Poucas coisas são tão frustrantes para um treinador como ver um atleta seu parado por causa de uma lesão. E isto é particularmente delicado no caso daqueles que estão a começar a sentir o "bichinho da corrida". Primeiro a pessoa decide-se por deixar a vida sedentária. Como não tem um plano de treinos, começa a treinar devagar e vai melhorando aos poucos. Participa na sua primeira prova de 5 km e gosta da sensação. Treina mais um pouco e experimenta o prazer de fazer os seus primeiros 10 km. Emagrece e sente-se bem disposto, melhora a autoestima, começa a preocupar-se em baixar os seus tempos. Começa a fazer amigos nas provas. E quando pensa em preparar-se para a sua primeira maratona, vem a dor. Um joelho inflamado, um músculo lesionado, um tendão prejudicado. E vêm dias, ou mesmo semanas de visitas ao médico, de exames, fisioterapia, inatividade, que resultam em vários passos para trás na sua forma física. Eis o paradoxo da corrida: para se evoluir é necessário continuidade. Isto significa seguir uma rotina regular de exercícios físicos, com metas periódicas estabelecidas. Só que essa continuidade, para quem vem do sedentarismo, pode gerar alguns transtornos. Quando um corpo habituado a anos de preguiça começa a sofrer exigências contínuas, fica exposto ao desgaste. Ou seja: uma pessoa começa a correr porque estava parada, mas a evolução pode fazer com que ela fique parada de novo!
Como um iniciante pode evitar problemas ao início?
Como é que isto se resolve? Com um planeamento. Um treinador tem que saber montar os ciclos de treino adequados a cada pessoa. Para cada duas semanas de treino mais intenso, uma semana de sessões mais leves. E, dentro de cada semana, os obrigatórios dias regenerativos e de descanso total. É isto que vai levar ao que se chama de "supercompensação", que é a elevação gradual do patamar de forma física, a partir de uma boa combinação de treino com recuperação. A montagem desse plano de treinos estará portanto nas mãos de um treinador, mas cabe ao atleta cumpri-la. Mas há outro ponto fundamental e que só o corredor pode controlar: o estado do seu corpo. Um atleta precisa saber "escutar" o seu corpo e autoexaminar-se. "Estou a dormir bem? A comer bem? Sinto-me forte? Estou a recuperar bem dos treinos? Ando cansado, mal disposto ou com dores constantes?". São perguntas que temos que nos fazer frequentemente e compartilhar as respostas com os nossos médicos e treinadores. Um atleta precisa de saber criar os seus próprios "parâmetros de cansaço", para saber quando pode acelerar ou deve aliviar. Lembrem-se que carregar um pouco no travão (o que não significa necessariamente parar) por alguns dias pode evitar uma lesão que nos deixaria inativos no futuro. Seja com profissionais ou com amadores, um treinador precisa normalmente de alguns anos para formar um atleta. A corrida, como qualquer outra atividade física de impacto, tem os seus riscos. Mas é possível minimizá-los. E o mais importante de tudo é não deixar que esses riscos sejam desculpa para voltar ao sofá e à vida de televisão. Os benefícios da corrida continuam a ser infinitamente maiores. Fonte: Runner's World