Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Ex-Sedentário - José Guimarães

A motivação também se treina!

Ter | 07.01.14

Procura a corrida dentro de ti

José Guimarães
  Antes de mais quero deixar bem claro que não pretendo plagiar ninguém. Por isso adianto desde já que este post é propositadamente e altamente influenciado (com transcrições completas pelo meio e tudo) por um livro que comecei a ler, chamado "Procura dentro de Ti", de Chade-Meng Tan. Este senhor é, ao que parece, um grande cérebro da engenharia informática na Google e batizou com este título um dos cursos mais populares da história da empresa (quem sabe do mundo). Um dos seus objetivos (além de trabalhar) é - agora - o de ajudar os seus colegas a serem mais felizes. E desafia cada um de nós a descobrir o caminho para o sucesso, a felicidade e - sim, isso! - a paz no mundo. A minha premissa segue esta via, mas vai um pouco mais longe: e que tal se conseguíssemos isto tudo através do desporto? Vejamos se é possível.

Os benefícios da inteligência emocional

O assunto sobre o qual este livro trata gira à volta de algo chamado de inteligência emocional. A ideia que serve de base a todo o curso de Meng (e ao seu livro) é de que o nosso próprio bem estar sai beneficiado quando somos capazes de reconhecer e estimular simultaneamente o bem estar dos outros. E é isso mesmo que a inteligência emocional pretende, principalmente quando é baseada numa forma de estar plena. E esta plenitude é onde - na realidade - já estamos, sem termos de a procurar numa outra dimensão paralela qualquer. Assim sendo, este livro (e o tal curso) tem a ver com descobrir, recuperar e desvelar essa dimensão plena dentro cada um de nós e, a partir daí, combiná-la com as coisas que mais amamos (e porque não o exercício físico?), apimentá-la com um pouco de imaginação e criatividade inatas, e deixá-la manifestar-se de várias formas (correr!!! correr!!!), tudo em prol do bem estar e felicidade globais. Não sei qual a vossa opinião sobre aquilo que leram até aqui, mas eu (e até mesmo o próprio autor) acho que isto parece tudo uma utopia. Só que se calhar não é! O objetivo de Meng é simplesmente o de ensinar toda a humanidade a meditar e tornar os seus benefícios aceites por todos, tal como se falássemos dos benefícios do exercício físico. Mais ainda, é garantir, tanto quanto possível, que os mesmos sejam praticados por todos aqueles que não só procuram manter-se em forma ou correr uma maratona (e que para isso praticam exercício físico), mas também tenham sido de alguma forma tocados por este convite para procurar algo no interior de si próprios.

Treinar a fisiologia

O autor defende que todas as emoções têm uma correlação no nosso corpo e que qualquer experiência emocional não se resume a uma experiência psicológica, mas também a uma experiência fisiológica. Assim sendo, quando estamos a tentar perceber uma emoção, conseguimos geralmente melhores resultados se dirigirmos a nossa atenção para o corpo em vez de a dirigirmos para a mente. Dirigirmos a atenção para o corpo permite-nos ter uma percepção de alta resolução das emoções, sendo possível observar todo o ciclo de uma emoção, desde que ela emerge, até ao momento em que aumenta, se desvanece e, finalmente, se extingue. E isto é muito importante, porque quanto melhor conseguirmos compreender e ter a percepção das nossas emoções à medida que elas surgem e se alteram em câmara lenta, mais competência teremos para as gerir. Um pouco à semelhança do filme Matrix, em que o Neo se desvia das balas, depois de conseguir perceber o momento em que são disparadas e ver a respetiva trajetória em câmara lenta. Apesar de não nos conseguirmos (ainda) desviar das balas retardando a noção de tempo, conseguimos uma proeza semelhante se melhorarmos enormemente a nossa capacidade de percepcionar a experiência das emoções. E o modo de desenvolver uma percepção das emoções é aplicando uma atenção plena ao nosso corpo, ou seja, trabalhar ao nível fisiológico.

A atenção plena em dois minutos

Antes de mais porquê dois minutos? Porque esse é o tempo médio de atenção de uma criança. E o mais animador nesta coisa que é praticar a atenção plena é que é estupidamente fácil. É fácil porque todos já sabemos como se faz e até o fazemos de vez em quando. Atenção plena significa "prestar atenção de uma forma particular, intencionalmente, no momento presente e sem fazer juízos de valor". Ou seja, a atenção plena é o estado mental de simplesmente estar. É tão simples como prestar atenção ao momento presente sem fazer juízos de valor. Só isto! A parte difícil na atenção plena é aprofundá-la, fortalecê-la e mantê-la, especialmente nos momentos mais difíceis das nossas vidas. Meng explica as duas formas de "saborearmos" um pouco de atenção plena: a Maneira Fácil e a Maneira Mais Fácil: A primeira - a Maneira Fácil - consiste simplesmente em dirigir uma atenção suave e constante para a nossa respiração durante dois minutos. A Maneira Mais Fácil é ainda mais fácil que a primeira: basta sentarem-se sem objetivo nenhum durante dois minutos. A ideia é passar do estado de "fazer" para o estado de simplesmente "estar". Durante dois minutos. Mais fácil é impossível. A premissa é que se isto for praticado com a devida frequência, aprofunda a nossa tranquilidade e clareza da mente.

O que é que o exercício físico tem a ver com isto?

Podemos encontrar uma parte interessante da atenção plena, por exemplo, enquanto corremos. Quem nunca teve um daqueles momentos de "apagão" em que, durante um treino, parece que a mente se desliga durante uns minutos e, quando se liga novamente, não nos lembramos do que se passou nesses minutos, nem do percurso, nada? Acontece-me com frequência. E acontece-me principalmente no meio dos trilhos, quando corro no meu meio preferido, que é no meio da Natureza. Porque é que isto acontece? Porque nesses momentos eu não estou só a correr por correr. As pernas estão a mexer-se, sim! Mas eu estou a viajar ou pela minha respiração, através dos meus próprios pulmões, ou através do meu corpo, entrando no detalhe de cada movimento, de cada membro, na função de cada músculo, cada célula... como se isto tudo fosse um filme de alta definição a passar em câmara lenta. Estou a praticar a atenção plena!