Ontem à noite tive o prazer de ser convidado por um grupo bem animado de malta para ir correr a Monsanto. A corrida começou pelas 21 horas, portanto com a noite já a cair e prolongou-se por umas agradáveis 3 horas, pelos trilhos de Monsanto fora. Teria sido um treino mais curto, não fosse uma das meninas do grupo ter pisado mal uma pedra e sofrido um entorse no tornozelo, fazendo com que o caminho de volta ao ponto de encontro demorasse mais tempo. Este pequeno incidente fez-me lembrar um artigo interessantíssimo que li um dia e que agora partilho convosco, não só pela sua importância para quem gosta de correr à noite (treinos ou provas), mas principalmente pela sua simplicidade e pensamentos de base essenciais que inclui. Se abordarmos alguns corredores que já tenham feito uma prova noturna (ou, pelo menos, uma prova cujo percurso decorra parcialmente durante a noite) e lhes perguntarmos o que os atrai neste tipo de provas, será muito frequente escutarmos as palavras "diferente", "especial" ou "mágico". E não será para menos. Este tipo de experiências é daquelas que ficam gravadas na memória de qualquer pessoa. Seja uma prova ou um treino como o de ontem, correr de noite e principalmente em trilhos é viciante! Mas nem tudo é magia nos trilhos noturnos. Este tipo de percursos também comportam certos riscos que convém termos em conta. Não só acidentes como o de ontem podem acontecer, como há relatos de provas noturnas onde os corredores se perdem, o que há noite tem risco acrescido. Para evitar estes perigos são necessários alguns ingredientes essenciais, quer em matéria de sinalização, quer na consciencialização por parte do corredor que enfrenta a noite.
Iluminação
Para ver e correr no escuro da noite necessitamos de luz. Poderíamos iluminar o caminho de diversas formas, mas a mais prática, mais cómoda e mais eficiente é colocar uma fonte de iluminação à nossa frente, ou seja, usar um frontal. Para onde quer que estivermos a olhar, será para onde a luz estará a iluminar. Devemos sempre dedicar algum tempo para nos acostumarmos a utilizar este tipo de iluminação, porque nem os nossos olhos nem o nosso sistema perceptivo estão originalmente configurados para estas condições tão específicas. Aos poucos seremos capazes de perceber melhor a profundidade, as sombras e as diversas formas no nosso caminho. Na hora de escolher um frontal, à margem da questão do preço será importante termos em conta três critérios:
Potência de iluminação
Peso
Durabilidade e fiabilidade das baterias
Com o frio, as baterias podem sofrer mais e recomenda-se que nestas condições se transportem baterias de substituição, para evitarmos imprevistos. Também não deveremos usar a iluminação na sua potência máxima, principalmente nas ascenções. Não é necessário e, com este cuidado, poupamos energia e deixamos alguma reserva para quando corrermos mais rápido, como é no caso das descidas.
Agasalho
Durante a noite é normal que a temperatura desça. Devemos levar sempre roupa de proteção adequada, principalmente se a corrida se realizar durante as épocas mais frias do ano, ou se as características da prova forem suscetíveis de alterar. Ir para uma corrida bem agasalhado é tão importante como ir bem iluminado. Eu que diga o que sofri no UTAX por não ir bem agasalhado...
Os outros sentidos
A visão, tão protagonista durante o dia, ressente-se em condições mais adversas, como a noite, em que perde capacidade de recepção. O amplo campo de ação que o corredor diurno perceciona, à noite fica reduzido a poucos metros, quando iluminado pelo frontal. Por esta razão é importante mantermo-nos focados nos outros sentidos, sobretudo a audição e evitar confiar demasiado na visão. É importante e gratificante perceber o que ocorre à nossa volta através da audição, ou seja, aprender a escutar a noite, aprender a correr com todos os outros sentidos.
Psicologia
O fator psicológico é muito importante nos trilhos noturnos e nas ultra-distâncias que envolvam a noite no seu percurso. Se o trail running diurno já converte a nossa força mental num fator decisivo, o trail running noturno adiciona alguma complexidade à sensação de solidão. Esta sensação, que para alguns é excitante, como uma espécie de diálogo entre o corredor e a natureza, pode resultar em algo esgotante para outros, sobretudo depois de percorridos muitos quilómetros. Por outro lado, não ver nada mais do que alguns metros à nossa frente tem uma vantagem óbvia: não podemos ver o fim do caminho que percorremos e, como tal, não sabemos quanto falta até chegar ao topo daquela subida difícil e ficar a pensar nisto, em vez de desfrutar da corrida. Isto, desde cedo, pode ser um alívio.
Treinar em grupo e em locais conhecidos
Devemos sempre condicionar as nossas primeiras sessões de treino noturno em lugares bem conhecidos e, dentro do possível, acompanhados por outros corredores. Tanto o grupo como o terreno já familiar reduzem as possibilidades de nos perdermos e ajudam-nos a experimentar a escuridão em segurança, a reconhecer as sensações que provoca e a trocar experiências com os nossos companheiros de corrida. O grupo facilita e acelera a aprendizagem necessária para nos fazermos à noite em segurança. Fonte: Corredor de Montaña