Acontece comigo e creio que acontece com todos. Quando pensamos em Salomon pensamos instantaneamente em trail running, em montanhas, no Kilian Jornet e nos seus recordes, certo? Mas uma coisa é o que pensamos e outra é a realidade. E quando vi na 4Run, no Parque das Nações, que a Salomon tinha lançado um sapato para corrida de estrada, primeiro fiquei admirado. Depois... fiquei super ansioso por saber quando é que teria a oportunidade de experimentar esta novidade! Como quando se quer muito, as coisas acontecem, a oportunidade surgiu - em modo de corrida - na Salomon Community Run 2016, um evento organizado pela marca, que decorreu ontem à noite em Lisboa, com o objetivo de dar a conhecer este sapato de corrida aos fãs e assim demonstrar o seu potencial para correr na cidade, o cenário de treinos da maior parte de nós. Uma das dúvidas que mais me assolavam era se este sapato para estrada, vindo de uma marca conceituadíssima na montanha, estaria à altura da concorrência já estabelecida neste habitat. Mais! Se as características que tantas pessoas gostam quando correm fora de estrada, estaria também presentes agora num sapato cujo objetivo seria correr em cenários planos e de piso duro.
Primeiro: calçar o sapato
Mesmo antes do pé entrar dentro do Sonic Pro, podemos perceber que se trata de um equipamento para corredores que pretendem acima de tudo eficácia de corrida. É um sapato leve e aparentemente sem muito amortecimento, o que pode suscitar algumas dúvidas iniciais (reforço: iniciais) nos corredores mais pesados. Ao calçar o sapato, o cérebro de quem já antes usou Salomon ativa-se e percebe-se imediatamente em que terreno se está a jogar. Desde a camada de neoprene no interior chamada Endofit - que possibilita um ajuste interno muito preciso do pé à sapatilha, promovendo a cada passada um bom apoio da arcada plantar - passando pelo Sensifit, ou pelo sistema de aperto Quicklace (para os mais tradicionais o Sonic vem com atacadores normais nas outras versões), o fit que este Sonic Pro oferece não difere em nada dos outros Salomon, ajustando-se na perfeição mesmo aos pés mais magros (como o meu), não deixando margens para "derrapagens" dentro do sapato, seja em que direção for. O pé está bem fixo, ponto final.
Segundo: a correr!
A primeira coisa que me veio à cabeça quando calcei os Sonic Pro foi: estes sapatos vão-se revelar muito "secos" e, juntamente com a dureza do asfalto, os buracos e a instabilidade da calçada das ruas de Lisboa, vou acabar este teste com o pé massacrado. Isto porque, depois de meses sem correr, vindo de um tratamento a uma fasceíte plantar, isto seria tudo o que eu não queria que acontecesse. Daí o compromisso com a organização de correr a um ritmo controlado e sem exageros de maior, sempre com atenção aos pés. Mas... Salomon é Salomon e eu já deveria saber o que aí vinha. Não, não me aconteceu nada de mal... pelo contrário. Já lá irei. Os primeiros passos de corrida foram a descer o Parque Ed. VII e a Av. da Liberdade. Ora, toda a gente sabe o que é que acontece a uns pés dentro de uns sapatos, enquanto se corre numa descida: se não estão bem apertados, os pés começam a escorregar para a frente do sapato, até que os dedos começam a tocar na frente e as unhas a sair magoadas da experiência. Por isso, uns sapatos querem-se bem justos e firmes no peito do pé e é esta a sensação que a Salomon oferece também neste modelo. Seja a subir, em plano ou a descer, não há forma do pé se desviar 1mm da sua posição inicial, dentro do sapato. E isto sem comprometer o conforto. Todos sabemos que apertar em demasia os sapatos vai fazer com que o peito do pé saia martirizado ao fim de algum tempo. Mas aqui isto não acontece. Quanto à dureza em demasia da sola que eu tanto temia... bom, dependerá muito dos gostos pessoais de cada um, mas a mim, ainda meio coxo por causa da fasceíte plantar, surpreendeu-me pela positiva. O conjunto da forma do sapato, o drop de 8 mm, o Quicklace, Sensifit, Exofit, borracha Contagrip e a camada 3D Profile, tudo parece feito de forma a contribuir para uma perfeita sensação de corrida. A perfeição quase cirúrgica com que os pés contactam com o chão, a rapidez com que saem, a perfeição no ataque às imperfeições das nossas ruas alfacinhas, mesmo com uma força centrífuga forte, numa esquina apertada ou numa travagem por causa de um carro que não trava na passadeira, tudo parece fluir numa passada naturalmente simples, que deixa os nossos sentidos mais alertas para o cenário que nos rodeia e permite que a biomecânica faça o seu papel de forma praticamente automatizada.
Concluindo
Depois desta primeira experiência, parece-me que os corredores que já apreciam Salomon, mas que - como eu - não têm muitas oportunidades para correr fora de estrada, vão ficar muito satisfeitos quando puderem fazer o seu treino diário de corrida plana com estes Sonic Pro calçados. Os aspetos técnicos diferenciadores que transitam dos sapatos de trail, fazem com que este seja um sapato para quem gosta de kms, transmitindo a cada passada boas sensações aos seus felizes proprietários. Os Salomon Sonic Pro vão antes de mais agradar aquela estirpe de corredores que gostam de apelar à propriocepção, ou seja, que gostam de sentir o que os seus pés fazem no chão (e também as sensações que o chão passa aos seus pés), sem se preocupar com antecipar todos os "acidentes" do solo e quase sem sentir que têm uns sapatos calçados. Fazem-me lembrar as primeiras sensações que tive com os Salomon S-Lab Sense 3 Softground, por ocasião dos Trilhos dos Abutres. Ver post: Os sapatos que usei para correr nos Abutres Os Salomon Sonic Pro são assim, por todas as características que já referi (e outras que poderão encontrar nas reviews já disponíveis por essa internet fora) uns verdadeiros Salomon, que deixam no ar a sensação que esta marca, que tantos adeptos já conquistou na corrida de montanha, se prepara agora para conquistar mais alguns ao nível do mar. Continuo curioso por mais... ;)