Há uma tendência para pensar que tudo se resume a treinar o mais forte possível e o mais rápido possível. Mas nem sempre é assim. No vocabulário de um corredor, a paciência é uma palavra difícil de engolir. Quem corre, normalmente gosta de correr rápido, ou cada vez mais quilómetros e superar os nossos recordes anteriores. E isto o mais cedo possível. Eu também passei por toda esta ansiedade. Nunca ficava satisfeito com um treino que não me desse aquelas dorzinhas nos músculos, típicas de quem se esforçou ao máximo. Isto para mim era sinónimo de dedicação e era isto que iria fazer de mim o melhor corredor que eu pudesse ser. Mas nem sempre é assim. Não só esta forma de pensar tem impacto nos nossos objetivos a curto prazo, graças às dores e lesões mais do que frequentes, típicas de sobrecargas de treino, mas também podem afetar objetivos a longo prazo. À medida que amadurecemos enquanto corredores, mudamos muitas vezes a nossa perspectiva sobre alguns tipos de treino e aprendemos a apreciar a arte de ter paciência. Esta mudança na forma de pensar não é fácil e não acontece da noite para o dia.
Terminar os treinos a sentir que se podia continuar a treinar
Esta é a máxima que devem interiorizar na maior parte dos treinos de corrida. Depois de cada treino, devem estar capazes de sentir que poderiam ainda fazer mais uma repetição, mais uma volta à pista ou mais 1 km. Quando se estiverem a sentir no limite, deverão ser capazes de cortar nas repetições, ou na intensidade. Fazer isto pode ser a diferença entre ficar uns dias a recuperar, ou continuar a treinar consistentemente dia após dia. Num estudo publicado no European Journal os Applied Physiology, um grupo de atletas realizou uma série de exercícios em máxima intensidade durante 12 semanas. Os investigadores compararam com um outro grupo que realizou os mesmos exercícios, mas numa intensidade mais moderada. O grupo de alta intensidade melhorou a performance mais rapidamente, registando um aumento na VO2 max 30% mais elevada que no grupo de intensidade moderada, logo ao fim de 3 semanas. No entanto, após 9 semanas, as melhorias registadas no grupo de alta intensidade eram só de mais 10% que no grupo de intensidade moderada. E, mais importante do que isto, ao fim das 12 semanas, o grupo de alta intensidade não registou ganhos maiores que o grupo de intensidade moderada, no que diz respeito ao VO2 max. Claramente, esta pesquisa mostra que enquanto poderemos ter ganhos mais rápidos nas primeiras semanas com treinos de elevada intensidade, esses ganhos não serão maiores quando comparados com os que poderemos ter com treinos de intensidade moderada, isto a longo prazo.
Mas e se eu quiser melhorar rapidamente?
Claro que, tendo em conta a pesquisa desenvolvida, a maior parte dos corredores ainda assim iria escolher os treinos de alta intensidade. Se ao fim das 12 semanas os resultados são iguais, porque não optar por estes se começarem a revelar mais cedo? Não estava totalmente incluído neste estudo, mas é igualmente importante analisar o impacto e as lesões que o treino de alta intensidade podem provocar num atleta, bem como a sua influência nos resultados a longo prazo. Não é de surpreender portanto afirmar que, quanto maior for a intensidade dos treinos, mais elevado é o nível de risco de lesão. Quando mais intenso (e rápido) for um treino, maior probabilidade existirá de sairmos magoados. O problema que se encontra em muitos corredores que tentam treinar intensamente diz respeito ao ciclo de lesões, o que impossibilita progressos a longo prazo, pois por cada dois passos à frente, dão um passo atrás. Não é surpresa que os corredores que treinam com alta intensidade correm mais rápido ao fim de algumas semanas do que os corredores mais moderados. No entanto, não é também surpresa que não demorará muito para que os corredores de alta intensidade sofram as primeiras lesões e tenham a necessidade de repousar durante uma ou duas semanas. Isto ocorre sem grande problemas, pois passadas algumas semanas, os corredores de alta intensidade estarão novamente a treinar como sempre treinaram, possivelmente à frente dos corredores de intensidade moderada. No entanto, o ciclo de treinos e lesões continuará a repetir-se até que o corredor de alta intensidade ganhe consciência que já ficou para trás do seu colega que sempre treinou de forma moderada. Se se revêem nestas descrições, não queiram ser o tal corredor que treina com alta intensidade. Aprendam com os erros de muitos outros corredores que já sofreram antes de vocês. Os estudos estão aí para aprendermos com eles e, com eles, a sabedoria de treinadores que sabem o que fazem. Tenham paciência e vão usufruindo o vosso caminho. Fonte: competitor.com