Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

10.06.13

Competir e aprender no Triatlo do Ambiente


José Guimarães

Ao que vim a saber, o Triatlo de Oeiras (ou Triatlo do Ambiente), organizado pela Câmara Municipal de Oeiras e pela Federação de Triatlo de Portugal é uma das provas "clássicas" do triatlo nacional, entre mais uma ou duas que se destacam no calendário. Uma ótima prova para uma estreia, pensei. Apesar de no ano passado ter provado pela primeira vez, exatamente neste sítio, a que é que sabe um triatlo (na prova aberta, ou Super Sprint, que consiste em 300m de natação, 10km de bicicleta e 2,5km a correr), considero que este ano foi o ano da minha estreia oficial, já que tive direito a treinador, plano de treinos, equipa, fato da equipa... e apesar de no processo de mentalização dizer muitas vezes cá para comigo "usufrui, vai com calma", é certo que os nervos e a ansiedade andam de mãos dadas nestas coisas. E se não misturamos um bocadinho de sangue frio, algumas coisas podem mesmo vir a correr mal. Não foi o caso, mas bem que podia ter sido!

 

As expectativas e a &#§€!@ da ansiedade!!!

Antes de mais, no triatlo não tenho (ou não tinha) termos de comparação com nada. Se hoje posso ir para um trail de 50km ou de 100 km e saber o que é passar mais de 20 horas numa corrida, ou enfrentar desníveis positivos de mais de 6.000m com meteorologia de toda a espécie e feitio (e por vezes muito mau feitio), no triatlo não fazia a mínima ideia sobre ou que pode acontecer, alguma expectativa de tempos, nada! Tirando a parte da corrida, que remédio tinha eu senão mesmo usufruir em pleno do que ia fazer. E o que é que eu ia fazer? Ia nadar, depois pedalar e depois correr. Ponto! Sempre ouvi dizer em casa dos meus pais: "quem vai para o mar avia-se em terra". Quer isto dizer que o melhor que temos a fazer nestes casos é mesmo jogar pelo seguro, pela antecipação. E logo aqui há que registar um erro (talvez o mais grave), pois em vez de chegarmos ao local e termos ido tratar imediatamente do check-in para deixar o material no parque de transição, não. Em vez disso fomos ver amigos, conversar, socializar... e o tempo a passar. Moral da história, quando fomos para o check-in, no horário antes da nossa prova, estava tanta gente à espera que no momento em que entrámos no parque já eram horas de sair deste. Note-se: sair, já equipados para o início da natação. Claro que se até aqui já estávamos ansiosos e o nervosismo via-se em cada sorriso amarelo que trocávamos, nem vos digo como ficávamos à medida que os minutos passavam. Resultou isto em quê? Nada de grave, é certo. Mas que podia ter corrido mal, podia.

 

