Depois do delírio dos Abutres voltei ao alcatrão. Estou num processo de contagem decrescente para a reforma de “provas de estrada”, a qual conhecerá o seu início depois dos 42 em Sevilha. A minha curta experiência nas corridas já me permitiu fazer duas modestas “internacionalizações”: Amesterdão e Madrid. Quer numa, quer noutra, corri deliciada com as borboletas, fadas, bailarinas, power-rangers, he-man e outros super-heróis que se iam cruzando no meu caminho. Acreditem, os holandeses e espanhóis só podem levar a corrida muito a sério. Talvez por isso tenha desejado encarar os 20 km de Cascais com outra… Atitude. Acresce o facto de vivermos a época carnavalesca, ainda que, de Carnaval pouco se tenha ouvido falar este ano. Pensava encontrar mais gente mascarada. Não sucedeu. Eventualmente a prova de ontem tenha refletido a forma como o povo português vai encarando estes dias que vivemos. Não estamos contentes. Ponto final. No dia anterior havia lido um texto de um amigo que relatava uma história muito triste e profundamente tocante de uma mãe que, na impossibilidade de oferecer o que fosse aos seus dois filhos, havia feito pulseiras e arranjado um sorteio do relógio de parede da sua sala através da venda de rifas. Tudo feito de forma muito “honesta, sem lágrimas ou auto-comiseração”. Quando acabei de ler estas palavras pensei “nem tenho coragem de me mascarar amanhã”. Mas, o que é certo, é que no domingo acordei com outro ânimo e com vontade de contrariar os olhos tristes, ainda que sem lágrimas, que por aí andam. Assim, apoderada do mais requintado equipamento técnico que existe – disfarce de pirata – lá fui eu apreciar o que de melhor Cascais tem para oferecer – aquele percurso ladeado por mar, rocha, areia e, claro, a serra ao fundo. O disfarce de pirata não me tornou mais rápida. Desejei por momentos ter a minha caravela, aproveitando aquele vento e navegar à bolina. Mas, se o que pretendia era roubar sorrisos, então o objetivo foi alcançado. Várias crianças que passeavam por ali sorriram vendo uma pirata a correr. Ainda me cruzei com um super-homem e entusiasmei-me com os 10 metros que corri à sua frente. Mas, rapidamente fez uso da sua capa e nunca mais o vi. De toda a forma, hoje posso dizer com orgulho que corri com o super-homem! E… Falando em sorrisos… No próximo domingo decorrerá uma corrida solidária. Um grupo de voluntários apaixonado por corrida associou-se à Padaria Portuguesa, numa mega-ação para ajudar a Casa Mão Amiga, a qual acolhe crianças e jovens em situação de risco social. O valor da inscrição reverte na totalidade a favor daquela instituição, sendo que o número de inscritos já ultrapassa as duas centenas. Venham muitas mais iniciativas desta natureza. Espalharemos sorrisos, acarinharemos uma causa e, quem sabe, adie a minha reforma das provas de estrada. Desejos de uma ótima semana! Mais informações sobre o evento em http://facebook.com/apadariaportuguesa/