A razão pela qual comecei a correr está ligada a um estado um tanto desagradável da minha condição física passada, mas também a um estado espiritual com o qual não me identificava. Comecei a correr um pouco sem saber nem como, nem porquê, somente porque experimentei e gostei das primeiras sensações. Depois comecei a "tocar" nas distâncias de 10 km, na meia maratona e, de seguida, naquela que foi a minha primeira e - diga-se em abono da verdade - única maratona de estrada que fiz até agora. Foi durante este período de treinos para a mítica longa distância que me dei conta que, enquanto os benefícios físicos eram óbvios e muito bem vindos, também os benefícios a um nível mais espiritual cedo se fizeram sentir. Não digo que um pouco de espírito de competição não seja bom e desafiante. Mas as ligações às coisas mais simples (e importantes) da vida são, sem dúvida, aquilo que me faz querer continuar a sonhar cada vez mais alto. Sendo assim, partilho aqui convosco parte de um artigo que encontrei na net e que mostra 7 perfeitas razões pelas quais se pode constatar que a corrida não faz só bem ao corpo, mas também à alma.
1. Correr torna-nos mais humildes
Durante a minha primeira meia maratona (a bonita Meia Maratona do Douro Vinhateiro), lembro-me de vir já nos últimos 5 km com "os bofes de fora", a tentar dar tudo aquilo que tinha para dar, ao lado de um espanhol (sei que era espanhol porque entre um arfar e outro lá o ouvi falar com alguém... em espanhol) com o qual joguei uma bonita dança de "ora agora lideras tu, ora agora lidero eu". À entrada de Peso da Régua, a preparar a reta final da prova, lembro-me de começar a deixar o espanhol para trás, quando algo me passou pela cabeça... e disse a mim próprio: "o gajo ajudou-te até aqui, porque razão hás de fugir sozinho dele?". Então virei-me para trás e gritei-lhe qualquer coisa (em português) e fiz-lhe sinal para ele se colar a mim e fazermos aquele final juntos, o que aconteceu. Como também já me aconteceu o contrário, sei o importante que é lembrarmo-nos sempre que, como tudo o resto na vida, há sempre alguém mais rápido e alguém mais lento do que nós. Lembrarmo-nos disto mais vezes é positivo, porque pode acontecer que um dia sejamos nós a ajudar e, no outro, seja alguém a puxar por nós!
2. Correr torna-nos mais felizes
Depois de um dia stressante no trabalho, pode ser difícil canalizar a energia que necessitamos para trocar de roupa, vestir o equipamento de corrida e atacar a estrada. Podemos estar irritados com alguma coisa, zangados, deprimidos. No inverno, quando já é de noite à hora que saímos do trabalho, torna-se ainda mais difícil combater a tentação de nos afundarmos nesse desespero. Mas quando nos conseguimos convencer a sair para correr, a verdade é que depois do primeiro ou segundo quilómetro já nos esquecemos das coisas que nos perturbavam a cabeça. Nos quilómetros seguintes, estamos mais focados e felizes e só pensamos em quem gostamos, em coisas que gostamos de fazer, novos objetivos... e no final de um treino, o nosso estado de espírito estará decididamente alterado. Damos connosco mais felizes, não sentimos tanto o peso das responsabilidades e estamos decididamente mais abertos a vermos coisas boas à nossa volta, até naquilo que antes nos parecia deprimente.
3. Correr torna-nos mais bondosos
Há algum tempo lembro-me de ler um artigo sobre a ira que o trânsito provoca, algo parecido a estarmos num passeio cheio de gente, estarmos com pressa para passar ou em dificuldades e ninguém perceber ou se importar em ajudar. Durante algumas das minhas corridas em zonas mais movimentadas, como no centro da cidade, dou por mim a fazer autênticas gincanas entre as pessoas. E divirto-me quando analiso todo o tipo de pessoas com quem me cruzo. Percebo até que algumas delas possam ter stresses que podiam bem tentar controlar, problemas ou azares da vida que vão ter que aprender a superar, outras ainda parecem-me completamente derrotadas. É uma luta! De uma certa forma, isto ajuda-me a colocar-me dentro dessas lutas diárias que outras pessoas podem ter que lidar dia após dia e isso faz com que tente ser de alguma forma mais atencioso, faz com que goste de me relacionar com o próximo, de conhecer os meus vizinhos. Quando estou a correr, estas pessoas que se acotovelam nos passeios também são meus vizinhos e, mais do que os afastar, faço por sorrir quando passo por elas e tento assim fazer com que as coisas menos boas se tornem um pouco melhores.
