Queres treinar a sério? Primeiro, conhece-te a ti próprio!
Foto: Ontrisports
Quando comecei a correr, treinava corrida, só corrida e nada mais. Se sou apologista que devemos treinar os estímulos que queremos aperfeiçoar, não nos podemos esquecer que o corpo funciona como um todo e, neste caso, correr não se trata só de mexer as pernas rapidamente. Assim sendo, a coisa foi-se tornando mais séria, quis correr mais kms e, para me sentir mais preparado, procurei um treinador e entrei num ginásio. Experimentei o triatlo, então pela mão do António Nascimento e fui ao UTMB... duas vezes! Agora que até já fiz um Ironman e que me formei como Técnico de Exercício Físico, treinar tornou-se algo mais sério. Os objetivos não são só meus, mas também das pessoas a quem dou treinos e presto uma atenção diferente a coisas como volumes de treino, cargas e intensidades, periodização e outros palavrões que fazem parte de fundamentos científicos, que existem para que os objetivos sejam atingidos com mais precisão, sejam eles quais forem. No meio de tudo isto é importante não nos esquecermos de uma coisa: que não somos super-homens (embora às vezes pareça) e que, acima de tudo, prezo muito o prazer que se tira destas coisas.
Um novo objetivo
Depois de no ano passado ter praticamente trocado o desporto por novos desafios profissionais, este ano bati com a cabeça na mesinha de cabeceira e percebi que tinha que meter no calendário de 2019 um novo objetivo desportivo. Um objetivo (desportivo, mas não só) ajuda-me a trabalhar melhor, a ser mais focado no que faço, porque faço-o com um propósito. Já tiveram aquela vontade NULA de se levantarem da cama cedo e ir para o ginásio? Provavelmente isso acontece porque não sabem o que vão fazer, não há um foco. E consequentemente, se não há foco, não há vontade.
Assim sendo, como uma das últimas coisas que me deu mais gozo fazer nos últimos tempos foi o Ironman, os meus objetivos para 2019 são os seguintes:
1º Voltar a praticar triatlo
2º Treinar quem queira correr (as aulas Goall Running estão quase de volta!), mas também quem queira praticar triatlo (e ganhar massa muscular, e perder peso, e tudo aquilo que se faz num ginásio)
3º E está visto que vêm aí mais uns cursos e umas formações a caminho! ;)
Por onde começar então?
Como estive 1 ano praticamente parado, achei por bem aproveitar o contacto recente com o Sérgio Santos, conhecido treinador de triatlo com muitos anos de experiência na modalidade, e experimentar o seu projeto Ontrisports, do qual eu vou falando e vocês vão percebendo do que se trata.
Como me desleixei um pouco, como tal, tinha que começar por saber em que pé estava, para delinear o que fazer e como fazer, de uma forma o mais estruturada e realista possível. É um pouco como receber alguém num ginásio para treinar, mas antes fazer-lhe uma avaliação inicial, para perceber em que situação está, o que se pretende atingir e, desta forma, conseguirmos trabalhar acompanhando e medindo a sua evolução.
Avaliação de lactato (ciclismo)
Uma das primeiras coisas que fiz foi um teste de lactato. Escolhi fazê-lo na bicicleta, já que esta não só é a minha modalidade mais fraca, como é aquela em que se consegue ganhar mais tempo (até porque é a modalidade mais longa). Vejo tantas vezes malta a passar por mim com tal facilidade, que mais parece que estou parado! Por isso gostava mesmo de dominar melhor esta modalidade. E para quem não sabe o que é um teste de lactato, neste caso na bicicleta, consiste em pedalar em vários patamares de intensidade, sendo que em cada patamar se faz uma picagem na orelha para colheita de sangue e medição do lactato no sangue. E para que é que isto serve afinal?
