Dom | 08.02.15
O cozido à portuguesa não tem que ser mau para a saúde
José Guimarães
Diz a tradição que ao domingo se almoça com a família e, se possível, à volta de um bom cozido à portuguesa. Recordo-me com saudade dos panelões de enchidos, carnes e couves, que a minha mãe tão habilidosamente cozinhava, dedicando-lhes o tempo que era devido, sem pressas, para rapidamente tudo desaparecer nas bocas mais famintas. Já há muitos anos que não almoçava cozido à portuguesa. Por isso, hoje, aproveitando o bonito dia de sol e a maldita tosse que trouxe das baixas temperaturas do fim de semana passado e que ainda não me deixa correr sem desatar a tossir desalmadamente, fomos até à Marina de Oeiras almoçar ao restaurante RIO's, que aos domingos serve cozido à portuguesa estilo buffet... para comer até não se aguentar mais. Parece que há uma espécie de preconceito para com o cozido à portuguesa. Diz-se que faz mal à saúde, que se deve evitar, etc. Corrijam-me se estiver enganado mas, o cozido por si só, não me parece uma coisa que faça mal à saúde. O que têm de mal carnes, legumes e arroz cozidos em água? Claro está que, "para dar sabor", juntem-se-lhes uns chouriços, umas farinheiras, morcelas e pronto, temos um prato repleto de paladares fortes à boa moda portuguesa, com as devidas gordurinhas a acompanhar. E se a presença destes ingredientes no nosso prato podem - estes sim - fazer mal, o mal maior estará no exagero. Como em tudo na vida. Aqui no RIO's esse problema está resolvido. Como no buffet podemos escolher o que queremos comer, evitamos desta forma os tais ingredientes "perigosos." A apresentação do buffet fez-me viajar no tempo. Levou-me de volta aos tempos de infância, quando no Alentejo a comida era confecionada naqueles velhos e escuros panelões de ferro da minha avó, que ficavam a cozinhar nas brasas da lareira. Separados por forma a podermos escolher o que quiséssemos, os diferentes ingredientes do cozido de hoje foram servidos nesses mesmos panelões de ferro. Só assim seria possível chegarmos a algum acordo. A caminho do restaurante, a conversa no carro era, de um lado, que o cozido à portuguesa só era bom com enchidos. De outros, que mesmo sem os "ditos", um cozido poderia ser muito saboroso. Só assim foi possível que uns tivessem enchido o bandulho de enchidos e couratos e, outros, mais comedidos, se tivessem dedicado simplesmente a vegetais, ao arroz (que delícia de arroz!!!) e às carnes brancas. Vêem? Um cozido à portuguesa também pode ser saudável. O que dizer mais de um bom cozido à portuguesa? Se a quantidade era mais que suficiente para alimentar as bocas mais famintas, a cozinha tradicional - com um toque de "modernice" - do chefe António Bóia aí está, bem capaz de satisfazer os paladares mais exigentes. A juntar a isto um serviço que prima pela extrema simpatia e total atenção aos mais pequenos detalhes, este almoço domingueiro foi uma agradável surpresa e, já que este foi um dia sem correrias, deixou-nos pelo menos no ponto para uma boa caminhada no passeio marítimo de Oeiras. No meio de isto tudo, não pequei? Claro que sim! A sobremesa, mousse de chocolate, incluída no menu e servida em quantidade capaz de me fazer dizer "chega!", estava tão boa que parecia ter sido feita na hora só para nós, leve e saborosa, sem um único toque de frigorífico. Recomendada a gulosos saudáveis ;) O restaurante RIO's serve os menus de cozido à portuguesa aos domingos, pelo preço de 18 euros / pessoa, com entradas e acesso ao buffet (ou 25 euros se incluir bebidas com vinho branco ou tinto e sobremesa). A morada é fácil: fica mesmo no Complexo Turístico da Piscina Oceânica de Oeiras, São Julião Barra. O telefone para reservas (é melhor reservarem) é o 214 411 324. Nota final: parece que durante a semana têm um sushi fabuloso! Há que experimentar...