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Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

Ter | 16.11.21

Meia Maratona de Cascais: o calçado, a glucose e os treinos

José Guimarães

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A Montepio Meia Maratona de Cascais do passado dia 7 de novembro não foi uma meia maratona fácil. Tinha treino nas pernas? Sim, tinha. Tinha umas boas sapatilhas nos pés? Também. Até tinha um aparelho para medir a glucose no sangue (já explico o que é isto). Então o que faltou?

Quanto digo que não foi uma meia maratona fácil, talvez o facto de ter terminado a prova - como nunca antes havia feito - em apenas 1h26 signifique alguma coisa. É que demorar 1 hora e 26 minutos para percorrer pouco mais de 21 kms tem qualquer coisa de gratificante como tem de... de parecido a tirar uma unha encravada a sangue frio!

A minha marca anterior, obtida exatamente na mesma prova em 2020, tinha sido de 1h30. E até parece que 4 minutos a menos é pouca coisa, mas esse intervalo significa que tive que "comer" mais ou menos 1 minuto a cada 5kms, o que equivale a ter feito esta prova a um ritmo médio de cerca de 4'05/km, contra os 4'16/km da prova anterior. Para bom entendedor, meia unha encravada basta...

Contribuiram para este resultado 1) a ajuda dos treinos do Sérgio Santos - Ontrisports, ajustados a régua e esquadro, 2) as sapatilhas Saucony Endorphin Speed 2, que como o nome indica, foram feitas para "speed" (esqueçam lá não treinar as pernas e ir correr com estas meninas, pfffff!!!) e finalmente 3) a monitorização da glucose, feita com o sensor e a app Supersapiens.

1º Os treinos

Antes de mais nada, se querem obter resultados, trabalhem para eles! Não há volta a dar. Ninguém pode esperar correr maratonas em 3 horas, sem treinar adequadamente para isso. E treinar adequadamente para isso significa penar!!! Significa ajustar o estímulo às nossas necessidades e capacidades. Significa até colocar muitas vezes esse objetivo em causa e enfrentar essas dúvidas com todo o lactato e VO2 que nos é possível!!!

O plano delineado pelo Sérgio começou em outubro e estende-se até dia 20 de fevereiro, data em que a Maratona de Sevilha e eu vamos medir forças, não para ver quem vence, mas para eu próprio sentir que tudo está bem e que afinal de contas consigo fazer uma maratona abaixo das 3 horas, antes dos 50 anos de idade! (a margem de "cagança" são mais 2 anos hehehe!!!)

São treinos que envolvem tiradas calmas, longas, períodos de stress e outros de recuperação. E que são feitos de forma quase que religiosa, pois ou o corpo se adapta a conseguir passar 3 horas a correr abaixo de 4'15/km, ou então vou ter mais 2 anos para tentar o feito... e não sei se estou para isso... ;)

2º As sapatilhas

Depois das Triumph 19 e do considerável volume acumulado logo nas primeiras semanas - mais calmas - de treino, as Saucony Endorphin Speed 2 chegaram e revelaram-se! Revelaram-se porque logo no primeiro treino em que as utilizei, percebi que se calhar ainda não era atleta suficiente para elas. Para já foi um treino mais longo e rápido (por ser rápido, escolhi utilizá-las logo aqui), mas por outro, o formato das sapatilhas, como que "inclinado para a frente", adicionado à leveza e reatividade das mesmas, puxou-me pelos gémeos como há muito tempo eu não sentia! E no final foi caso para dizer que os gémeos não estavam preparados, como parte da minha estrutura física não estava preparada... e o resultado está em que o treino até pode ter corrido dentro dos parâmetros de ritmo/tempo, mas a recuperação pós-treino demorou mais do que o esperado. Gémeos feitos pedra, dificuldade em relaxar, algumas dores na zona oblíqua e glúteo médio... toda uma dose de feedback que me leva agora a guardar estas meninas para quando a corrida for mais curta, ou para quando o corpo estiver melhor preparado.

3º A glucose

Esta foi uma das revelações do ano para mim! Nas últimas semanas tenho usado um sensor e app da Supersapiens, um sistema que permite monitorizar os níveis de glucose no sangue e assim perceber quais os alimentos que mais podem influenciar (de forma positiva e negativa) os mesmos, tanto ao nível de treino/prova como de recuperação e até no sono. 

Como todos sabem (se não sabem ficam a saber), grosso modo, o nosso corpo utiliza várias fontes de combustível. Mas para manter níveis de intensidade mais elevados, como eu fiz nesta prova, utiliza maioritariamente glucose, que é o combustível que permite ir ao limiar, fazer corridas mais intensas, etc. Portanto a melhor forma de saber se o corpo tem a quantidade necessária de energia para "alimentar" estas necessidades é medir a quantidade que o nosso corpo tem, o que só pode ser feito caso a caso e de forma individual.

Vê as minhas publicações no Instagram sobre o sensor e app Supersapiens

Uma das chaves é perceber exatamente como é que o corpo reage a alimentos específicos e providenciar fontes de glucose consistentes, sem grandes variações como picos ou quebras.

Também é importante perceber como corre a exposição à glucose pré-prova (ou treino), para garantir que temos reservas suficientes para começar com o "depósito" cheio, sem adivinhar se estamos a fazer bem ou mal.

Finalmente também é possível (e tão importante) medir a glucose durante o exercício, o que quer dizer que consigo saber se estou a manter os níveis certos face ao esforço que estou a fazer, ou se necessito de meter mais "gasolina" (neste caso gel, ou outro tipo de combustível mais adequado à minha realidade).

O resultado foi que, depois de algumas tentativas e erros nos treinos anteriores, durante a prova consegui garantir que não só iniciei a mesma bem abastecido, como consegui evitar quebras que me levassem a baixar o ritmo desejado. O como é material para um artigo mais aprofundado e detalhado ;)

Conclusões

Infelizmente (ou felizmente) não há uma fórmula mágica que seja o segredo para uma boa corrida! Ou melhor, até há, mas não tem nada de magia. Tem de muita ciência, experimentação, tentativa e erro e trabalho árduo. Ainda fico algo pasmado como é que algumas pessoas sem preparação adequada se prestam a determinados níveis de esforço, não só em corridas de estrada, mas em trails... e exemplos não faltam! Nada contra usufruir e tentar conquistar objetivos. Eu sou o primeiro a dizer que não há um objetivo que não seja possível de alcançar! Mas há que prestar atenção ao que se faz, à preparação que se tem, com o prejuízo de podermos estar a colocar a nossa própria saúde (e vida!) em risco. 

Façam sempre os possíveis por se munir das ferramentas e dos profissionais que vos ajudem a superar as dificuldades e a atingir as vossas conquistas, mas que seja sempre com saúde e na certeza de poder abrir um sorriso no dia seguinte para contar história e almejar novos objetivos!

Bons treinos para todos e muita saúde!!!