Seg | 21.08.17
O que os dinamarqueses (e todos nós) têm a ganhar com a utilização da bicicleta
José Guimarães
Passou 1 mês desde que fiz o meu primeiro Ironman. Parece que já foi há 1 ano. Seja como for, ainda penso em muitas das coisas que vi, dentro e fora da prova. Penso sobretudo na cidade de Copenhaga. Penso na qualidade de vida de quem lá vive. Penso, principalmente, nas bicicletas. Fazer o Ironman foi difícil, disso não há dúvida. Mas mais do que ser difícil ou não, é importante tirarmos algumas conclusões destas aventuras. E as conclusões podem vir de onde menos esperamos. De vez em quando vêm-me uns "flashes" à cabeça. Um desses "flashes" tem a ver com a imagem das pernas nórdicas que passavam por mim a pedalar, durante o segmento de ciclismo, rodava eu a cerca de 30km/h, pelo que acredito que eles (e elas) passariam por mim a quase 40km/h, sem problemas de maior. Pormenor importante para o comprimento dessas pernas nórdicas, que faziam com que o selim das suas bicicletas passasse acima da altura do meu capacete. E eu não sou baixinho, pelo contrário. Claro está que a maior parte dos vencedores do segmento de ciclismo foram... acertaram: dinamarqueses. Mas onde quero eu chegar com isto? Numa altura em que a obesidade é considerada um flagelo mundial (só em Portugal, uma em cada três crianças tem excesso de peso*), é importante que as pessoas se mexam. E com isto não quero dizer para irem fazer aquela caminhada ou o tal jogo de futebol com os amigos ao fim de semana. Não chega. A atividade física tem que fazer parte do dia a dia das pessoas, tanto dos mais novos, como dos mais velhos. O caminho para uma vida mais saudável tem tudo a ver com o combate ao sedentarismo e a adopção de estilos de vida mais saudáveis e ativos, envolvendo indivíduos, famílias, escolas e comunidades. A nossa famosa dieta mediterrânica não está assim tão presente na grande maioria das nossas mesas e, se nos últimos tempos ganhámos terreno no combate à mortalidade infantil, temos perdido no estilo de vida. E aqui chego onde queria chegar: às bicicletas (e às pernas) dos dinamarqueses. Os dinamarqueses não só são considerados um dos países mais felizes do mundo, como - arriscaria dizer - uns dos mais saudáveis. Talvez não no que toque à sua dieta, mas sim no que ao estilo de vida diz respeito. Tal como em muitas outras cidades planas, adoptaram a bicicleta como o meio de transporte principal e, deixando o carro em casa, praticam assim uma atividade física diária de meter inveja a qualquer um: treino de força constante, sem impacto e ainda por cima livre de stress. Isto também permite a que, quem por algum motivo tenha de andar de carro na cidade, não enfrente um engarrafamento ao virar de cada esquina. Ao integrar a bicicleta como meio de transporte diário, estas populações ganharam saúde e, consequentemente, qualidade de vida. Além de uma vantagem acrescida em provas de triatlo! E nós, o que é que podemos aprender com isto? No nosso dia a dia, só temos a ganhar se utilizarmos algo mais do que o habitual carro, como meio de deslocação principal. E esse "algo mais do que o carro" pode ser optarmos pelos transportes públicos, fazendo com que tenhamos que nos deslocar mais a pé, de casa para os transportes, destes últimos para o trabalho, etc. E quem diz transportes públicos diz, por exemplo, andar de bicicleta, comprando uma, ou aderindo a um dos sistemas de partilha de bicicletas, que começa lentamente a ganhar adeptos na cidade de Lisboa. Sim, vão ter que se levantar mais cedo da cama e sair de casa com mais antecedência. Mas vão ganhar aos pontos em saúde e ânimo, quando chegarem ao local de trabalho com o sangue a fluir por todo o corpo, já despertos e sem precisar da habitual dose de cafeína para "abrir a pestana". Na pior das hipóteses, teremos todos a ganhar se adoptarmos pequenos truques para aumentar o dispêndio energético diário (este é um dos objetivos principais), como estacionar o carro mais longe da entrada do shopping (ainda se poupa em dores de cabeça à procura do lugar perfeito), ir ao supermercado a pé, subir pelas escadas, em vez de subir pelo elevador, etc. Concluindo (e regressando às pernas dinamarquesas), acredito que se eu andasse todos os dias de bicicleta, principalmente no sobe e desce da cidade de Lisboa, com certeza o meu corpo teria tido um outro tipo de predisposição para enfrentar aqueles 180km em cima de duas rodas, um pouco mais do que aquela que teve no dia 20 de agosto. Não quero dizer que me tenha corrido mal, porque não correu. Mas que ainda hoje me lembro daquele povo a andar de pasteleira a 30km/h como se não se passasse nada, lembro... e deixa-me meio envergonhado. E vocês, qual é a vossa estratégia diária para praticar mais atividade física? *Fonte: SNS - Obesidade Infantil - CIOI 2017 Pernas fortes Disciplina Mexer-se e Perder peso