Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

20.08.13

Entrevista ao Ultraman António Nascimento


José Guimarães
Em Setembro de 2012, no País de Gales, António Nascimento tornou-se o primeiro português a completar um Ultraman, uma prova que junta 10 km de natação, com 420 km de ciclismo e 84 km de corrida. Isto deu-lhe acesso a poder participar na final mundial do Ultraman, que irá decorrer entre 29 de Novembro e 1 de Dezembro deste ano no Hawaii. A prova é tão selectiva que a participação é feita exclusivamente através de convite e os atletas são selecionados pelo seu currículo desportivo. Afinal de contas é tida como uma das mais duras competições do mundo! De Sedentário a Maratonista: Como é possível que um Ser humano consiga nadar 10 km, depois fazer mais de 400 km de bicicleta e ainda ter forças para correr duas maratonas de seguida? António Nascimento: Digo sempre o mesmo e muitas vezes sou criticado por isso, mas acredito que todos somos capazes de fazer qualquer tipo de prova. Depende somente do quanto queremos, pois isso é que vai ser o ponto determinante para alcançarmos o objetivo ou não. Os treinos e toda a preparação para provas como esta são muito duros e temos realmente que querer muito para podermos superar cada momento de dificuldade. Sei que as distâncias assustam um pouco, mas com muita organização e disciplina, tudo é possível. SM: Sempre quiseste participar no Ultraman? Qual o motivo? antonionascimento-jiujitsu2AN: A minha história como atleta tem na sua origem as lutas: fui atleta de judo e de jiujitsu e alcancei muitos títulos importantes, entre eles 4 vezes campeão mundial de jiujitsu. Eu utilizava a corrida como parte da minha preparação física, pois como sempre gostei de lutar na minha categoria de peso, precisava de ter alguma diferença em relação a atletas bem mais fortes. A corrida deu-me isso! O passo seguinte para o triatlo foi um momento complicado da minha vida. O meu pai - que foi sempre o meu grande incentivador - faleceu e fiquei a pensar em abandonar o desporto. Mas graças a grandes amigos que me fizeram uma proposta para o homenagear, fiz a minha inscrição no meu primeiro triatlo: o Ironman. Consegui acabar a prova muito bem, tanto que fui convidado para integrar a equipa da minha cidade. Depois disso tomei-lhe o gosto e nunca mais parei. Depois de ter deixado de ser um atleta profissional de lutas, procurei outras formas de me estar sempre a desafiar a mim próprio e o Ultraman foi o passo seguinte. Mas confesso que foi uma grande surpresa quando fui selecionado para fazer a prova no País de Gales, pois são enviados currículos do mundo inteiro e somente 35 atletas têm o privilégio de poder participar. SM: O que é que alguém sente quando consegue ser um "Ultraman"? AN: A sensação é inexplicável, pois passa tudo na cabeça. Tudo o que passamos para poder cruzar a meta, todos os treinos, as horas longe de casa, todos os momentos complicados, como pequenas lesões e outras coisas que vão acontecendo. Mas posso dizer que vale a pena cada momento, ainda mais sabendo que tantas pessoas estavam torcendo e acompanhando a nossa equipa e enviando mensagens durante todo o ano de treinos e principalmente durante a prova. SM: E como é que se treina para algo assim? Podes partilhar algumas dicas? AN: O importante é organizar os treinos de forma em que se possa dar atenção a todas as modalidades, mas principalmente procurar alguém que tenha conhecimento sobre provas de longa duração, como o Ultraman. O volume dos treinos vai ser muito importante. Temos que procurar fazer treinos de duas modalidades todos os dias e aproveitar os finais de semana para fazer os treinos mais longos. O tipo de material que utilizamos para os treinos e para a prova também faz toda a diferença e hoje no mercado temos inúmeras marcas específicas que oferecem muito boas soluções para esse tipo de provas. Mas acredito que o mais importante é ter o acompanhamento de um profissional habilitado, bem como um plano de treinos individualizado, já que um dos maiores erros é utilizar planos de treino que encontramos na internet, ou principalmente acabar por trabalhar com pessoas sem nenhuma formação académica específica e sem conhecimentos para planear toda uma sequência de treinos. SM: A logística para uma prova destas deve ser extremamente complicada. Quais as principais dificuldades que quem quer participar num evento desta envergadura tem de enfrentar? AN: As principais dificuldades são conciliar o dia de trabalho, tempo com a família e treinos, pois são mesmo muitas horas de esforço e sacrifício. Mas, tal como disse antes, tudo depende do quanto realmente queremos. Depois disso tudo acaba por se conseguir superar.
Essa prova tem que ter uma equipe montada para te apoiar durante todo o evento, e tem que ser de sua total confiança, pois vai depender deles toda sua boa prestação na prova e principalmente conseguir chegar ao final da forma mais segura. Eu tive o apoio e honra de ter na minha equipa grandes amigos, que me ajudaram imenso em todas as fases: José Bomtempo, Sara Cruz Peres, Ricardo Arraias, Robson Oliveira, Filipa Vicente e minha Esposa Meire Cezário. Agradeço imenso tudo o que têm feito por mim, foram perfeitos, tanto que ganhamos o prémio da melhor equipa na prova do País de Gales. E não posso esquecer de fazer um agradecimento especial à Meire, por me levar a um nível que nunca pensei ser possível antes. Ela é a verdadeira razão por todo o sucesso e conquistas que consigo alcançar.
SM: Além dos treinos, tens ainda a tua vida pessoal, trabalho, negócios, etc. Calculo que tudo o que consegues deve envolver muito espírito de sacrifício. É fácil conciliar tudo isto? Não te deixa muitas vezes a pensar se valerá a pena? AN: Como disse antes, não é fácil conciliar tudo isso. Mas quando fazemos aquilo que realmente amamos, tudo se torna mais prazeiroso e faz com que o objetivo final valha a pena. O que realmente me deixa frustrado é não tentar ou, como aconteceu pela primeira vez na minha vida no Trail do Almonda, ter que desistir de alguma coisa. Mas até isto só me vai fortalecer para conquistar os meus objetivos! SM: Depois desta, que outras provas/desafios tens no calendário? AN: Depois do mundial do Ultraman já tenho algumas provas em vista, mas o foco principal é essa prova. Sempre me organizei assim, um passo de cada vez. É assim que sei funcionar. Mas sim, tenho muitas coisas no papel... SM: Que mensagem gostarias de transmitir a todos aqueles que te vêem como um exemplo de dedicação e superação e que provavelmente dizem “um dia gostaria de ser assim”? AN: A mensagem que mais gostaria de passar é que não deixem ninguém dizer o que podem ou não podem fazer. Não interessa se é uma caminhada, uma corrida de 5 km, uma maratona, um Ironman, um Ultraman ou qualquer outro tipo de prova. Podemos tudo, depende somente do quanto queremos e da nossa capacidade de organização. E aproveito para agradecer todo o carinho e respeito que têm por mim, principalmente toda a força que recebo todos os dias durante os treinos. Podem ter a certeza que essa energia é direcionada para os treinos e para a prova. Muitíssimo obrigado! SM: Tens um sonho muito especial que ainda não tenhas atingido mas que gostarias de concretizar e que – claro – não te importes de partilhar? AN: Um dos maiores sonhos que alcancei foi representar Portugal pela primeira vez na história numa prova de Ultraman. O sonho especial que tenho agora é o de conseguir cruzar a meda to mundial de Ultraman e mais uma vez levar as cores de Portugal numa prova inédita como esta. Obrigado!   Apoios: hand2hand_logo   rotapro       rapydo             cafpt     oakley     usn