Voltar ao exercício depois da Covid-19
É impressionante o quanto me ficaram a doer as pernas depois de 1 hora de corrida! E o que me ficaram a doer os músculos depois dos primeiros treinos no ginásio? Tudo isto tem uma razão de ser. Depois de praticamente duas semanas com atividade física próxima do zero graças à Covid-19 (e não foi só exercício zero, foi qualquer tipo de atividade mesmo), o regresso aos treinos depois da “ordem de soltura” está a ser um desafio… por vezes doloroso!
Tem sido assim nos últimos tempos, um pouco com quase todas as pessoas que eu conheço. A pandemia da Covid-19 alterou - e muito - as rotinas do dia a dia de muitos de nós, desportistas ou não. E com tantas restrições, não é de admirar que muita gente tenha deixado de praticar exercício físico, isto além daqueles que já não o praticavam de todo.
Falando daqueles que praticavam exercício físico, além do que implica não conseguir fazer nenhum tipo de atividade de forma regular, seja pelos dias em que se está com febre, ou pelo estado de prostração em que a doença nos deixa durante alguns dias, a própria carga viral associada à Covid-19 pode trazer assim de surpresa consequências diretas para o corpo, pulmões, para o sistema cardiovascular, sistema imunológico, renal, por aí fora. Uma agressão ao coração por parte do vírus pode mesmo levar a uma repentina intolerância ao exercício físico, ou até pode precipitar alguma doença pré-existente. E se a Covid-19 deu origem a algum tipo de lesão pulmonar, então a fadiga pode mesmo persistir durante um longo período de tempo, difícil de aturar.
Perante estas considerações, pode-se com certeza afirmar que a existência anterior de uma prática constante de exercício físico e o regresso gradual a esse tipo de atividade são importantes para a recuperação da Covid-19, com os óbvios benefícios físicos e mentais. Mesmo assim, o risco de poder ter algum tipo de complicação não deve ser descurado.
Assim sendo, aquilo que devem fazer, e que eu fiz também, é primeiro que tudo tentar determinar qual o nível de risco em que se inserem. E para isso podem começar por separar o risco em 3 níveis:
No nível de risco baixo estão as pessoas com menos de 50 anos de idade, assintomáticos ou com sintomas muito leves que tenham desaparecido no máximo em 7 dias. Estas pessoas podem recomeçar a atividade física de forma gradual, e desde que não seja de forma competitiva.
As pessoas com risco médio são pessoas que têm algum tipo de comorbilidade, que tenham tido sintomas mais prolongados, por mais de 7 dias, ou sentiram dor torácica, mesmo não tendo necessitado de internamento hospitalar. Neste grupo é perfeitamente normal estarem incluídos atletas de resistência, ou até mesmo atletas de elite.
As pessoas no grupo de risco elevado são todas aquelas que necessitaram de internamento hospitalar, mesmo que o problema principal não tenha sido respiratório.
Depois de determinado qual o nível risco, devem passar à avaliação física ou médica.
As pessoas que estão num nível de risco baixo não necessitarão à partida de nenhum tipo de avaliação especial para voltarem às suas atividades físicas regulares. No entanto, pelo que percebi, recomenda-se um período de cerca de 2 semanas sem sintomas, antes de voltar a praticar atividade regular. É, digamos assim, um período de regresso, em que a coisa deve ser feita de modo muito leve e controlado.
As pessoas no nível de risco médio devem sem sombra de dúvida fazer alguns exames médicos, pelo menos um eletrocardiograma, ou um raio-X ao tórax, ou algum outro exame recomendado pelo médico.
E as pessoas que estão no nível do risco elevado devem, como é óbvio, ser avaliadas por um especialista adequado, como um cardiologista, um pneumologista, e como fazer exames mais elaborados. Também devem estar particularmente atentos a alguns sinais de alerta, como dores no peito, falta de ar, edema nos membros inferiores, taquicardia, dispneia, etc. Se sentirem algum destes sintomas, avancem por favor para uma investigação mais profunda.
Independentemente do que disse anteriormente, o regresso à atividade física depois de um período de paragem forçada deve ser feito sempre de forma gradual. Podem começar com atividades de 20 ou 30 minutos de intensidade baixa ou moderada, sempre a monitorizar o cansaço ou alguma falta de ar repentina. Estes dois sintomas podem não significar nada e ser só sequelas da doença, originando um esforço maior, e por isso mesmo é que o aumento das atividades deve ser sempre feito de forma muito gradual, misturando de preferência exercícios de resistência com “cardio”, que pode ser corrida na passadeira ou elíptica. Se quiserem correr na rua evitem as horas mais frias, porque respirar com tempo muito frio já custa sem Covid, mais ainda se estiverem a recuperar da doença.
O regresso à atividade física depois de uma paragem forçada por causa de uma doença qualquer, não só depois de se ter tido Covid-19, é de particular importância tanto para a saúde física como mental de qualquer pessoa. No entanto, caso pretendam voltar às corridas, ao ginásio, à vossa modalidade preferida, e se estiveram parados por causa da Covid-19 em particular, devem fazê-lo com cautela e de forma muito gradual, mesmo que se sintam em plena forma, prestando atenção a qualquer tipo de sinal diferente do normal (do vosso normal, claro).
No meu caso, já passou mais de uma semana e ainda vou com calma, muita calma. Temos tempo… 😉
Bom regresso, bons treinos e se tiverem dúvidas já sabem, enviem uma mensagem ou dêem uma apitadela!