, mas só um dia... talvez daqui a outros 3 anos. Obrigado à Sandra Ramos Claro do Correr Lisboa pela foto da chegada.
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