O meu primeiro (mini) triatlo
No domingo participei pela primeira vez num triatlo. Já fazia muito tempo que olhava para esta modalidade com algum desejo de a experimentar. Desta vez, o espírito aventureiro da minha irmã (que há muitos anos atrás foi praticante da modalidade), juntamente com o dos nossos amigos, fizeram com que também eu optasse por experimentar. Sem grandes expectativas lá fizemos frente a mais um desafio e não se pode dizer que tenha corrido propriamente mal.
Manhã de domingo, o despertador toca às 6h30, a horas de tomar a primeira refeição do dia... energética, pois claro! Já que a manhã promete. À hora combinada, 8h00 lá nos encontramos todos na praia da Torre, em Oeiras, bicicletas mais ou menos a postos, equipamento mais ou menos preparado e muito nervoso à mistura. Era, afinal, a primeira vez que íamos participar num triatlo. Mesmo que na versão Super Sprint (que consiste em 300m de natação, 10 km de bicicleta e 2,5 km a correr), o facto de ninguém do grupo estar preparado para um desporto multidisciplinar, para transições, trocas de equipamento à pressa, etc, etc, etc... ufa!!! Só de pensar, não creio que alguém tivesse dormido um sono descansado nessa noite. Mas confesso que à chegada, ver mais participantes como nós, isto é, com ar de inexperientes, me tranquilizou um pouco, já que se por um lado conseguíamos encontrar alguma equivalência nestes, por outro, o equipamento de aspecto ultra-profissional de atletas de porte mais profissional intimidava um pouco. Mas nada que não fosse facilmente relativizado, ao lembrarmos os desafios ultrapassados nos últimos meses pelo mesmo grupo de amigos. O que só prova que a mente é capaz de tudo, como pudemos comprovar mais à frente.
Natação
Aqui estava o grande handicap da maior parte de nós. O céu nublado... a água a 16 graus... não é uma piscina... e se um ou dois nadavam relativamente bem, já uns quantos de nós pouco ou nada sabiam do que era nadar em águas abertas. Mas a distância era relativamente curta, o que dava para passar a dose de confiança necessária para no momento da partida, nos atirarmos todos à água com um objectivo em comum: chegar o mais depressa a terra!
Não sei o tempo que demorei a fazer esta parte do percurso, mas sei que a sensação foi inesquecível. É impressionante como tudo passa quando soa a buzina e aquela massa de gente se atira em peso à água. Confesso que não sabia por onde furar, como nadar, que direcção tomar... tinha medo de bater os pés porque qualquer que fosse a posição e direcção que tomasse, tinha sempre alguém a nadar à minha frente, ao meu lado ou atrás de mim... a confusão total! Só passados uns 100m, já a chegar à primeira bóia, consegui um espaço livre para nadar e aí sim, pude puxar pela técnica e pela respiração e avançar até à segunda bóia, na marca dos 200m.
A partir daqui foi alinhar em direcção ao pórtico insuflável montado na praia, mas... episódio do dia: um outro nadador aparece do meu lado esquerdo a nadar para a direita, completamente enviesado com a linha de costa, abalroando-me literalmente. Nesta confusão, recebo uma valente cotovelada nos óculos do olho direito, o que me obriga a parar de nadar para os endireitar, antes de prosseguir caminho. Segunda parte do episódio: momentos depois da cotovelada, o mesmo nadador vem agora do meu lado direito a nadar para o meu lado esquerdo, novamente completamente enviesado com a linha de costa... abalroando-me e dando-me uma patada na barriga, no momento em que passa para o meu lado. E não contente com isto, volta a atravessar-se à minha frente, novamente para o meu lado direito. Mas há uma altura em que uma pessoa se chateia e como quem não quer a coisa, eu estava ali era para nadar, portanto com licença: aproveitando que ele passava novamente à minha frente, agarrei-o nas pernas, afundei-lhe o rabo e afastei-o da minha frente, passando por cima dele e seguindo (agora sim) o meu caminho nadando até à praia.
Ciclismo
Já sabia que a saída da água me ia causar algumas tonturas. Não sei porquê, mas creio que é normal, já que em alguns depoimentos pude perceber que a maior parte dos atletas sente isto uma vez por outra e que acabam por se habituar com a regularidade do treino.
