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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

Seg | 30.03.15

INATEL Ultra Trail do Piódão, bonito mas difícil!

José Guimarães
Às 9 horas da manhã de sábado era dada a partida para o INATEL Ultra Trail do Piódão. Às 9 horas da noite de sábado já estava a dormir. Não a adormecer, mas a dormir mesmo, sono ferrado. Os 50 km de prova esgotaram-me a um ponto que não me recordo de ter sequer roçado em 3 anos anos de corridas de trail. É certo que me faltará alguma experiência. E assim se ganha a dita, não quando as coisas correm bem, mas quando estas tendem a não correr como esperávamos.

A preparação, a preparar o Mont-Blanc

O meu objetivo de participar no INATEL Ultra Trail do Piódão era o de enquadrar esta prova no plano de corridas de preparação para a minha participação no UTMB 2015. Não só pela distância, mas principalmente pela altimetria que proporcionava (cerca de 2.800m a subir e outros tantos a descer). A preparação das últimas semanas tem consistido em 2 treinos de ginásio por semana, com direito a muito reforço muscular, bem como a corridas no exterior, infelizmente com pouca altimetria. A alimentação foi, obviamente, reforçada nos últimos dias, com um aumento da ingestão de hidratos de carbono, acompanhada de uma grande diminuição do volume de treinos. Desta forma foi possível chegar à bonita unidade hoteleira do INATEL Piódão com a sensação de uma boa forma física, que consistia numas pernas com força suficiente para aguentar a dureza das subidas e descidas e um coração saudável para fazer face a estas exigências.

A prova, as dificuldades e os problemas

Não se pode dizer que o Ultra Trail do Piódão tenha sido uma prova com um nível de dificuldade muito elevado. Talvez muito exigente ao nível físico, mas nem por isso ao nível técnico. O terreno, ou nos oferecia grandes subidas, boas para se fazer com um bom passo, grandes descidas para correr como se não houvesse amanhã, ou grandes estradões para se correr conforme aquilo que o corpo conseguisse dar. Os trilhos mais técnicos, reservados aos mais habilidosos eram (infelizmente) poucos e no chão o que mais se via era pedra, muita pedra, inimiga de solas mais macias e dos dedos dos pés mais desprotegidos. Vejam no Instagram como é que ficaram os meus Salomon... Depois da partida à hora marcada, à qual se seguiu um curto percurso descendente e, consequentemente, os habituais engarrafamentos no ataque aos primeiros single tracks, pouco depois dos 5 km de prova surgiram as primeiras subidas. A primeira subida foi feita em ritmo de corrida, mas num passo curtinho (baby steps, sempre), já que eram cerca de 620m sempre a subir até aos 1.220m de altitude. A segunda subida, que começou perto dos 17 km, já não deu para tanto, pois apesar de ser menos íngreme (570m de subida), era também mais curta. Mesmo assim cheguei ao ponto mais alto da prova, aos 1.390m de altitude, ainda com força e sem nenhum desânimo. E qual desânimo é que alguém pode ter, quando de um local assim se observam paisagens como aquelas? Mas a partir daqui é que as coisas começaram a correr pior. Pouco depois dos 25 km km de prova, comecei a perceber que não estava a conseguir comer o que era suposto comer. Levava nos bolsos da mochila (obrigado Eduardo pelo empréstimo... sim, a minha mochila ficou esquecida em Lisboa) um gel energético (que já tinha consumido na primeira subida) e 3 barras energéticas, para comer aos 15 km, outra entre os 25 e os 30 km, e a última pouco antes dos 40 km de prova, a caminho do último pico, aos 1.210m de altitude. Mas o que fazer quando antes do meio da prova nos apercebemos que não conseguimos comer aquilo que transportamos para esse efeito? O que fazer quando o estômago simplesmente rejeita o que lhe damos? Nem barras energéticas, nem sopa, nem bananas, nada. E não, a bifana também nem a meio chegou... A única coisa que conseguia de alguma forma ingerir sem causar confusão ao estômago eram alguns frutos secos, batatas fritas e Cola-Cola, que parecia fazer o efeito de água das pedras e aliviar um bocado a sensação de desconforto no estômago. E o desconforto era tal que nem a descer a coisa corria bem. Quero dizer, as pernas corriam, mas o estômago parecia que pesava 10 kg e doía, balouçava... e quanto mais o sentia assim, mais enjoado eu ia ficando e menos alimento conseguia ingerir. Às tantas ainda pensei que me safasse melhor a subir, mas se não damos alimento ao corpo, quem é que consegue enfrentar desnível positivo? E depois o calor, o sol (e o escaldão na pele?), as eólicas... creio que visitámos todas as eólicas que havia para visitar, certo? A única zona em que deu para correr um pouco mais à vontade apareceu já depois dos 40 km, nuns quilómetros de estradão plano, que antecediam a descida para o PAC 7, em Foz da Égua, o último posto de abastecimento antes da chegada ao Piódão. E quando estamos no último posto, a meta parece estar já ali. Mas não era bem assim. Ainda faltariam uns 6 km até ao fim e, por esta altura, sem ingerir alimentos decentes há horas, até o apito da bateria do relógio a dar sinal (estava programado para 8 horas de prova) parecia querer desanimar-me. Mas eis que chego ao Piódão. Aldeia bonita esta. E percebo que, dali até à meta, ainda me separa um curto desafio: uma subida a pique até ao INATEL, a posar para mim lá em cima, em contraluz com o sol já quase a desaparecer atrás da serra. Pareciam tantos, aqueles talvez 200m de subida. Irra, que as pernas quase não obedecem! Mas o boné molhado na última fonte de água fresca (tão fresca que é a água naquelas paragens) e a imagem da Inês e mais umas caras conhecidas no topo da subida (desculpem-me todos os outros que ouvi a gritar por mim, ouvi-vos, mas só tive olhos para ela) deram-me aquelas gotinhas extra de energia que me permitiram correr (quase de cara no chão) até ao pórtico. Cruzou-se a meta. Foi bom. Custou muito, mas acabou-se. A partir daqui, tudo regressa ao normal, aos poucos. Há que tratar do corpo. Dar-lhe alimento e descanso. E pensar no que pode ter originado que, durante quase 8 horas de corrida, não tenha conseguido comer quase nada. Afinal de contas, tal como disse no primeiro parágrafo, é quando as coisas nos correm mal que tiramos as devidas lições, para que não volte a acontecer de novo. O que faz com que o estômago se negue desta forma a quase todo o tipo de alimentos durante uma corrida? Algum de vocês já passou pela mesma experiência e me pode ajudar? Deixem o vosso comentário.

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