O lactato é produzido pelo organismo após a quebra da glicose para produção de energia. O nosso corpo produz sempre lactato (sim, enquanto estão a ler este texto, estão a produzir lactato), embora seja em quantidades muito baixas. O que acontece quando fazemos exercício mais intenso é que a produção de lactato é maior. No entanto, o lactato não é responsável pela fadiga muscular. Em excesso ele provoca elevados níveis de acidez (sensação de "queimadura" ou "rigidez" muscular), que podem mesmo chegar a danificar as fibras musculares. O nível de lactato permite assim avaliar a capacidade de exercício de uma pessoa e monitorizar da forma mais correta a intensidade de treino de um atleta. Da mesma forma, se um atleta conseguir diminuir a sua produção de lactato, ou o período para eliminação do mesmo do organismo, melhorará o nível de performance muscular. Treinando o corpo para "remover" o lactato de forma mais rápida, vai permitir manter um elevado nível de intensidade durante mais tempo. Interessante, não é?
O resultado desde meu teste revelou o que esperava. Que em níveis de intensidade elevada (a partir de 230/240W) o meu lactato praticamente explode (de níveis normais, mais que duplica) e que o tempo de recuperação é muito acima do desejado, revelando uma falta tremenda de trabalho de base aeróbio e de volume de treino. Pedalar muito, portanto, é o que me espera nesta fase inicial.
Avaliação biomecânica (corrida)
Já sabia à partida que a corrida era a modalidade em que estaria mais à vontade. Por isso, foi com menos nervoso miudinho e com mais entusiasmo que me lancei à passadeira do Motionmetrix 3D, o sistema utilizado pela Ontrisports para nos tirar uma verdadeira radiografia à nossa forma de correr. Mas não pára aqui! Além de "ver" como corremos, este sistema também nos compara com uma amostra de atletas de elite que fizeram o mesmo teste, colocando-nos numa tabela comparativa com os mesmos. Uma espécie de Strava, mas mais científico e sem "picanços"... ;)
A avaliação biomecânica consiste em correr numa passadeira, enquando as câmeras à nossa volta (o tal sistema Motionmetrix 3D) filmam e registam tudo o que há para registar sobre a forma como corremos. E se eu já sabia que estaria mais à vontade neste campo, não estava nada à espera de ter uma forma de correr das mais limpinhas que o Sérgio já avaliou! Fiquei satisfeito!!! Mas que resultados são esses, afinal? Aqui ficam alguns dos mais interessantes a reter:
- Velocidade/ritmo da avaliação: 15km/h / 4:00min/km
- Boa economia da corrida: A++ (mais ou menos como as melhores máquinas de lavar a roupa)
- Tipo de passada a melhorar: ataque ao solo em supinação, muita carga na tíbiotársica (mais exercícios de skipping, rampas, saltos, etc)
- Boa cadência: 176 passos por minuto
- Bom tempo de contacto com o solo: melhorar as sapatilhas, usar umas mais rígidas, com maior resposta
- Força de travagem mínima: melhorias com trabalho de força reativa, pliometria, potência, agachamento e elevação
- Joelhos ligeiramente valgos e apoios (pés) quase sobrepostos: melhorar equilíbrio entre forças internas e externas e maior estabilidade nas sapatilhas
E agora os treinos?
Com os dados em cima da mesa, percebe-se o que é necessário fazer para se chegar onde se quer chegar. Depois das avaliações feitas pelo Sérgio, o agora responsável por me incutir o sentimento da responsabilidade em cumprir com um plano de treinos é o tri-coach Diogo Custódio. Esta será a parte mais científica da coisa e (no que me toca a mim, pelo menos) a mais difícil: há que treinar! Há que apostar no trabalho de base no ciclismo, algum trabalho de potência na corrida e melhorar alguns pontos aqui e ali. Se tiverem curiosidade em acompanhar este caminho, podem ir vendo o que faço através do meu perfil no Strava.
E se tiverem dúvidas e questões sobre o que fiz, podem sempre enviar-me uma mensagem, ou entrar em contacto direto com a Ontrisports (sigam o link para os contactos).