Lá saí da água em passo de corrida em direcção à rampa, mas o que agora me vinha à cabeça era: o que fazer? Bom, como quem não sabe, imita, decidi fazer o que os dois atletas à minha frente iam fazendo. Tirar óculos, desapertar as costas do fato (de surf, note-se), despir as mangas e o peito e correr rampa acima até ao Parque de Transição.
Lá estava a bicicleta, empréstimo de um amigo das corridas (obrigado José), afinadinha com as dicas experientes do Pedro Quina. Como mandavam as regras (ou no meu caso, as dicas do Vicente e os filmes que andei a ver no YouTube sobre transições), despi o fato até aos pés e lá o tirei num ápice, guardando o material todo no cesto. Camisola vestida, dorsal colocado para trás, ténis de bicicleta calçados e capacete na cabeça, fiz-me à estrada, já a Marta se estava a despachar na sua bicicleta.
Aqui não há muito mais a dizer. Roda pedaleira grande e gestão da cadência o melhor que pude. Ainda ultrapassei alguns ciclistas, andei na roda de uns, fiz de lebre de outros, puxei puxei puxei e...
Corrida
A chegada de bicicleta ao Parque de Transição foi feita num pequeno pelotão. O que me assustava, porque ainda não tinha feito a recta toda e já ia a pensar como raio ia sair da bicicleta. Optei pela técnica que a brincar costumo fazer, que consiste em me montar no pedal da esquerda e saltar no momento exacto. E assim foi: depois da curva de acesso ao PT, soltei ambos os sapatos dos encaixes nos pedais, alço a perna direita e monto-me no pedal da esquerda. Mas quando vou a saltar da bicicleta ouço o CLACK do sapato a encaixar novamente no pedal e... ai que o vôo ia sendo grande, mas não foi. A roda traseira da bicicleta ainda levantou um pouco mas consegui desprender o sapato do pedal a tempo, evitando a queda à super homem...
Daí foi só levar a bicicleta até ao local, pendurá-la, tirar sapatos, calçar ténis de corrida (previamente atados, usando a técnica da calçadeira, muito útil por sinal), trocar o capacete pelo boné e despachar-me para a estrada, um pouco à frente do Pedro Quina que tinha chegado segundos depois de mim.
Agora a surpresa. Para mim, como para todos do grupo, a natação seria com certeza a matemática daquele triatlo e a corrida a disciplina para se fazer "com uma perna às costas". Mas depressa constatei (constatámos?) que as pernas que já correram maratonas, que subiram e desceram montanhas e vales com a agilidade a que já nos tínhamos habituado, se tinham desta vez transformado em autênticos troncos... de cimento! Foram 2,5 km muito rígidos, em que a primeira metade do percurso serviu para tentar desprender os músculos que teimavam em pedalar e não em correr... e a segunda metade serviu para, por um lado, combater a inércia da primeira metade e, por outro, puxar pelos pulmões, que tinham ficado algures entre o mar e a bicicleta.
Feito o retorno na marcação em frente à Praia de Santo Amaro, nesta segunda metade da corrida já conseguia impor algum ritmo à passada, que mesmo assim teimava em não abrir. O calcanhar batia no chão, o quadricípede aquecia e nem com as coxas ou os glúteos eu conseguia esticar a passada lá bem para trás, para lançar o corpo o mais possível para a frente com o impulso. Mas pelos vistos estava a ser suficiente para cumprir uma pequena missão: puxar o Hugo Pereira, um bravo atleta do grupo de Triatlo "Os Belenenses" que lutava contra algumas dificuldades mas que mesmo assim lutou até à meta com garra e muita força de vontade! Bravo Hugo!!! Pelo que vi parece-me que nas próximas provas vais ter um lugarzinho à tua espera lá entre os primeiros!
No final
O que dizer? Muitos sorrisos, muita satisfação e, apesar da prova ter sido curta, quer-me parecer que custou tanto como um trail, montanha acima, montanha abaixo. Um carinho especial a quem formou este bonito e animado grupo que tornou uma manhã de domingo bem diferente do habitual, tanto os que participaram, como do meu pai e da Inês que estiveram do lado dos apoiantes a fotografar, a filmar e a puxar por nós. Um agradecimento particular à Federação de Triatlo por uma boa organização de prova. E uma força aos cerca de 600 atletas que, profissionais ou amadores, contribuíram para esta verdadeira festa do desporto.
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XXV Triatlo do Ambiente - Prova Aberta - Classificação Individual Resumida
XXV Triatlo do Ambiente - C. N. Clubes, Cad e Jun - Classificação Individual