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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

Qui | 19.10.17

Como terminar uma maratona em pouco mais de 3 horas

José Guimarães
Depois de ter feito o meu primeiro Ironman no passado mês de agosto, no domingo voltei às provas, desta vez para fazer a Rock 'n' Roll Maratona de Lisboa. Ia sem expectativas, pois os treinos não tinham sido muito regulares, nem tão pouco "científicos". Ia ver no que dava... e deu 3h17 (tempo oficial). Como? Deixo-vos algumas (as minhas) pistas. Antes de mais tenho que começar por dizer que cada pessoa é um caso isolado. Quer isto dizer que, as adaptações aos treinos, a resistência física e até mental, a resposta a todas as variáveis que podem ser encontradas ao longo de uma época de treinos e de uma prova podem ser completamente diferentes entre pessoas aparentemente iguais, ou até com o mesmo tipo de estímulo (treino). Alinhei na partida da Maratona de Lisboa pela segunda vez, tendo a última sido há 2 anos. Desta vez, vim para Cascais com mais elementos do meu grupo Corrida Noturna do Parque das Nações, uns com o objetivo de concluir a sua primeira maratona, outros de melhorar tempos e recordes pessoais. Outros elementos do grupo foram para a Ponte Vasco da Gama, para fazer (e todos com sucesso) a meia distância, alguns também pela primeira vez. Como dei o meu tempo oficial da Maratona de Lisboa feita há 2 anos atrás (3h15), valeu-me partir bem à frente do pelotão de gente que alinhou este ano em Cascais, naquela manhã fresca de domingo. Fresca até um certo ponto (por causa da previsão de calor, a partida foi adiada para as 8 horas, note-se), pois a partir de uma certa altura, o calor tornou-se abrasador, quase ao ponto de ser insuportável e causar mossa. Mas já lá irei. Depois da partida à hora certa, o percurso deste ano rumou para a estrada do Guincho, o que faria aumentar os kms logo ao início, para a chegada ter lugar, não no Parque das Nações, como nas edições anteriores, mas sim na Praça do Comércio, o que se revelou uma opção acertadíssima por parte da organização, em benefício de todos: atletas e acompanhantes. Nestes primeiros quilómetros, feitos de forma calma, mas nunca demasiado lenta, ao entrar na zona da Guia, senti aproximar-se de mim o "pacer" das 03:15 horas e, como eu me estava a sentir a rolar bem nessa manhã, optei por me manter junto a este pelotão. O rolar bem significava, neste dia de prova, apostar tudo na melhor forma possível de corrida. Apostar bem na forma de correr, significa tornar tão consciente como natural o movimento biomecânico de cada passada, a posição e firmeza do corpo, a postura, a cadência da respiração, o instante e a forma como cada pé atacava e se impulsionava do solo. Tinha mesmo que me esforçar por tornar todos estes processos o mais fluídos e naturais possível. E sim, foi possível. Pelo menos durante a maior parte do percurso. Assim fiz, sempre colado ao grupo do "pacer" das 03:15 horas e a fazer como os quenianos fazem nas provas, aproveitando os outros atletas do pelotão para me proteger do vento... ir na roda, portanto! E, no meio de tudo isto, hidratar regularmente (um gole de água praticamente em todos os abastecimentos), ingerir um gel de 10 em 10 kms, logo a partir do km 5 (ou seja, aos 5km, 15km, 25km e 35km) e uma pastilha de sódio e sais de hora em hora. Esta estratégia permitiu-me manter facilmente o mesmo ritmo ao longo de quase toda a prova, passar a marca da meia maratona (na Parede) com 1h37 e chegar a Belém sempre no mesmo ritmo, com conversa pelo meio e sempre um clima de boa disposição entre todos os que rolavam naquele grupo. Mas aqui as coisas começaram a falhar. Além do cansaço se começar a apoderar do corpo (3 horas a correr são 3 horas a correr, não dá tréguas), o calor começava a aumentar drasticamente, fazendo com que cada vez mais a forma de corrida que me permitiu chegar ali em boas condições, se transformasse numa coisa cada vez mais sem forma. Começavam a falhar os glúteos e os posteriores das coxas, tinha uma contratura nas costas que não sei de onde apareceu... talvez devido a alguma tensão acumulada. O que é certo é que, nesta fase da prova, em vez de rolar, já me sentia a esforçar, o que originava que a manutenção daquele ritmo se tornasse incomportável por muito mais tempo. E assim foi... À chegada ao Cais do Sodré e já com a meta quase à vista, a redução do ritmo era inevitável. Eu e o meu companheiro do Oriental já só víamos o nosso "pacer" à distância. Mas, afinal de contas, a nossa corrida já estava feita e como faltavam pouco mais de 2 quilómetros para cortar a meta, optámos por baixar o ritmo e assim aproveitar aquela "volta de honra" para ver umas caras conhecidas, dar "high-fives" aos mais novos, e passar o arco da Rua Augusta com um sentimento de missão cumprida. Foi bom. Foi uma boa corrida. E fez-me concluir várias coisas: Uma: que focar na forma de corrida resulta; Duas: que não treinei o suficiente para esta prova; Três: que em grupo se corre muito mais facilmente (acho que foi a primeira vez que fiz uma maratona quase sempre num pelotão); Quatro: que, no final de tudo, sabe bem estarmos satisfeitos com nós próprios. A todos os maratonistas e a todos os que fizeram a meia maratona, fica a dica: preparem-se o mais adequadamente para os vossos desafios e, nos mesmos, não descurem as coisas que aprenderam no caminho. No final do desafio, estarão todos de parabéns!