4. Correr torna-nos mais orgulhosos... no bom sentido!
Ok, o orgulho é um pecado. Mas estabelecer um objetivo para nós próprios, trabalhar no duro para o concretizar e depois sentirmo-nos orgulhosos dessa conquista é espiritualmente saudável, especialmente numa cultura onde a gratificação instantânea é regra. Mas este é um orgulho tranquilo, silencioso, não tem nada de espampanante nem de arrogante. É algo que anda ali a tocar a humildade e o sucesso. Depois da minha primeira maratona, quando comecei a treinar para as "ultras", tive um problema com o tendão de Aquiles. Uns meses mais tarde, uma pancada no joelho fez com que tivesse de parar de correr por 1 mês. Mas até estas etapas menos boas me ensinaram alguma coisa de útil. Ensinaram-me a rever os meus objetivos e traçar novos. E quando os consegui atingir, deixaram-me orgulhoso! Superei os desafios e superei-me a mim próprio. A vida está cheia de desafios e precisamos quase sempre do nosso melhor para não nos tornarmos nas suas presas. Correr dá-nos - sem dúvida alguma - capacidades que nos permitem superá-los!
5. Correr permite-nos meditar
Fazer muitos quilómetros consome tempo e ouvir música ou podcasts tem os seus limites. Inevitavelmente vão existir longos momentos de silêncio. Esta é a oportunidade perfeita que eu encontro para fazer algo que não consigo fazer de outra forma: meditar. Muito frequentemente, dou por mim num trilho rodeado pela natureza, com tempo suficiente em mãos para refletir e pensar sobre a vida. Ou, mesmo que rodeado por amigos, fico feliz por saber descortinar o meu lugar neste mundo. Este movimento contínuo das pernas e dos braços liberta-nos de alguma forma a mente e deixa-a livre para poder contemplar outras coisas, talvez mesmo criando a capacidade para trazer alguma luz a questões mais complexas. Ou então para pensar em nada, algo que é praticamente impossível numa realidade hiper-conectada.
6. Correr testa os nossos limites
A primeira vez que fiz uma corrida de 10 km lutei por chegar ao fim. Uns tempos depois, convenci-me a mim próprio ir fazer uma meia maratona e fi-lo com um à vontade que me encheu de confiança suficiente para experimentar uma maratona. Durante os treinos para essa maratona, senti-me muitas vezes capaz de correr mais rápido, ou mais quilómetros, o que mais tarde me levou a querer experimentar distâncias ainda maiores. Na minha cabeça, o limite estava nos 42 km. Ainda bem que estava enganado! É impossível sabermos o quão vivos estamos se não testarmos os nossos limites um pouco mais além daquilo que pensamos ser capazes de fazer.
7. Correr torna-nos mais pacientes
As corridas longas demoram muito tempo. Não importa quão rápido corremos, levamos sempre algum tempo para terminar uma corrida de 50 km ou mais. Enquanto que as exigências físicas são duras, as exigências ao nível mental podem ser igualmente desgastantes. Experimentem treinar 2 horas ou mais a pedalar em cima de uma bicicleta estática... Se não soubermos ser pacientes, dificilmente chegaremos longe, tanto fisicamente como emocionalmente. Quanto me vejo no dia-a-dia "entalado" numa fila, no meio de uma reunião aborrecida ou no meio do trânsito, costumo apelar à paciência que ganhei enquanto corredor de longas distâncias, como uma forma eficaz de combater a ira ou o efeito de agravamento da situação. E, segundo dizem, a paciência é uma virtude. Portanto também precisamos de treiná-la por forma a saber mantê-la. A paciência pode ajudar-nos na interação com os outros, lembrando-nos constantemente que esses outros não são obstáculos para os nossos próprios sonhos mas, tal como nós próprios, são outros seres humanos, nossos vizinhos. Correr dá-nos a paciência necessária para isso.