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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

Seg | 10.03.14

Crónica de uma prova sempre a subir: Lousã 1000

José Guimarães
Eu não sabia o que esperar. Pedi dicas aos mais (ou menos) experientes. Uns disseram para comer mel da Lousã (que é de facto uma delícia). Outros amaldiçoaram-me... e benzeram-se. Outros ainda disseram-me para levar bastões (assim fiz) e alguma paciência. Ah!!! E protector solar, pois o sol ia aquecer durante a nossa subida até ao Trevim. E assim aconteceu. Passo a explicar - afinal - como é correr o meu primeiro km vertical.

Antes: a incógnita

No nosso grupo, que manhã cedo já se reunia no Hotel Palácio da Lousã (local magnífico escolhido pelo Montanha Clube Trail Running para fazer de quartel general da prova), nunca ninguém tinha feito um km vertical antes. Portanto, já aí estávamos cheios de dúvidas sobre o que nos esperaria naquele Lousã 1000, a mítica prova de 10 km e 1000m D+ que já não se realizava há 13 anos. Com dúvidas, mas sempre muito tranquilos e bem dispostos, acompanhámos primeiro a partida do autocarro dos caminhantes em direção ao Trevim (lá iria a Inês dar os primeiros passos de corrida - versão descendente - numa serra à séria) e de seguida reservámos os minutos antes da partida para uma corridinha de aquecimento, aproveitando para descontrair o corpo e a mente (que muita falta faz nestas provações mais... inclinadas). Amigos reencontrados, saudações feitas aos que alinhavam no pórtico... e aqui vamos nós!

Durante: as subidas!

E foi sempre a subir - claro está! Alguém da organização já me tinha dito antes que: "saindo do hotel, vira-se à direita e a partir daí é sempre a subir até ao Trevim"... e não estava muito longe da verdade. De facto, não há muito para contar senão dizer que foi uma prova sempre a subir. Começando pela estrada de asfalto (a tal com 20 kms de curvas e contra-curvas até ao topo da serra da Lousã), passados poucos minutos estávamos a virar à esquerda e a entrar pelo trilho no meio das árvores, continuando sempre a subir, claro. A minha estratégia para esta curta mas exigente prova passava por levar só um cantil pequeno à cintura com água, o suficiente para molhar a boca nos momentos mais ofegantes, já que a organização iria dispor de 3 pontos de abastecimento (um de líquidos e os outros com líquidos e sólidos) ao longo do percurso e não deveria ser necessário muito mais que isto. O primeiro posto de abastecimento apareceu pouco depois dos 3 kms. Aqui só parei o tempo suficiente para ingerir o gel que o Bruno me havia dispensado (obrigado amigo) e emborcar um copo de água, para logo seguir caminho rumo a uma rampa curta mas das mais íngremes do percurso. Ainda bem que aqui já podia contar com o gel, pois aqueles hidratos iam dar jeito daqui para a frente. Creio que foi aqui que ouvi a Inês a gritar o meu nome, vinha ela lá em cima a descer (que inveja) e eu a subir. Sem grandes paragens, uma foto, um beijo e umas palavras meio imperceptíveis da minha parte - tal estavam os meus pulmões a arfar - e segui caminho rampa acima, usando sempre os bastões bem esticados para ir buscar o chão lá à frente e o deixar lá bem atrás, empurrando o corpo o mais possível para diante.

O plano inclinado... mas para a direita

A pior parte do percurso (para mim, já explico porquê) creio ter surgido depois desta rampa. E não foi a subir. Foi quase plano, mas num terrível plano inclinado, durante o qual eu ia vendo que o meu tornozelo se separava do pé... ainda por cima afetava-me o pé lesionado. Foi trilho estreito e sempre, mas sempre inclinado para o lado direito (vertente direita - e mais ventosa - da serra) que tornou angustiante esta parte do percurso, ao ponto de ter que deixar a cabeça agir, optar por abrandar um pouco, para acelerar só depois do trilho acabar. Sentia o calcanhar a doer cada vez mais, embora mais lentamente a coisa desse para controlar relativamente bem. Portanto foi isso mesmo que fiz. A sorte foi este martírio ter durado poucos minutos. Pouco depois estávamos de volta a um estradão largo e desta vez com pouco desnível, que até deu para acelerar e soltar um pouco as pernas. Ufff, que alívio! [caption id="attachment_4745" align="alignright" width="150"]altimetria-lousa1000 Altimetria da prova[/caption] [caption id="attachment_4746" align="alignright" width="150"]mapa-lousa1000 Track do percurso[/caption]

A surpresa do final

Rondava ali o km 7 quando avistei as antenas do Trevim do meu lado direito e pensei - claramente foi isto que pensei: "agora vem o jogo psicológico da organização, em que nos levam até perto da meta, mas ainda nos fazem dar uma volta em roda do topo da serra, para perfazer os quilómetros que faltam até ao fim". Mas enganei-me! Já com 8 km feitos no GPS e a quase 1.200m de altitude, as fitas do percurso encaminhavam-me para as antenas, continuando a subir e com aquela sensação de dever cumprido cada vez mais próxima. O vento aqui era tanto que parece que cada 2 passos que dava para a frente dava 1 para trás! O boné ia voando (nas fotos do final já apareço de pala voltada para trás), o fresquinho do alto da serra já se fazia sentir no corpo desprotegido... mas a meta parecia já ali estar e eu perguntava à organização: "já?!". Sim, estava feito! Estava concluído o meu primeiro km vertical - oficial - 1h07 minutos depois de termos saído da Lousã, 1.050m mais abaixo! Acabaram-se assim as dúvidas! Claro que não posso deixar de agradecer à organização do Montanha Clube Trail Running a boa experiência que nos proporcionaram, ficando agora a aguardar com expectativa o mês de Junho para ver como vai ser o Lousã Trail. A julgar por esta experiência, a coisa promete. A Serra da Lousã é de facto um local ímpar para a prática do trail running e bons exemplos destes são sempre de apoiar. Até breve! PS: E as saudades que eu tive dos Abutres? Só eu sei...

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