Depois de ter ido correr a Óbidos, confesso que fiquei um pouco angustiado com a proximidade daquela que será a grande corrida do ano, aquela por que espero desde a última vez que a fiz, no ano passado. O Ultra Trail du Mont Blanc tem partida marcada para as 18 horas do dia 28 de agosto de 2015. Só terminará ao fim de 170km de distância, estes (per)corridos ao longo de cerca de 10.000m de desnível (subidas e descidas), feitos em redor do maciço do Mont Blanc, com direito a passagem por três países: França, Itália e Suíça. Parece um programa interessante para um fim de semana diferente, não é? É um desafio e eu gosto de desafios que me digam algo, em que seja necessário mais gestão do que força bruta para os superar. Não é uma corrida difícil, mas é uma corrida dura. Dura porque se luta muito com as pernas, mas luta-se mais com a nossa própria cabeça. A mesma que nos levou até lá e que, uma vez no local, tantas vezes nos desafia a parar, quando o que precisamos é de algo que nos faça andar para a frente. Só até ao próximo posto de controlo. Só mais umas horas. E assim por diante, durante um fim de semana inteiro, que começa e acaba na deliciosa e pacata Chamonix, no tempo máximo de 48 horas depois de termos saído. Depois de ter ido correr a Óbidos vieram-me à cabeça os quilómetros que não corri, as subidas que não subi, tudo o que devia ter feito e não cheguei a fazer enquanto treinava. Mas também me lembrei de todos os momentos que vivi até hoje e que, de uma forma ou de outra, aconteceram porque um dia resolvi começar a correr. Lembrei-me dos locais e das experiências que vivi, dos amigos que fiz e das pessoas que conheci, das conquistas que já me permiti conquistar... e dos sonhos que ainda estão na gaveta. Tantos! E é a estes que me agarro, mais do que à tecnicidade da coisa, aos quilómetros, aos tempos. Neste fim de semana que passou, já a respirar um ar de férias, fui descobrir trilhos novos para correr. Porque precisava. Precisava nas pernas, mas também na cabeça. Fi-lo com a companhia de sorrisos e corações, mas também o fiz sozinho. Diverti-me com amigos (gargalhei, pulei, inventei, arrisquei), mas também meditei comigo próprio (respirei, contemplei, usufruí). E é nestes momentos que voltamos a sentir a essência do que nos levou até ali em primeira instância e que nos levará até onde quisermos. Sim, até onde quisermos. Porque em "vésperas" de ir correr novamente o UTMB, ainda me lembro bem da primeira vez que experimentei correr. Da primeira vez que corri 10 km. Da minha primeira maratona e da minha primeira epopeia ao longo de 100 milhas. Vem-me tudo à cabeça e o coração dispara, com tanto que ainda há para fazer por esse mundo fora, este mundo em que corremos e que corre sempre mais rápido do que nós. Quando pensarem em algo e o encararem como um sonho, experimentem colocar-lhe uma data e começarem a fazer planos concretos para o atingir. E se for algo que vos faça todo o sentido, algo que toque "campainhas" dentro de vós, vão ver como um dia, mais tarde, ao olhar para trás, terão uma coleção de desafios superados e uma mão cheia de histórias para contar. Para já, este é o próximo objetivo do meu calendário, dia 28 de agosto. Restam-me três semanas de foco para treinar (mas pouco), comer, trabalhar e amar. O resto virá depois. Depois de virar mais esta página. Um passinho de cada vez, sim?