Este fim de semana que passou tive a oportunidade de experimentar novamente uma das coisas que mais prazer me traz quando corro. Mas provavelmente para surpresa de alguns, não vou falar do facto de poder gozar de boa saúde por correr, ou de como enfrentar os desafios, nem da gestão do esforço ou das meditações durante a corrida, etc. Vou falar antes de algo que todos trazemos dentro de nós, mas que infelizmente poucas vezes se materializa. Felizmente que há pouco mais de 1 ano atrás decidi começar a correr e isso proporcionou-me, entre outras coisas, poder tocar no assunto que hoje aqui vos trago: solidariedade. O evento do fim de semana Muitos de vós acompanharam-me neste fim de semana naquilo que é para mim o verdadeiro acto de correr. No Mega Free Trail Running partilhámos a cidade e a serra, algum esforço, sorrisos e muito companheirismo. Ah! E um pouco de gula também!!! Volto a tocar no ponto que aqui refiro muitas vezes, que só assim o acto de correr me faz algum sentido. Mais do que lutar pelo cronómetro e por boas classificações na geral, correr (como outros desportos que aqui não menciono mas que se incluem perfeitamente neste contexto) traz à tona sentimentos que, ora esquecemos, ora reparamos de vez em quando que andam um pouco adormecidos. Não quero com isto dizer que não gosto de chegar ao final de uma prova e verificar que fiquei bem classificado na geral, ou que consegui chegar à frente de alguém com mais "estaleca" do que eu. Claro que gosto! Isso traz-me motivação e confiança para continuar a querer ir um pouco mais além! Mas se dissesse que é nisto que se baseia a "minha" corrida estaria a deixar para trás a verdadeira essência da mesma. Então porque corro eu? [caption id="attachment_1392" align="alignleft" width="150" caption="Parte do material doado na mala do carro"][/caption] No domingo ao final do dia, depois de vos ter deixado em Sintra, alguns com vontade por mais, outros com uns litros de suor a menos, estacionei o carro, olhei para a monumental desarrumação que trazia lá dentro e senti-me verdadeiramente feliz. Talvez alguns de vós já tenham tido a oportunidade de passar por esta experiência de contribuir de forma verdadeiramente altruísta, mas para mim foi a primeira vez, e logo do lado do organizador. Posso dizer que me senti tão realizado como a primeira vez que corri mais de 10 km (ainda hoje me lembro como foi), estava então a treinar para o compromisso de fazer a minha primeira maratona. Além de ter tido o prazer de participar na organização deste evento, cujo objectivo era a pura partilha de algo que gosto de fazer - correr -, conseguimos angariar cerca de 4 caixotes bem cheios de tshirts e de material escolar para doar a uma associação que, contra todas as dificuldades, se dedica a ajudar uma mão cheia de pessoas portadoras de deficiência. Não sei quantos quilos são, mas sei que vão fazer a diferença. E foi tudo doado por vocês, amigos da corrida. Ajudar o outro A primeira vez que me lembro de ver imagens da Marathon des Sables, ainda não faz 1 ano, fiquei impressionado pelo contraste entre a beleza e a dureza da prova, mas principalmente por uma imagem em particular que nunca me saiu da cabeça (infelizmente não a encontrei para a mostrar neste post) e que mostrava um atleta de braço dado com outro, para o ajudar a conseguir chegar ao final de uma etapa. Claramente percebi que aqui não importavam os tempos nem as classificações, importava sim o acto perante o outro. Felizmente já tive oportunidade de testemunhar estes actos ao vivo, não na MDS (ainda não), mas em algumas provas de trail em que já participei no nosso país. E percebo que sem este toque de humanidade não fazia para mim sentido correr. Sem um grito de "FORÇA!!!", não se lutaria mais aquele bocadinho para chegar ao fim da etapa. Sem uma mão amiga, mesmo que de um desconhecido, não nos levantaríamos e caminharíamos até ao final. E este é o paralelismo perfeito para o que aconteceu neste fim de semana. Cada um de vós, por ter contribuído com algo para ajudar desconhecidos que precisam desse contributo fizeram, por si só, valer a pena todo o esforço para organizar este evento. Pessoalmente estou extremamente agradecido e creio que posso falar pelos amigos que se voluntariaram, pela parceria com o Trail de Portugal e amigo Jorge Esteves, pela Troca por 1 Sorriso que colaborou na vertente social e angariações e em particular pela CREACIL, que irá ser alvo do vosso gesto. E se a isto juntarmos todas as palavras de apoio, os abraços e os sorrisos trocados, só faz com que queiramos repetir a dose! Isto para dizer: espero ser possível rever-vos em breve, sempre com o mesmo espírito e a mesma vontade. Um bem hajam a todos! E continuem a ajudar quem mais precisa, seja a correr ou não.