Primeiro que tudo, a natação

Chegados à praia uns breves 5 minutos antes da partida, ainda deu para mergulhar e dar duas ou três braçadas na água fresquinha, isto enquanto o diretor da prova dizia pelo megafone que tínhamos que sair da água porque se ia dar início à prova. Beijinhos e abraços dados e "boas sortes" desejadas aos amigos, duas corridinhas feitas em oito e uns abanões rápidos nos braços para aquecer, ainda estive 1 minuto com os óculos postos antes de ouvir a buzina da partida. Este minuto foi crucial. Permitiu-me praticar algo que mais tarde partilharei aqui com vocês, mas que se traduz em simplesmente parar, estar, acalmar todo o corpo e tomar consciência de onde estava, do terreno que pisava com os pés descalços (sabe bem, para variar), da respiração e do que iria fazer de seguida. Pode parecer estranho, mas é mais ou menos como que um estado de transe, um processo de mentalização e visualização do resto da prova, em que me consigo transportar para dentro de água, sentir-me a nadar, a trocar de equipamento, a pedalar, a correr... Engraçado isto, porque depois daquela carga de stress inicial, foi no momento em que estava mais calmo que ouvi a buzina da partida e, enquanto corria para dentro de água, só pude sorrir e soltar um "VAMOS A ISTO!!!", enquanto entrava mar adentro. O percurso de natação consistia em fazer 750m à volta de duas bóias montadas em frente à praia, neste caso na parte que fica já fora da linha do Forte de São Julião. Contornadas as duas bóias, temos que regressar à areia em direção ao  pórtico montado à beira mar e regressar ao parque de transição para iniciar o segmento de ciclismo. Ora já toda a gente sabe que é frequente existir no segmento de natação muita confusão e recordo a minha experiência no Super Sprint do ano passado, em que contabilizei uma patada na barriga e uma cotovelada num olho, que me ia enfiando os óculos pela órbita adentro! Desta vez consegui nadar sem muita confusão até à primeira bóia, mantendo-me sempre no meio do mesmo grupo, sempre com o nadador da minha direita (lado da respiração) debaixo de olho, mas também sempre que possível o da esquerda. Tudo sem confusões, à excepção de um nadador que (talvez meio confuso) nos atravessou a todos da esquerda para a direita, para ir contornar logo a primeira bóia, a da prova de Super Sprint (montada sensivelmente a meia distância da nossa primeira bóia). Contornada a primeira bóia do nosso percurso sem grandes problemas, atingi a segunda bóia num ápice e, após ter contornado também esta, nunca mais perdi de vista o pórtico montado na praia. Nem o pórtico nem o gajo da direita, que agora teimava em cada braçada que dava, agarrar-me no braço ou atirar-se mais para cima de mim. Mas até isto foi bem controlado, pois consegui dar um pouco mais aos braços e pernas e, já com o fundo do mar a ver-se, libertar-me para um local isolado onde consegui nadar até tocar com as mãos no chão (momento em que nos devemos levantar e só aí começar a correr). Daqui ao parque de transição foi um "tirinho", sem sequer sentir grandes tonturas ao sair de dentro de água. Como mandam as regras, touca sempre posta e, enquanto não se chega ao nosso local, ir tirando o fato até à cintura o melhor possível.

 

Depois veio o ciclismo

Uma das grandes dúvidas que já trazia de longe era o que fazer com os sapatos de ciclismo. Sairía a correr do parque de transição com os sapatos calçados e prendia-os aos pedais só depois de saltar para a bicicleta, ou levava-os já presos aos pedais? Depois da sessão de meia horinha em que treinei algumas vezes a entrada e saída da bicicleta, cheguei à conclusão que usando os sapatos de triatlo que o Pedro e o Vítor da Rotapro me aconselharam, o melhor seria deixá-los já presos à bicicleta. A partir daí o processo seria saltar descalço para cima de um dos sapatos e sentar-me na bicicleta, começando a pedalar assim mesmo descalço, só calçando os sapatos já em andamento e, portanto, com mais equilíbrio. Com umas ajudas preciosas do Armando (obrigado amigo!) e com uns elásticos milagrosos (que permitiram manter os sapatos sempre na horizontal, antes de serem calçados), esta revelou-se ser a melhor técnica, já que me permitiu sair com rapidez na bicicleta, sem qualquer desequilíbrio. A partir daqui a palavra de ordem era: pedalar!!! Desde que entrei na Marginal até perto do ponto de retorno montado aos 5km em Algés, fui praticamente sempre sozinho. Ora passando uns atletas mais lentos, ora sendo ultrapassado por outros mais rápidos, um pouco depois do Jamor, já na reta do Dafundo, fui passado por um atleta (não sei quem era, nem de que clube, mas obrigado!), com uma bicicleta Isaac laranja e preta, que me dirigiu algumas palavras e a quem me colei de imediato. O ritmo era um pouco mais forte do que o meu, mas assim ele "levava-me" de certeza até ao fim como eu queria. Depois do retorno, o percurso era agora feito com vento de frente. Optando por me manter ora lado a lado com o meu companheiro de estrada, ora atrás dele, assim fomos até próximo da estação de Caxias. Aqui um novo fator novidade para mim: descobrir o prazer de se andar em pelotão. Não sei quantos eram (acho que nesta fase já não sabia contar com precisão), mas creio que contei mais de 20 ciclistas. Alcançaram-nos e passaram com uma "pirisca" tal, que o meu primeiro pensamento foi: muito rápidos, deixa-os ir. Mas depois de passarem, estão a ver a sensação de de repente desaparecer vento, frio, tudo? Vácuo, parecia um autêntico vácuo! A partir daqui a viagem foi um passeio no parque. Sei que ia mais rápido, pois estava a controlar as mudanças em que ia, mas creio que estava a pedalar com metade do esforço de quando ia sozinho. Tanto que já depois da praia de Santo Amaro, nas centenas de metros finais e no momento em que começávamos a abrir os sapatos e a tirar os pés para preparar a saída, ainda tive "pedal" para sair do meio da cauda do pelotão e chegar a um ponto no meio deste, com menos confusão... para evitar algum encosto não previsto. E depois foi, tal como tinha treinado antes, uma saída perfeita. Saímos da marginal, entrei na zona de desmontar já com os pés de fora dos sapatos... e foi só alçar a perna para o lado de cá, fazendo um número meio de equilibrismo, para com um pequeno salto sair na perfeição de cima dos pedais e manter o passo de corrida, já com a bicicleta pela mão.

