Já vi tanta coisa escrita sobre os Trilhos dos Abutres... sobre a lama, as escorregadelas e sei lá mais o quê, que não posso mesmo deixar de escrever este post. O mesmo segue em jeito de review feita à pressa, por forma a dar a entender a tanta boa gente que gosta de correr, algo que pode fazer toda a diferença entre nos divertirmos praticar trail running ou praticar um misto de corrida com patinagem mais ou menos artística: os sapatos de corrida. Estava indeciso sobre que sapatos levar para a Serra da Lousã. Já sabia que ia encontrar água, por isso estive vai não vai para levar os mesmos sapatos com que fiz os 50 km do Albufeira Night Trail: os novos Reebok H2O Drain, aqueles recém lançados sapatos de todo-o-terreno da Reebok, que têm um sistema fabuloso de escoamento de água. Os tais que andei a brincar (e a filmar) em Monsanto. Vejam o vídeo aqui. No entanto, as algumas falhas que notei na aderência em piso molhado ditaram que a minha escolha fosse, no fim de contas, a mais acertada que podia ter feito. Levei os belíssimos Salomon S-Lab Sense 3 Soft Ground. E como pude comprovar, "soft ground" é o terreno de eleição destes sapatos. Mas já lá irei. A Salomon conseguiu nestes sapatos juntar o melhor de dois modelos: o corpo dos Sense Ultra e a muito inspirada e popular sola dos Speedcross, resultando num sapato realmente capaz de enfrentar qualquer tipo de terreno.
Por fora
O que dizer dos Salomon Sense 3 Ultra Soft Ground? Basta olhar para eles. Umas linhas lindas e elegantes, um design soberbo, uma capacidade de adaptação ao pé que quase dispensa atacadores. Estes são os únicos sapatos de trail com que até hoje consegui correr sem palmilhas (e sem problemas) durante cerca de 20 kms. Se bem que, verdade seja dita, não se pode chegar a chamar palmilhas ao pedaço de tecido no interior destes sapatos. Mas o que é certo é que quem gosta de correr com este tipo de sapatos, sabe fazê-lo mesmo "ao natural". A "língua" tem a dimensão e posicionamento perfeitos, protegendo bem o pé dos soberbos e ultra eficientes atacadores de kevlar. A bolsa para esconder os atacadores lá existe e dá muito jeito. O único problema é que, quando os atacadores estão totalmente apertados, a dita bolsa fica debaixo dos atacadores, não sendo possível escondê-los no seu interior sem se travar antes uma luta titânica. E o que dizer do sistema Quicklace da Salomon? Não interessa quão convencionais somos, mas este sistema é simplesmente das melhores coisas que já usei em sapatos de corrida, apertando o pé uniformemente como uma luva feita por medida. Nunca senti qualquer necessidade de voltar a apertar os atacadores durante a corrida. Pelo contrário. À medida que os quilómetros passavam e os pés inchavam, bastou aliviar um pouco o Quicklace para ficar aliviado. O tratamento os sapatos a que foram sujeitos neste Trilhos dos Abutres, em tudo levariam a crer que saíssem da prova completamente destruídos. Mas não. Os materiais usados pela Salomon na construção deste sapato resistiram a todo o tipo de tratamento, como pontapés em rochas, ramos de árvores, lama, muita lama... e saíram sem um único arranhão, como novos... ok, só depois da lavagem em casa (as fotos que acompanham este post foram tiradas depois dos Trilhos dos Abutres, depois de ter lavado os sapatos em casa, e não quando os tirei novos da caixa).
A sola
A Salomon usa a sua sola Mud and Snow Contagrip nestes Sense 3 Softgound e o resultado não podia ser melhor. Não só esta sola permite dar um pouco mais de amortecimento ao sapato, como a tração se torna muito mais versátil. E Softground é mesmo o meio natural deste sapato, como pude experimentar ao longo dos 50 kms de terra e lama na Serra da Lousã. Ao contrário do que via acontecer com a maior parte dos sapatos dos outros atletas, cujas solas escorregavam no chão e escavavam autênticos buracos na lama, sem que isso se traduzisse em tração que os permitisse correr para a frente, estes meus Salomon agarravam-se ao chão com todos os seus "pitons" e, desde que tivesse a atenção de cravar bem o meio do pé no chão e não o calcanhar, podia estar descansado e esperar a melhor das trações, que me permitiam empurrar o corpo para a frente, tanto em reta, como em subidas mais íngremes. Contei as vezes que escorreguei com estes sapatos nos Trilhos dos Abutres e foram 3... sim, somente 3. Uma delas foi numa rocha.
Impressão final
Se, por um lado, a durabilidade que o sapato em geral comprovou ter me faz pensar nele para o poder usar em mais provas durante o ano, é certo que nem todas elas serão merecedoras das suas características tão especiais. Quando penso num sapato para trail running, penso muitas vezes nas suas características específicas e nas características do terreno em que os irei pôr à prova. Pela sensação de conforto e controle que os Salomon Sense 3 Ultra Softground oferecem, diria quase que foram desenhados de propósito para estes tipos de terreno escorregadios e lamacentos. Mas mesmo assim, não deixem de os usar em pisos mais incertos e rochosos, já que o conforto que me permitiu usá-los confortavelmente durante 50 kms nestas condições, vai também permitir que os usem noutros tipo de terrenos. Apesar de acreditar que o seu criador possa ser natural da Serra da Lousã (!!!) e os ter criado para aí serem utilizados, vou-lhes dar mais uso agora noutros tipos de piso... venha daí o Ultra Trail do Piódão.
Comentários?
Se estão a ler isto e têm estes sapatos (e muitos eram os participantes nos Trilhos dos Abutres que os tinham calçados) ou se pelo menos já os experimentaram, qual é a vossa opinião sobre os mesmos?