Que a UMA do domingo passado tenha deixado algumas mazelas, já não é novidade. Aquela areia toda e - principalmente - a inclinação do princípio ao fim da prova deixou-me a perna esquerda em mau estado. Parece que andei esta semana toda com um "cão" a morder-me o quadricípite e que, como é óbvio, não me deixou correr (experimentem correr com um "cão" a morder-vos a perna...). Mas a corrida faz parte de nós e é praticamente impensável passar um dia que seja sem pelo menos dar uma corridinha. Só que a última vez que tentei, ao fim de 10 minutos estava a parar. Quando o corpo diz "corre!" nós corremos, mas quando diz "pára", o melhor é parar mesmo. Assim sendo, não me restou outra hipótese que não fosse dedicar-me ao ginásio e principalmente à natação, para tentar recuperar o melhor possível.
Bicicleta: remédio santo?
Entretanto esta semana arranjei uma alma caridosa que me emprestou uma bicicleta! Ok, não é uma bicicleta de estrada, é uma BTT (de montanha), mas pedalar é pedalar, portanto parti à aventura! Já não andava de BTT desde os tempos do liceu, em que saía de casa dos meus pais e ia-me divertir para o Jamor ou, nos dias de maior inspiração, rumava ao Guincho e à Malveira da Serra. Sim, de BTT... Com essas recordações bem vivas, este sábado decidi ir testar(-me) Monsanto. Como moro perto da Graça, apanhei a ciclovia da Duque de Loulé e entrei em Monsanto na zona perto de 7 Rios. Depois de uns primeiros quilómetros um pouco a medo, percebi que atacar desníveis em cima dos pés é uma coisa e montado na bicicleta é outra completamente diferente. Por isso joguei pelo seguro e apostei antes de mais em subidas e descidas, mas ou em asfalto ou em estradões de terra batida. No domingo, normalmente dia de treino longo, estiquei-me um pouco mais e fiz Benfica, Amadora e fui brincar na mata do palácio de Queluz, local onde há uns tempos atrás costumava treinar com o grupo RB Running. E ainda deu para encontrar umas saudosas caras conhecidas! Depois vim novamente até Monsanto e, alguns trilhos feitos com muito mais à vontade e diversão, regressei a casa. Foram cerca de 20 kms no sábado e pouco mais de 40 kms no domingo! O bem que me soube fazer força com as pernas mas sem impacto, levou-me a pensar que ali talvez estivesse um remédio para alguns males de que sofrem muitos corredores que conheço. E assim sendo, sentindo ainda as pernas a latejar, fui à net fazer umas pesquisas.
Como pedalar nos pode tornar melhores corredores
Tenho que admitir que gosto de andar de bicicleta. Se bem que BTT não é muito a minha praia, andar de bicicleta de uma forma geral é divertido, menos monótono que correr, é mais rápido, vêem-se mais paisagens diferentes e dá um certo gozo toda aquela logística de capatece, óculos, luvas, sapatos, almofadinha nos calções, etc. À parte destes pormenores, aqueles que correm e andam de bicicleta conhecem um segredo que pouca gente conhece: pedalar pode ajudar-nos a correr melhor. Muitos corredores voltam-se para o ciclismo depois de sofrerem lesões. Na verdade, muitos são forçados a pedalar para manterem a forma física enquanto estão no processo de reabilitação. E depressa descobrem algo notável quando regressam à corrida: o ciclismo contribuiu para melhorar a performance na corrida! Se correm e por acaso têm ou estão a pensar comprar uma bicicleta, mesmo que não estejam com nenhuma lesão, pensem em intercalar os vossos treinos de corrida com alguma bicicleta. Aqui ficam algumas razões por que o devem fazer:
1. É uma excelente forma de recuperação ativa.
É uma história antiga como a própria corrida: se têm uma corrida longa num domingo, na 2ª feira não vos apetece levantar da cama, quanto mais fazer algum desporto. Para muitos, uma corrida muito ligeira no dia depois do treino longo ou da prova é tão apelativo como ir ao dentista. Mas a recuperação ativa pode aumentar o fluxo sanguíneo, libertar esse ácido láctico e a própria rigidez muscular e nas articulações, ajudando a regressar às corridas mais cedo do que se ficarmos parados. Não apetece correr? Vão dar uma volta de bicicleta!