 

E por fim... a corrida!

O stress final era agora saber onde era o nosso local para deixar a bicicleta e calçar os sapatos para a corrida. Uma vez que as pressas iniciais não nos tinham sequer deixado ver qual era o local reservado para nós (o local do clube, onde o Paulo Ferreira tinha estacionado o seu equipamento... sozinho), a única coisa que eu sabia era que tinha de encontrar o meu cesto branco com os ténis vermelhos lá dentro, quase no final do tapete do parque de transição. Pacífico, lá estavam eles! E como mandam as regras, primeiro encaixei a bicicleta no suporte, calcei os ténis, tirei o capacete, virei o dorsal para a frente e depois de beber os dois goles que restavam do isotónico da bicicleta, pus-me a caminho, com uma embalagem de gel na mão, preparada para ingerir logo no início. O episódio do gel (nunca façam isto numa corrida): como o gel da ZipVit tem cerca de 51gr de carbohidratos, a minha intenção era tomar a saqueta logo no início da corrida. Estupidamente (é que não tem outro nome mesmo) e com a mania das pressas, não agarrei numa garrafa de água que o staff dava logo no início da corrida. Na verdade não tinha sede, pois havia acabado de beber o resto do isotónico da bicicleta. Contudo, tinha o gel na mão e, mesmo sem água, optei por ingeri-lo. Resultado? Estão a ver um gajo a correr, a querer respirar e de repente tem a boca cheia de uma pasta nojenta que não entra nem sai? Lá consegui não sei como meter aquilo tudo para dentro, fazendo os possíveis para respirar o melhor possível e chegar rápido à praia de Santo Amaro, onde depois do ponto de retorno estava outra equipa a dar água. Aqui foi um alívio, pois consegui limpar a boca e beber o resto do gel que ainda restava dentro da saqueta. Esta estupidez fez-me perder algum andamento, principalmente porque a corrida rápida puxa muito pela minha respiração (será que foi por isso que apareço em quase todas as fotos a bufar como um perdido?) e como estava meio entupido, só consegui começar realmente a puxar pela corrida depois do primeiro retorno. A partir daqui foi acelerar aos poucos, ultrapassando uns atletas mais lentos, puxando e sendo puxado por atletas de outros clubes... e "dopando-me" claramente com o apoio da assistência incansável que gritava, batia palmas, tirava fotos e vibrava à nossa passagem! Obrigado a todos pelo carinho e pela força adicional, tão importante!

 

Conclusões do meu primeiro triatlo

Fosse como fosse, não só pelo tempo final que consegui fazer, mas principalmente pelo facto de ter corrido tudo de forma muito fluída, acho que o "bichinho" pegou e creio que vou gostar de repetir a dose. Quando? Ainda não sei. Mas sei que irei fazê-lo. Oportunidades não faltam! Há é que manter os treinos e melhorar alguns aspetos, muito em particular a falta de treinos de bicicleta na estrada, já que foi onde me senti mais a quebrar. Há que não esquecer também os sábios conselhos de quem sabe... principalmente aqueles que pudemos experimentar na pele que resultam quando são aplicados na prática e não resultam quando os esquecemos. E finalmente, como o nosso país é pequeno e o Facebook enorme, esta prova também fica positivamente marcada porque finalmente conheci pessoalmente o meu "tri-amigo" Luís Santos, dos Leões de Olhão, com quem já me "picava" saudavelmente online há algum tempo. Finalmente pudemos "medir forças" pessoalmente e oficialmente meu amigo. Venham muitas mais assim! Qual será a próxima?

1 comentário

Comentar post