Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

02.04.12

Como foi correr nos Trilhos do Almourol


José Guimarães
Isto de correr cada vez distâncias maiores tem muito que se lhe diga. E tem tanto a ver com a corrida em si, como com o que se passa antes e depois da corrida terminar. E se alguém ainda tem dúvidas, bastará participar numa prova deste género para que qualquer dúvida se dissipe imediatamente. Confesso que foi com alguma ansiedade que esperei pelo dia desta prova. Depois do azar com o meu tendão de Aquiles e depois de ter decidido simplesmente inscrever-me, estava com boas expectativas para a mesma, até porque os treinos sempre correram francamente bem e as amizades feitas noutras provas, essas, lá estariam à espera e prontas a enfrentar mais um desafio de longa distância. Quanto a mim, tenho consciência de que tudo fiz para que a prova corresse bem e, analisando bem as coisas, não me posso queixar nada!   Antes da prova começar Foi em grupo que saímos no sábado à tarde de Lisboa em direcção a Abrantes, onde ficámos para uma boa noite de descanso de sábado para domingo. E se a noite foi descansada, já a manhã nos brindou com uma boa chuvada logo desde as 7h00, para logo tornar a ansiedade ainda maior, já que correr 43 km à chuva é uma experiência completamente diferente. Bem nos lembramos do que foi o nosso primeiro contacto com o mundo do trail running no Grande Trail da Serra d'Arga, com nevoeiro, chuva, vento e granizo, tudo à mistura! Mas neste Trilhos do Almourol não chegámos a tanto. Como na noite anterior tínhamos ido recolher os dorsais ao pavilhão do Entroncamento, estávamos prontos logo desde bem cedo e quando chegámos ao recinto tivemos tempo para reencontrar aquelas caras conhecidas. E foi sobre isto mesmo que comecei a falar no início do artigo: é espantoso ver a quantidade de gente que, de umas provas para as outras combinam encontrar-se, esperam poder reencontrar-se, ou que simplesmente se reconhecem. Pessoas que, partilhando um bem em comum - a prática de desporto -  sorriem e abraçam-se, recordando outras provas, peripécias e sempre desejando boa sorte e muita força para um evento que, afinal, puxa pelo que de melhor temos dentro de cada um de nós. E foi assim que, tanto no pavilhão, como nos autocarros que nos levaram até ao local da partida na Aldeia do Mato, como mesmo poucos minutos antes da prova, nos reunimos todos: amigos, companheiros de treinos, conhecidos, estávamos lá todos, até mesmo alguns que não esperaríamos ver! Ainda bem. Parte da força que nos move vem daqui mesmo...   Partida e... toca a correr à séria! E a partida foi dada poucos minutos depois das 10h00, hora de início pouco habitual para provas longas, mas que afinal até não constituiu um factor problemático, já que o tempo esteve sempre encoberto e foram muito poucas as vezes que o sol se mostrou. Senão o calor tinha sido um problema sério! Já assim, o tempo húmido e abafado bem que puxaram pelo "cabedal" dos atletas... e esse, esteve sempre a ser testado! Para quem, como eu, pouca experiência tem em provas de trail, corrijam-me se estiver enganado, mas ouso dizer que esta deve ser das provas de trail mais rápidas do nosso calendário, não? Notem-se bem os tempos dos primeiros classificados (pouco mais de 3 horas e meia) e o meu próprio tempo (4h52, não oficial)... para mim, fazer menos 2 horas do tempo que tinha feito na minha última prova, os Trilhos dos Abutres, foi obra! Mesmo que tenham sido provas totalmente diferentes. E não é que eu faça dos tempos algo fundamental na minha participação, até porque o objectivo nestas provas é, antes de mais, chegar ao fim... e chegar bem! Mas ter uma noção de que se corre melhor ou pior de uma prova para outra é gratificante. E, conseguir perceber isso, mais do que com os tempos, mas sentindo como o nosso corpo se comporta durante a prova e saber geri-lo, respeitando a sua vontade, além de gratificante é, pelo menos para mim, instrutivo! Foi portanto uma prova rápida! Com piso muito semelhante ao de Sintra ou da Arrábida, frequentemente tínhamos estradões para correr (e correr bem), como lá apareciam umas subidas para quebrar o ritmo... e umas descidas, que para mim foram o que esta prova teve de mais bonito! Trilhos algo técnicos, entre árvores caídas, ramos e pedras, obstáculos sempre ultrapassados num ritmo muito rápido, aos quais também se misturavam descidas muito interessantes e divertidas de fazer, por vezes com piso muito solto e que tornava a aderência dos sapatos um factor importante. Ah!!! Os meus Raptor estão de parabéns! Revelaram-se uma escolha fenomenal para este percurso, não só pelo conforto proporcionado, como pela aderência. E, de facto, uma estabilidade maior proporciona uma corrida muito melhor e mais eficiente. Portanto (tirando o pormenor que já referi no Facebook, sobre a pala dos atacadores estar sempre a deslizar para o lado) estou plenamente satisfeito! Quanto a mim, fiz sempre tudo como mandam as regras, começando um pouco mais devagar nos primeiros 8 km (até ao primeiro posto de abastecimento) e a partir daí começando a aumentar o ritmo. Tive o prazer de correr sempre na companhia do meu amigo Nuno Azevedo, que me acompanhou sempre desde a partida e a quem se vieram juntando aqui e ali mais alguns participantes, uns conhecidos, outras novas amizades que certamente se encontrarão noutras provas. Infelizmente, quando a mim me começavam a ceder os quadricípedes, a ele falharam-lhe os gémeos: um "belo" par de caimbras fez com que a 5 km da chegada tivesse mandado umas asneiras para o ar, que me fizeram parar também, não fosse algo de grave ter sucedido. Felizmente não foi nada de grave. Com bom senso disse-me para continuar e depois de uns minutos a recuperar, também ele continuou, com a enorme força de vontade que o fez chegar ao fim somente uns minutos atrás. Uma nota final para a excelente organização da prova que foi sempre visível, tanto na perfeita sinalização do percurso, nos colaboradores que ajudavam nos cruzamentos mais complicados, ou mesmo nos postos de abastecimento, onde a simpatia estava sempre presente. Uma nota muito positiva também para a entrada no Castelo de Almourol, que sem dúvida traz um toque bem diferente e genuíno a esta prova!   No final... Já aqui referi que estas provas valem, não só pela prova em si, mas também pela envolvente que se pode sentir no início e depois da prova terminar. É obrigatório falar na gratificação que se sente ao cortar a meta abraçado a um companheiro de corrida, no apoio dos amigos que nos esperam à chegada, ou invertendo posições, no acto de esperar pelos que sabemos virem lá mais trás. E ver toda esta gente reunir-se novamente no final é, sem dúvida alguma, mais gratificante do que qualquer prémio que se possa levar para casa. Como não podia deixar de ser, nesta prova fizeram-se novas amizades e solidificaram-se as que já existiam, pelo que com certeza continuarei a colocar a minha participação nestes eventos como algo essencial para o meu desenvolvimento pessoal e na minha conquista por novos (e mais ousados) objectivos. Ver amigos a ultrapassar obstáculos, sejam físicos ou mentais, uns que mudam de 21 km para 43 km só porque apetece, pela "pica" do desafio, assistir a entorses, quedas, caimbras e faltas de ar que, no final, por si só ou com a ajuda de uma mão amiga, acabam por não significar nada, só pode ser a prova que há mais no trail running do que só a corrida em si. E quem tenha dúvidas que venha experimentar, não custa nada. E se custar alguma coisa, alguém vai ajudar!

3 comentários

Comentar post