2. Aumenta a força em músculos complementares.
Se o que trabalhamos é exclusivamente corrida, só estamos a trabalhar alguns grupos de músculos, para que estes façam certas funções. Se começarmos a andar de bicicleta, vamos começar a usar músculos das pernas e abdominais que complementam os músculos que se usam para a corrida, tornando-nos mais fortes, eficientes e - claro está - mais rápidos.
3. As passadas vão melhorar.
Pedalar numa bicicleta requer um movimento constante e repetitivo das pernas, numa cadência suave. E isto é exatamente o mesmoq ue acontece na corrida. Os melhores maratonistas têm passadas de cerca de 180 passos por minutos. A cadência na bicicleta pode ser transferida para a corrida. Comecem por tentar atingir uma cadência de 90 rpm (rotações nos dois pedais por minuto) na bicicleta, nas mudanças mais leves. Assim que isto se tornar confortável, passem para mudanças mais pesadas, mas tentem manter a mesma cadência.
4. Os tornozelos, joelhos e ancas vão agradecer.
Os corredores, especialmente os que gostam de fazer longas distâncias, sofrem muito com o impacto no corpo. Por causa disto, torna-se difícil manter um grande volume de quilómetros sem lesões. O ciclismo oferece uma boa forma de exercício sem o impacto da corrida. Se não estão confortáveis para substituir sessões completas de corrida por treino na bicicleta, substituam só uma parte, pois todas as articulações vão agradecer. O que nos leva ao ponto seguinte...
5. É possível ter as mesmas sensações de uma corrida longa, sem fazer uma corrida longa.
O segredo aqui é o tipo de exercício proposto, em que se propõe sair de uma volta de bicicleta e começar a corrida, sem interrupção. A sensação inicial nas pernas vai ser que estas vão querer continuar o movimento da bicicleta, obrigando-nos a focar no movimento certo para correr, postura correta e terminar o treino em forma. Experimentem começar com 10 km de bicicleta, seguidos por 2 km de corrida. Bónus: adicionem a natação e tornam-se triatletas! Claro que se eu sou um recém-apaixonado por esta modalidade, não podia deixar de passar esta oportunidade de conversão para a tríade Nadar + Pedalar + Correr!
Dicas para começar a andar de bicicleta
Não importa se têm uma bicicleta de estrada, de montanha ou uma daquelas híbridas que se dobram e cabem na bagageira do carro. O que importa é que tenham uma bicicleta que vos sirva e, se ainda não têm uma, uma emprestada ou em segunda mão é sempre uma opção a considerar.
Artigos essenciais: Um capacete, óculos, calções de ciclismo (os tais com a almofadinha no sítio certo) e uma bolsa com uma câmara de ar suplente, ferramentas e uma bomba para os pneus.
Artigos opcionais: luvas, creme sapatos de ciclismo e um computador para a bicicleta (ou o vosso relógio com GPS da corrida).
Antes de saírem para o vosso primeiro passeio, certifiquem-se que sabem como mudar um pneu, no caso deste furar. Se não tiverem quem vos ajude com isto, procurem uma loja de bicicletas, normalmente o pessoal gosta de ajudar os iniciados.
Joguem pelo seguro e obedeçam às regras de trânsito. Sigam percursos seguros ou específicos para bicicletas e parem em todos os semáforos e sinais verticais.
Se não têm tempo para andar de bicicleta, tentem fazê-lo nas vossas deslocações diárias habituais: idas às compras, de manhã antes de todos acordarem lá por casa, ou quem sabe, como eu, que hoje vim de bicicleta para o trabalho!
[caption id="attachment_4236" align="alignnone" width="150"] Aqui está ela, no trabalho[/caption] Decerto que existirão por aqui muitas pessoas dispostas a ajudar, certamente mais esclarecidos e com mais dicas úteis para quem se quer iniciar nas duas rodas. Se é o vosso caso, deixem aqui os vossos comentários. Nós os inexperientes nestas andanças agradecemos! Fonte: No Meat Athlete
[…] Uma dessas coisas foi finalmente poder ir de bicicleta para o trabalho. É saudável, ecológico, económico… e se querem saber mais, leiam o que escrevi sobre isso há alguns dias neste post. […]