Este artigo deveria-se intitular "sem título", porque não se enquadra em nenhuma categoria de corridas. É que ontem foi dia de Natal. E ontem não corri. O meu último treino foi na 2ª feira (dia 24) de manhã. Fiz um treino de 15 km dentro de Lisboa e à noite empanturrei-me com um jantar cheio de sobremesas. Tantas que, depois das prendas à meia noite, o "remédio santo" foi um chá lá pelas 2h da madrugada, seguido de uma boa noite de descanso. Depois do almoço do dia de Natal também se seguiram coisas doces. E como não corri, parece que sinto o meu corpo mais "balofo", talvez à custa das rabanadas e de outras iguarias natalícias igualmente gulosas. Não lhes resisti. Mas nem lhes quis resistir. Fiz tudo aquilo que está escrito para não fazer no artigo do Nuno Caetano, no blog Correr por Prazer, viram? Se não viram, deviam ter visto. E assim sendo está mais do que decidido: amanhã de manhã vou transpirar, que isto assim não se aguenta...
Pensamentos enquanto se corre
Corria eu pelas ruas praticamente desertas da capital, bem cedo, nesta 2ª feira de manhã, véspera de Natal, naquela altura do dia em que a maior parte das pessoas que se vêem nas ruas habitam umas quantas pastelarias madrugadoras para beber o seu despertador chamado café. Nunca notaram como, por vezes, algumas pessoas vos olham enquanto passam a correr, principalmente se o fizerem a horas consideradas "impróprias" para qualquer tipo de atividade que não seja vegetar? Ora durante o meu percurso senti-me invadido mais do que uma vez por olhares estranhos à minha passagem. Estes olhares deixaram-me incomodado, pois carregavam dentro de si, ora uma espécie de melancolia miserável, ora de inveja e infelicidade. Seria por eu estar a correr com um ar saudável e satisfeito com a vida, enquanto eles vagueavam perdidos em pensamentos escondidos atrás das muitas nuvens de fumo do tabaco matinal. E sou capaz de garantir que alguns me "perguntavam" em câmara lenta coisas como: "porque é que são 7h30 e tu estás aí feliz, a correr... e eu não?", ou ainda o célebre "vai trabalhar malandro!!!". Juro que, por vezes, fizeram-me sentir que o meu papel deveria ser, não o de me sentir feliz por estar a fazer algo que gosto, mas em vez disso o de me remeter para uma existência cabisbaixa e sobrecarregada por problemas que, tal como a desses seres, se deixa absorver pelas notícias constantes sobre crise e austeridade. Não, desculpem, mas recuso-me! Como dizia o Miguel Esteves Cardoso, "A felicidade em Portugal é considerada uma espécie de loucura. Porquê? Porque os portugueses, quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles. Mais precisamente: com a miséria deles. Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém." E posto isto vesti um sorriso e continuei a correr até casa. E enquanto corria pensava no quão feliz fui nestes últimos tempos, principalmente depois da decisão de começar a correr, a praticar desporto à séria e a largar uma vida sem objetivos. Sim, eu sei que esta conversa dos objetivos é recorrente, mas vivo-a todos os dias. Aprendi imenso nestes quase 2 anos de corridas. Aprendi principalmente que é possível trazer do desporto para a vida do dia-a-dia inúmeras metáforas que me permitem superar obstáculos, típicos da falta de emprego ou de oportunidades. Para mim muito em particular, a corrida tem-me ajudado a focar a atenção naquilo que realmente importa na vida, a manter a sanidade mental em níveis aceitáveis, já para não falar num estado de saúde constantemente em alta, disponível para todo o tipo de exigências. A vida é feita de coisas bem mais importantes que uma carteira recheada, embora muito frequentemente nos esqueçamos disso. Querem experimentar um bocadinho desta fórmula que de mágica não tem nada? Saiam à rua e façam desporto! Corram, façam umas caminhadas. É bom e gratuito. É um convite!